Filhos do Império - Chapeuzinho Vermelho (Livro Um)

Capítulo Vinte e Sete - A Elite

Alfred analisou bem a menina da capa vermelha, não havia dúvida alguma em suas palavras e nem em seus olhos, obviamente ele já esperava tal pedido vindo dela, Charlotte não era o tipo de pessoa que fugia a um desafio e sem dúvida aquele era o maior que se apresentava até aquele momento, era algo que alterava tudo o que ela sempre acreditara ser. Por fim o rapaz assentiu e ajustou a postura.

-Realmente acho que está na hora de você conhecê-los.

-E quanto às ordens de Kyle? —Ela quis saber e Alfred deu de ombros.

-Suas ordens são mais imediatas que as dele. —O sorriso torto, que Char sabia indicar uma piada, surgiu nos bonitos lábios de Alfred enquanto se colocava de pé. —Como eu disse, você é da Elite, basta uma palavra e você anula mesmo a ordem de Kyle.

Alfred a viu sorrir enquanto se erguia, logo enfiar as mãos nos bolsos da calça e encarar o céu por um momento. A capa vermelha estava inflando levemente com o vento e o longo cabelo dançando de acordo com a brisa. Quando ela voltou a encará-lo os olhos verdes não deixavam espaço para dúvida, Charlotte tomara sua decisão e ele apenas seguiria o que a garota de olhos sagazes ditasse.

-É bom saber.

-Só não tente abusar de mim. –Ele provocou, a fazendo sorrir um pouco.

-Vou pensar com carinho sobre isso. –Provocou e Alfred sacudiu negativamente a cabeça, logo o sorriso desapareceu, a fazendo encará-lo com mais atenção e curiosidade.

-Aconselho você a tomar cuidado, Char. —Ele alertou, mas ainda assim trazia a típica tranquilidade que somente ele poderia ter. —Algumas pessoas da Elite são... Complicadas e geralmente nada sutis com novatos. –Charlote assentiu e sorriu em seguida, o fogo ressurgindo nos olhos verdes e Alfred percebeu a diferença de postura e atitude.

-Bem, vamos pagar pra ver. –Ela disse.

-Como desejar. –Concordou, espelhando o sorriso dela.

Apesar do que Alfred com tanta frequência ouvira Kyle falar, tanto ele quanto Christopher estavam ansiando, apesar de tudo, que Char finalmente descobrisse a verdade. E foi isso que levou o rapaz a tomar a decisão de guiá-la, não pelas vielas do Vale Vermelho, mas pelo coração do lugar, sabia que ela iria apreciar a vista e conhecer um pouco mais do ambiente.

As ruas estavam movimentadas, as casas abertas, os comércios cheios, pessoas andando de um lado para o outro e crianças correndo ali perto, sem contar nos diversos odores misturados, mas foi o cheiro de pão quente que fez o estômago da menina roncar e ela percebeu que nem lembrava a última vez que comera alguma coisa. Alfred viu a expressão desgostosa dela e riu.

-Vamos lá, Chapeuzinho, vamos comer alguma coisa. –Alfred lhe chamou e ela sorriu. Logo os dois entravam na padaria, onde diversas fragrâncias encheram suas narinas e fez sua boca salivar, mas o mais presente era o cheiro conhecido de canela.

-Acho que eu poderia comer um leitão inteiro agora. –Ela falou, o fazendo rir e Charlotte sorriu, gostava da risada de Alfred desde a primeira vez que a ouvira.

-O que você vai querer?

-O que você me sugere? –Ela brincou e ele sorriu.

Charlote ainda comia um dos pãezinhos recheados por um creme doce, o qual não fazia ideia de como chamava, enquanto caminhavam pelo centro do Vale Vermelho, os olhos dela varriam as ruas e ela caminhava como se dominasse o mundo. Alfred gostava disso, de ver que não importava quão ansiosa ou nervosa estivesse, ainda era uma perfeita imperatriz.

Os moradores do Vale a encaravam de forma curiosa, principalmente depois que viam quem caminhava ao seu lado. Alfred trazia aquela despreocupação preguiçosa em seus movimentos, mas os olhos mantinham um constante alerta de perigo, que pedia uma distância segura e as pessoas pareciam respeitar isso. Ele demorara a conquistar o respeito de muitos indivíduos dali, já que chegara muito jovem, entretanto quando começaram a ver que ele andava com algumas das pessoas mais influentes do lugar, acabaram começando a olhá-lo de outra forma, não era como se o rapaz desejasse ser muito conhecido, gostava de se manter andando nas sombras, sem atenção, era mais fácil e ele bem sabia disso. Gostava de ser o rapaz preguiçoso e relaxado que quase ninguém se preocupava, contudo sabia que as pessoas o respeitavam e era o suficiente para mantê-las em uma boa distância.