Capítulo Quarenta e Sete - Um Soluço, Uma Maldição e uma Prece.

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Charlotte se aconchegou mais perto da fogueira, a panela de fogo era salvação durante as noites húmidas e aquela estava absurdamente gelada, a neve ainda caia, mas com menos intensidade que antes. A menina se enrolou o máximo possível dentro do saco de dormir, cercada por suas capas, contudo nem aquilo era o suficiente para lhe aquecer, por um momento desejou estar dentro de um dos malditos quartos de pedra.

-Você precisa dormir um pouco. –Mark comentou, estavam sozinhos no pequeno acampamento, já que Alfred necessitou se afastar um pouco.

Char encarou o ruivo e sorriu minimamente. Mark parecia lhe olhar com mais respeito que antes, não consideração pela parceria que criaram, já que essa era baseada em deboche e diversão, sim pela Anciã que estava se tornando e que o ruivo reconhecia o prestígio.

-O frio dificulta as coisas, sabia? –Ela lhe sorriu.

-O frio? –Ele sorriu zombeteiro e ela rolou os olhos, se posicionando para olhar melhor para o ruivo. Mark sabia que ela não dormia bem desde a noite que Christopher e Kyle brigaram, temia que o Alpha se aproveitasse da insubordinação de seu pai para fazer algo contra ele.

-Estou preocupada com Christopher, somente isso. –Mark assentiu lentamente.

-Seu pai sabe o que faz e...

-Ele não deveria ter ido com Kyle. –Ela o interrompeu.

-Talvez, mas Christopher ainda é da Matilha. –O rapaz disse. –Além do mais, todos os Lobos confiam nele e ele faz questão de manter isso assim.

-Eu sei. –Ela suspirou. –Mas e se Kyle decidir fazer algo contra ele... –Mark viu o fogo subir e a menina fechar os olhos, respirar fundo para controlar as emoções e o fogo retornar ao lugar.

-Kyle é muita coisa, mas não burro ao ponto de ir contra uma Anciã, ele viu do que você é capaz, Lottie. Todos viram. –Ele sorriu maldosamente. –Quem é estúpido de enfrentar alguém que pode lhe matar sem nem mesmo tocar? –Char bufou.

-Talvez dormir seja o melhor a fazer mesmo. –O comentário fez o rapaz rir baixo.

-Bela escolha. –Ele se deitou no seu saco de dormir e espreguiçou. –Estou extremamente sonolento.

-Conte-me uma novidade, meu amigo. –Alfred provocou, entrando em seus campos de visão e sentou próximo dela.

-Você bem que poderia tocar, não é? –Ela perguntou em uma voz baixa.

Alfred sorriu e sem uma única palavra pegou o alaúde e atendeu a vontade da menina de olhos verdes, que parecia tão confortável, apesar do frio terrível, o escutando tocar. Ao fim da segunda música, Char teve certeza que Mark dormira e isso a fez sorrir diante a imagem serena do ruivo, que aparentava uma tranquilidade incomum.

-Quer que eu toque algo específico? –O homem ao seu lado perguntou por fim, dedilhando as cordas do alaúde e a encarando calmamente, o que a fez sorrir.

-Me surpreenda, Lobinho.

Alfred deu um sorriso de canto e pensou por um momento, sem parar de dedilhar as cordas. Havia uma música, era triste e dolorosa, mas com um toque inconfundível de magia. Coração de Fogo era uma canção difícil de ser tocada porque todos os músicos diziam que era algo que havia total necessidade de sentimentos pela canção, sendo que o homem tinha a exata emoção, pois o fazia recordar de sua mãe, que fora com quem aprendeu aquela música específica, embora não contasse uma história feliz, a mulher vivia a cantarolar pela casa.

Char ouviu com atenção as notas eram sofridas, furiosas, com um toque de pavor em algumas partes e de uma beleza única, fazia aquela Coisa adormecida dentro dela despertar para sentir a emoção que Alfred empregava em cada nota. Era de uma beleza inconfundível. A música terminou como um soluço de dor, uma maldição e uma prece, Char jamais conseguiria explicar como sabia aquilo, mas era um apelo inconfundível.

Filhos do Império - Chapeuzinho Vermelho (Livro Um)Onde histórias criam vida. Descubra agora