Capítulo Nove - Complicações

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Após quatro dias de caminhada dura, os pés de Char estavam cheios de bolhas, não costumava andar tanto, porém não reclamava, havia algo em Alfred, que estava se esforçando ao máximo para alcançar um lugar habitável e seguro para estarem durante a Lua Cheia, que a fazia não reclamar, por tanto ele não tinha ideia de como estavam os pés da menina, para ser completamente franca, nem mesmo ela sabia como ainda estava conseguindo andar naquele ritmo. Às vezes, quando a exaustão lhe dominava, ela parava pra respirar, como fazia naquele instante, se apoiando numa árvore e deixando os pés, que pareciam estar mergulhados em brasa, descansarem. A garota fechou os olhos e respirou fundo.

-Charlotte? —Alfred chamou e ela o encarou, vendo-o bem a sua frente e lhe olhando preocupadamente.

-Oi? —Se recompôs o melhor possível.

-Você está bem?

-Sim. —Ele a olhava em dúvida. —Só tropecei e doeu um pouco. —Forçou um sorriso.

-Certeza? –Char assentiu com tranquilidade e descartou a frase que sabia que seguiria, o fazendo suspirar em frustração e voltar a liderar o caminho, responsabilidade que tomara para si desde o fim da caravana.

-Tem um córrego aqui perto, iremos passar por lá para pegar água, que a nossa está no fim. Mas não podemos acampar por aquelas bandas, já que não sabemos que tipo de gente passa naquela área.

Charlotte notou algo enrolar em seu pé, sem nem saber o que e de onde surgiu, mas só percebeu tarde demais e quando seu corpo sofreu o impacto de encontro ao chão. Xingou alto, tanto pela irritação quanto dor em seus pés. Seu corpo estava exaurido e ela sabia que em algum momento cobraria pelo exercício redobrado, só não imaginava que aconteceria tão cedo.

-Você tá bem? —Alfred se apressou para ajudá-la.

-Sim.
-Ajuda pra levantar? —Estendeu a mão e ela pegou. Charlotte sentiu a dor pulsar através de cada ponto de seu corpo e se apoiou no rapaz, respirando fundo e tentando acalmar a agonia e as lágrimas que acumularam nos cantos dos olhos.

-Caralho. –Soltou em um silvo de dor.

-Acho que você torceu o tornozelo. —Charlotte soltou um riso mal humorado devido a constatação dele.

-Ótimo! Era a porra de tudo que faltava. —Disse irritada.

-Não foi sua culpa. —Falou levemente e a ajudou a sentar.

-Eu poderia ter prestado mais atenção. –Bufou. –Fui derrubada por uma raiz. Uma raiz!

-Isso não foi sua culpa, Charlotte. —Repetiu e ela bufou. Char o viu descer a mão para a bota dela e puxou o pé rapidamente.

-O que pensa que vai fazer? —Questionou e ele franziu o cenho.

-Ver a situação que seu tornozelo está.

Merda. Merda. Merda.

Era a única coisa que pensava enquanto mantinha os olhos neve, que a encarava seriamente. Dante já havia desistido e sentado à distância, parecia entretido com as folhas de uma árvore e os ignorava completamente, ele brincava com as folhas como se elas estivessem revelando uma boa piada.

-Tenho que contar algo antes. –Alertou e ele sorriu levemente.

-O que? Você tem dois pés esquerdos? —Zombou, começando a desafivelar a bota da menina.

-Isso seria mais aceitável, na verdade. –Comentou, atraindo o olhar curioso dele. –Mas, na verdade, durante esses dias de caminhada, meus pés ficaram machucados... —As mãos de Alfred travaram na última fivela e a raiva em seu olhar foi evidente. –Bem machucados.

Filhos do Império - Chapeuzinho Vermelho (Livro Um)Onde histórias criam vida. Descubra agora