Capítulo Seis - Enferma

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Charlotte andava pela Floresta e parou ao encontrar um lago com a água de um leve e cristalino marrom, o que a fez se agachar em sua borda e pegar o líquido com as mãos em cuia para lavar o rosto. A noite estava absurdamente quente e silenciosa, não havia nem mesmo a cantoria habitual dos insetos, mas ainda se sentia tranquila, o que a fez se erguer e alongar o máximo possível, sentindo o corpo relaxar após o movimento.

-Me pergunto por que sempre temos que nos encontrar na Floresta. —Disse ela ao escutar um galho se quebrar ali perto. –Podíamos nos ver em qualquer canto, mas ainda assim é na Floresta.

-Perguntas demais. —Disse divertido e ela bufou.

-Grande coisa. —Rebateu ajustando a postura e se afastando do lago. —Você nunca responde as minhas perguntas.

-Você parece irritada hoje. —Ele pareceu curioso com sua atitude.

-E se eu estiver? —Ele riu.

-Teremos que dar um jeitinho nisso.

Antes que Charlotte pudesse questionar o que ele queria dizer com aquilo, estava presa em seus braços e os lábios do homem beijavam levemente seu pescoço. Mas aquele cheiro que inundou suas narinas não era seu cheiro de sempre, ela fez careta, era completamente diferente, todavia lhe agradou de algum modo, contudo logo desapareceu e o odor comum voltou a imperar. Char poderia se entregar aos carinhos que ele fazia para tentar acalmá-la, contudo ouviu o rugido ali perto, fazendo os uivos iniciaram impiedosos, quase como se Lobos estivessem sobre eles.

-Vá! —Ordenou.

Charlotte sabia que era um sonho, mas não conseguia controlar as pernas, que se esforçavam o máximo possível para manter a distância que logo seria quebrada pelo Lobo. Char sentiu, instantes depois, as garras arranharem suas costas e as patas pesadas a derrubarem, ouviu e sentiu o rosnado que reverberou pelo seu corpo, sentiu o hálito quente do Lobo próximo a seu ombro, então os dentes começaram a afundar em sua carne e ela gritou, gritou desesperadamente por causa do pânico e dor, gritou com toda a força que lhe restava.


Charlotte sentiu braços firmes a segurando pelos ombros, tentando mantê-la quieta e segura, para que não se machucasse nas pedras ao lado de sua cabeça. O suor escorria por seu rosto, costa e seios, fazendo arrepios surgirem ao recordar o sonho e o ombro arder no local em que fora mordida durante o pesadelo, como se os dentes ainda estivessem presentes ali.

-Acalme-se. –Pediu ele, enquanto ela respirava com dificuldade.

-De-desculpa. —Gaguejou ela, ainda confusa e parando de se debater, enquanto sentiu a garganta arranhar pelo esforço de pronunciar o pedido.

-Pesadelo? —Questionou a soltando com cuidado como se temesse que seu corpo não resistisse a algo e ela assentiu.

-Por que você estava me segurando desse jeito?

Char não o encarou, estava olhando para a entrada da caverna, onde a água pingava debilmente, mas a chuva em si parara. A questão não era por não saber a resposta, estava simplesmente tentando encontrar uma maneira de ocupar sua mente e afastar as recordações do sonho, mesmo Alfred sabia disso.

-Você estava se debatendo, foi o único jeito. —Seu tom não trazia nada de diferente, mesmo quando estendeu o cantil de água.

-Entendo.

Filhos do Império - Chapeuzinho Vermelho (Livro Um)Onde histórias criam vida. Descubra agora