Capítulo Sessenta e Cinco -Fogo e Sangue.

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No fim das contas não dormiu praticamente nada após a saída de Alfred, já que sempre que fechava os olhos a mulher de olhos de gelo lhe surgia em sua mente, furiosa por tudo o que a Coroa tentava roubar de seu mundo, a sua ira era tão genuína e potente que fazia Char senti-la e acordar. Não era como pressentir a mulher que rondava com o vento, essa era poderosa, devastadora e protetora de certo modo, mas não dando para distinguir sua humanidade, era quase irreal, ao contrária da mulher de olhos de gelo, ela gritava poder, ódio e principalmente humanidade. E de alguma forma Charlotte sempre se incomodou em sentir o quão a humanidade de uma pessoa podia ser cruel.

A garota rolou na cama e respirou fundo. O sol ainda não brilhava do lado externo, ela tinha certeza, apesar de ainda nem ter olhado pela janela, o que a fez decidir que precisava de uma caminhada para espairecer e tentar se livrar do sabor ácido do ódio que a mulher de olhos cor de gelo a deixara. Se não conseguiria descansar, então iria gastar energia.


Era fim de uma nublada e fria madrugada, o que fez Char puxar a capa vermelha mais firme ao seu redor, tentando se proteger do frio, que beijava sua face e pescoço. O vento de antes do amanhecer sempre fora, por mais frio que estivesse, confortável pra ela. Charlotte caminhou sem rumo, deixando a mente vagar por sua infância, até notar que estava em frente à casa de Christopher, o que a fez sorrir e ladear a residência, indo até a janela do lado oeste e começar a bater forte e repetidamente, por fim escutando o barulho de algo pesado contra a estrutura de pedra, era a barra de aço sendo retirada para poder abrir a janela. O cabelo era um emaranhado que a fez recordar de um ninho, os olhos azuis focaram o rosto da outra, corado pelo frio.

-Que merda faz aqui? –Ele perguntou de mal humor. –O dia nem amanheceu ainda, eu tava dormindo.

-O que me diz de darmos uma volta? –Ela convidou sorrindo e Harry notou haver algo errado e suspirou.

-Você só me dá trabalho. –Ele resmungou, dando um passo atrás e batendo a janela na cara dela.

Charlotte riu e caminhou para a porta de entrada, se encostando na parede fria de pedra e fechou os olhos, deixando o vento gélido soprar e bagunçar seu cabelo. O silêncio amigável e familiar, a qual serviu para pensar em como sua vida estava mudada, durou alguns minutos.

-É bom que seja importante. –Harry resmungou ao seu lado, a fazendo saltar de susto e ele rir.

-Eu não ouvi a porta abrir. –Ela esclareceu, olhando confusa para a entrada.

-É porque eu pulei a janela. –Ele disse tranquilamente e ela riu. –Vem, Chapeuzinho, vamos dar uma volta. Harry passou o braço pelos ombros da irmã e a puxou para junto de seu corpo, começando a caminhar. Andaram por alguns minutos em total silêncio, somente aproveitando a companhia do outro e cada um relembrando de momentos da infância ou juventude.

-Você lembra quando fiz 10 anos? –Ela perguntou com um tom risonho, de repente. –Lembra que pulei a janela da minha casa no meio da noite e corri pra sua?

-Quando você chegou, eu já estava te esperando na frente de casa. –Ele riu.

-Lembra que a tia Renata fez aqueles biscoitos e nós comemos todos antes que eles acordassem? –Harry riu. Tinha muitos momentos com Charlotte, mas havia algo tão bonito em lembrar, principalmente quando sua mãe era citada.

-Quando mamãe acordou, a primeira coisa que fez foi ir no meu quarto nos procurar e acusar. –Ele disse rindo.

-Você tentou negar, mas tinha farelo no chão. –Ela riu.

Filhos do Império - Chapeuzinho Vermelho (Livro Um)Onde histórias criam vida. Descubra agora