Charlotte acordou com o corpo ainda pesado e a cabeça latejando. As palavras que Singrid lhe dissera no dia anterior serviam para manipular um Feiticeiro que estivesse fora de controle, lhe permitindo recobrar os sentidos, mas não sem sequelas temporárias e realmente irritantes. A dor de cabeça e no corpo a deixavam aborrecida e as recordações sobre a conversa que tivera com a mãe pareciam retirar qualquer ânimo para fazer algo. Sem contar que a manhã estava fria e a menina se aconchegou mais nas cobertas, nem querendo cogitar a possibilidade de sair dali.
-Você sabe que essa preguiça não vai levar a canto algum, certo? –Mark quis saber, entrando no quarto e Char sorriu um pouco, o cabelo vermelho estava incrivelmente desalinhado e o rosto ainda mostrava o quão sonolento estava. Mark trazia duas xícaras grandes nas mãos.
-Olha só quem fala. –A menina resmungou.
-Alfred teve que sair e pediu que eu desse uma olhada em você.
-Desde quando preciso de dama de companhia? –Ela rolou os olhos, sentando com calma na cama.
-Primeiro eu sou um cavalheiro de companhia, se bem que ficaria magnífico sendo uma dama com um elegante vestido. –Ele brincou a fazendo sorrir. –E você precisa de companhia desde que passou a noite com febre e resmungando palavras que ninguém conseguia compreender.
-Eu falei tão baixo assim? –Ela sorriu.
-Não, na verdade falou bem alto em alguns momentos. –Char fez careta, vendo o ruivo sentar na ponta de sua cama. –Você estava falando uma língua diferente, Lottie. –Informou lhe estendendo a xícara de café.
-Como assim? –Ela olhou para o líquido escuro, cogitando a possibilidade de bebê-lo, mas ainda sentindo o gosto desagradável de quem acaba de acordar na boca.
-Tem uma língua muito antiga, que os velhotes citaram uma vez e eu acabei ouvindo por alto, eles chamam de Radva.
-E o que é exatamente isso? –Ela quis saber ainda encarando o café.
-Não posso dizer muita coisa sobre, mas o que sei é que Radva é a língua dos antigos deuses. –Ele fez careta.
-Dos deuses? –Ela semicerrou os olhos e o encarou. –E como, pelos mil demônios, eu estava falando esse tal Radva?
-É tida como a língua dos deuses antigos, mas alguns Feiticeiros falavam. –Ele bagunçou ainda mais o cabeço cor de fogo. –Diziam que era assim que eles se comunicavam com os deuses. –Charlotte riu sem humor real.
-E eu tava me comunicando com eles, por acaso?
-No seu caso acho mais fácil estar invocando os demônios a qual tanto fala. –Ele replicou com um sorriso brincalhão, mas os olhos traziam certa preocupação. –Como disse, eu não posso falar muito sobre isso porque não tenho conhecimento suficiente, mas... –Suspirou. –Eu sugiro que seja a primeira coisa que você fale para os velhotes quando voltarmos para o Vilarejo.
-Algum deles fala Radva? –Ela mordeu o lábio inferior.
-Não, mas sabem onde encontrar quem fala. –Char baixou os olhos e encarou o cobertor azul desbotado sobre a cama.
-Você acha que eu realmente falei essa língua ou eu só tava falando coisas sem sentido?
-Você, Lottie, é a única Feiticeira que usa uma esmeralda tão poderosa quanto os Feiticeiros antigos. –Ele assegurou, a fazendo encará-lo novamente. –Simone, antes de sairmos do Vilarejo, disse que talvez você seja tão poderosa quanto Magera.
-Magera foi um dos cinco anciãos mais poderosos nos últimos três séculos. –Charlotte falou recordando do que lera nos livros na casa dos Anciãos.
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Filhos do Império - Chapeuzinho Vermelho (Livro Um)
FantasyREVISÃO EM ANDAMENTO Todos conhecem os encantos da garota de lindos olhos verde-grama, aquela que cativa todo mundo com seu doce sorriso, gentileza e compaixão. Chapeuzinho Vermelho, todos a amam, a nobre e boa garota, não é? Essa é a história que...