Capítulo Sessenta e Sete - Maldita e Traiçoeira

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Suzana entrou no salão de cenho franzido, nem um pouco satisfeita por se encontrar ali, mas sua expressão suavizou ao ver Charlotte, contudo sentiu o choque também, sua garotinha era uma perfeita Anciã e magnifica Imperatriz, uma combinação tão perigosa e traiçoeira que a fez temer pelo que Char esperava dela. Os olhos da garota estavam claros e em brasa, quase inumanos, toda a confiança e majestade da menina era surreal, a fazia imaginar como seria ter criado suas filhas no Império Central, junto a sua família, correndo pelos jardins da casa de seus pais ou mesmo pelos enormes jardins do Castelo da família Imperial, entretanto não havia possibilidade de ocorrer, Katherine já morrera e sua caçula era o tipo de garota que jamais iria querer crescer e ser educada em meio a Corte. Todavia não tinha como negar sua realeza, não a vendo daquele modo.

-Seja bem-vinda. –Charlotte cumprimentou doce demais, mas não amigável.

-Em que posso ser útil? –Suzana questionou a filha, sabendo que havia algo por trás daquela gentileza, afinal a menina fora criada por ela.

-Você faz ideia do motivo de estar aqui? –Senhora Ornet quis saber e Suzana respirou fundo.

-Na verdade não, Amélia. –Ela foi o mais calma que pôde, mesmo que não gostasse da velha. –A última vez que estive aqui foi para ser exilada, então não sei o porquê de meu retorno.

-Não se preocupe. –Char chamou. –Eu posso esclarecer isso. –Suzana franziu o cenho novamente.

-E qual a razão, minha... –A expressão de Charlotte mudou quase imperceptível, mas o suficiente para fazer Suzana saber que chamá-la de querida era uma péssima escolha. –Por que estou aqui, Charlotte?

Char se perguntava o quão desprezível era por não conseguir perdoar a própria mãe, contudo não conseguia ignorar o que Suzana fizera, mesmo que já tivessem passado tantos anos. Obviamente compreendia o desejo de querer voltar para a família, mas não permitindo que outras pessoas que lhe eram conhecidas fossem torturadas e assassinadas no meio do processo. Essa era uma das poucas diferenças que tinha com a mãe, ela não permitia que indivíduos que lhe eram próximos fossem assassinados por sua causa.

-Creio que você recorde que eu disse que em breve teria uma missão pra você. –Direta como sempre. Suzana realmente recordava.

-Sim, lembro bem. –Lembrava vividamente que ela dissera para não esperar que fosse amigável também.

-O que tenho pra você é um retorno pra casa.

-Como? –Suzana pareceu mais chocada do que já se sentira desde o reencontro com a filha. –Por que eu retornaria para Ventanis agora? –Char riu baixinho.

-Você me entendeu mal. –A encarou seriamente mais uma vez. –Você está sendo convidada a retornar para o Império Central, para a casa de seus pais.

-E por que eu faria algo assim? –Suzana não sabia bem o que pensar, sentia um misto de sentimentos que somente a deixavam confusa.

-Porque preciso de um método de entrar no Império Central e esse meio é você.

-Eu sou sua mãe, não um bilhete de troca! –Charlotte riu baixo, mas audivelmente, tapando a boca levemente com a costa da mão, a sutileza do movimento era encantadora.

-Não disse que você será um bilhete de troca, por favor, não me compreenda erroneamente. Eu jamais daria a vida de alguém em troca de uma passagem até algum lugar. –Char falou ainda sorrindo, mas nada amigável e todos perceberam a indireta. –Há uma Lei entre os Feiticeiros que diz "O Exilado que desejar reintegrar no círculo de Elite, deve se sujeitar a cumprir uma missão em nome de um ou para um Ancião. Ao concluir sua tarefa voltará a ser um Feiticeiro de Elite e terá seu erro perdoado pela Lei."

Filhos do Império - Chapeuzinho Vermelho (Livro Um)Onde histórias criam vida. Descubra agora