Capítulo Vinte e Nove - Flores

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Charlotte ficou estática por um momento, sentindo a cabeça latejar fortemente e fechou os olhos por um segundo, tentando organizar as ideias, mas parecia que o ar lhe faltava e que sua perna não a sustentaria por muito tempo. Ela inspirou lenta e longamente, até sentir uma mão forte lhe tocar. Alfred notou que a cor sumira do rosto dela e se aproximou, espalmando a mão no centro de sua costa e se inclinando, para lhe falar no ouvido e ninguém mais ouvir.

-Você está bem? –Alfred sussurrou em seu ouvido, fazendo o lábio roçar gentilmente em sua orelha, o hálito quente causou cócegas e os pelos de sua nuca arrepiaram.

Char se conteve para não estremecer levemente devido ao arrepio repentino e assentiu uma vez, abrindo os olhos que pareciam muito mais claros que o normal, quase verde-menta. Charlotte não viu direito, pois sua visão estava embaçada, contudo sentia os olhares de todos sobre ela e Alfred.

-Pelo visto ela já o encontrou. –Char ouviu alguém cochichar e arqueou uma sobrancelha.

-Encontrou a quem? –Exigiu saber, olhando na direção de onde vinha a voz feminina, sem deixar que ninguém notasse que não conseguia distinguir as formas a sua frente.

Alfred viu Margô se mexer desconfortavelmente em sua cadeira, mas devolver o olhar firme de Char, como se realmente pudesse encarar uma Anciã. Ele percebeu os profundos olhos castanhos de Margô, que pareciam cheios de maldade velada. Mas sabia que se a outra conhecesse minimamente Charlotte, nem mesmo a provocaria por medo de como ela poderia revidar.

Alfred, assim como praticamente todo Lobo, não conhecia muito a respeito dos Anciões, mesmo Kyle tinha informação bem raso sobre eles, já que isso não era assunto que atingia diretamente a Matilha. Dentre todos que o rapaz conhecia, quem melhor sabia sobre era Christopher e provavelmente um dos únicos Lobos a ter o conhecimento de como chegar até os últimos três Anciãos residentes do Vale Vermelho.

-Talvez eu não seja a pessoa mais indicada a revelar. –Disse Margô e Char notou o risinho em sua voz.

-Se não acredita ser a mais indicada, não deveria começar a falar do que acha não saber, não concorda? –Char não estava se sentindo bem e isso fez sua irritação piorar. –Se pensa não saber das coisas, você cala a boca para não dizer nada desnecessário.

-Margô é jovem demais e tem que aprender a falar menos. –Osíris comentou e Alfred percebeu que ele parecia muito mais interessado em Char, a olhando fixamente e a estudando tão meticulosamente que parecia poder dissecar a menina com os olhos.

-Você irá ser encaminhada até os Anciãos, Charlotte. –Singrid comentou, sem muita vontade. –Eles quem dirão o que você tem de saber.

-Diga a Christopher para levá-los até eles. –Osíris completou. A visão começava a voltar ao normal e ela viu aquele azul abrasador lhe analisando.

-Levá-los? –Fora Alfred quem fez a pergunta, já que Char estava confusa com todo o ocorrido.

-Eles irão querer conhecê-lo, Alfred. –Os olhos azuis focaram o rapaz e havia um brilho tão intenso ali que o fez querer puxar Char e sair imediatamente daquele salão.

Char suspirou e voltou a si, os olhos de Osíris continham a medida certa de preocupação, curiosidade e sagacidade para assustar a maioria das pessoas, mas ela não estava disposta a ser um desses indivíduos e principalmente nunca fora uma desses seres que baixava a cabeça, não se tornaria naquele momento. Foi o que a fez assentir lentamente e depois abriu um sorriso doce que convenceria a todos, deixando os músculos relaxarem e o tom de voz amável.

Filhos do Império - Chapeuzinho Vermelho (Livro Um)Onde histórias criam vida. Descubra agora