Charlotte encarou os olhos do pai, aguardando por sua explicação, que parecia terrivelmente difícil de ser verbalizada, já que cada vez que ele abria a boca, a fechava em seguida, sem emitir uma palavra sequer, nem mesmo som escapava, mas esse pequeno momento permitiu que a garota organizasse a própria mente e se preparasse para aquela conversa, que fora adiada por anos, estava na hora de começar.
-Comece do motivo de ter ido embora. —Decidiu a menina, tentando dar um caminho para ser seguido. Christopher assentiu e respirou fundo, parecendo tomar coragem agora que haviam estabelecido uma rota.
-No dia que sua irmã morreu, fiquei furioso...
-Todos ficamos. —Cortou ela e o viu assentir, mas o olhar estava vago e distante.
-É, todos ficamos. —Concordou e fixou os olhos na filha caçula. —Só que eu decidi seguir o Monstro que havia matado Katherine. –O nome soara pesado e saudoso, mas muito distante, como se ele estivesse à deriva de si mesmo, se obrigando a colocar as cartas na mesa e isso o desgastasse.
-E? –Christopher encarou Alfred, que estava em total silêncio, tentando não prestar atenção na conversa que se desenrolava a sua frente.
-Querem que eu saia? —Alfred se manifestou, notando o olhar de Christopher.
-Não! —Char dissera mais alto do que pretendia, estava nervosa, embora disfarçando bem. Ela o encarou por um minuto, em uma rápida e silenciosa conversa. —Você não vai arredar um dedo de onde está.
Alfred rolou os olhos, mas deu um sorriso de canto e assentiu de maneira compreensiva. Char parecia que enlouqueceria se ficasse sozinha com o pai, algo que Alfred imaginava ser absurdamente difícil, já que estaria do mesmo modo, caso fosse ele e sua mãe ali, contudo ele sabia que sua genitora estava morta de verdade.
-Certo. —Disse pra menina, que sorriu um pouco, parecendo se acalmar diante sua promessa de continuar ali. Char olhou para Christopher novamente, vendo-o observar a conversa que ela tivera com Alfred, notando que havia quase diversão nos olhos do pai e se conteve para não bufar.
-Prossiga. —Char pediu.
-Esperei você, Fernanda e Harry irem dormir, todos no seu quarto. —Informou e ela manteve o olhar, tentando afastar a lembrança daquela noite. —Lembro que antes de ir falar com Suzana, sentei na sua cama e contei uma história pra vocês, o único que ainda ouviu alguma coisa foi Harry, já que você e a Nanda já dormiam. —Ele deu um curto sorriso nostálgico. —Quando deixei seu quarto, fui até sua mãe e lhe disse o que pretendia.
-Deixe-me adivinhar. —Interrompeu ela, com um tom debochado. —Ela fez um escândalo?! Típico.
-Sua mãe estava nervosa, era de se esperar uma reação como aquela.
-E depois que ela se acalmou? –Charlotte conversava como se não estivesse enlouquecendo, mantinha a postura e tom calmo, como se fosse um diálogo corriqueiro, apesar de estar quase implodindo.
-Acho que ela nunca se acalmou, Charlotte. —Ele suspirou, recordando do encontro recente. —Mas eu não ia desistir, então falei que iria de qualquer maneira. —Christopher baixou os olhos e encarou as próprias mãos. —Suzana disse que se eu saísse por aquela porta, era pra eu nunca mais voltar.
-Mas você saiu, mesmo sabendo que poderia perder tantas coisas. —Não era uma pergunta. —Mesmo sabendo que deixaria uma filha tão nova pra trás.
Christopher ergueu os olhos para encarar a filha, achando que encontraria extrema raiva ou mágoa nos olhos verde-grama, mas se surpreendeu ao notar que não havia nenhuma dessas coisas, pelo contrário, havia certa curiosidade e determinação, assim como firmeza nas palavras que havia dito.
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Filhos do Império - Chapeuzinho Vermelho (Livro Um)
FantasyREVISÃO EM ANDAMENTO Todos conhecem os encantos da garota de lindos olhos verde-grama, aquela que cativa todo mundo com seu doce sorriso, gentileza e compaixão. Chapeuzinho Vermelho, todos a amam, a nobre e boa garota, não é? Essa é a história que...