Capítulo Trinta e Seis - Frieza

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A neve caia pesada sobre as casas de pedra do Vale Vermelho, fazendo Charlotte suspirar e arrumar a capa grossa de couro ao seu redor, quando Simone colocou sobre sua capa vermelha, brincou que era couro de Lobo, contudo a menina não a levou tão a sério, os pelos cinza eram macios e quentes o suficiente para que conseguisse chegar ao Vale naquela tempestade de gelo que se formava sem congelar. O capuz lhe cobria o rosto, mas os olhos verdes ainda estavam à mostra e atentos a tudo ao redor, ela esfregou as mãos enluvadas uma na outra e respirou pesadamente, sentindo Alfred a sua costa, protetor e firme, exatamente como quando lhe dera o recado que estava a lhe trazer de volta ao Vale de Pedra, nome que Mark dera ao local.

Enquanto atravessavam o Vale, Charlotte percebeu que as ruas estavam vazias e as casas fechadas, como se fosse um lugar abandonado, contudo as lareiras ainda soltavam levemente fumaça, anunciando que todos estavam se protegendo do frio na segurança de seus lares. As residências de pedra estavam cobertas pelos minúsculos cristais de gelo, as deixando esbranquiçadas e mais entediantes que o normal, pelo menos antes havia vida nas ruas.

-Não sei se prefiro isso aqui com a monotonia das pedras ou com a mesmice e frieza do gelo. –Comentou vagamente, ouvindo uma leve risada de Alfred e uma bufadela de Mark.

-Acho que nenhum é muito convidativo à primeira vista. –Alfred revidou, a fazendo dar um sorriso de canto.

-Nem a primeira, nem a segunda e nem a terceira. –Mark implicou.

-Pelo menos a comida é boa. –Char informou, encarando o ruivo por sobre o ombro. –Não fique tão emburrado, Mark. –Ela lhe deu um sorriso. –Pense no que ficar uns dias longe de Lauren lhe trará.

-Paz. –Ele disse enfatizando um ar sonhador, o que a fez sorrir, embora não houvesse diversão real ali.

-E isso não é bom?

-Eu não tinha pensado por esse lado, pra falar a verdade. –Ele deu de ombros.

-Eu gosto de pensar positivo. –Ela sorriu novamente e olhou para frente. –Você se verá livre de Lauren e eu me verei livre dos velhotes.

-É um bom ponto de vista. –O ruivo concordou por fim.

Charlotte conseguiu apagar a chama incandescente de fúria que lhe dominou por mais da metade da viagem do Vilarejo ao Vale Vermelho, naquele momento eram somente brasas quase extintas, o que lhe deixava mais tranquila. Ainda recordava da ventania derrubando árvores ao redor do Vilarejo e da correria de pessoas se trancando em suas casas com medo do que aquele vendaval provocaria.

Alfred a viu suspirar e ajustar a capa em seus ombros. Não seria algo fácil, mas ele bem sabia da necessidade de Charlotte passar por aquela experiência e foi com esse pensamento que o homem a viu empurrar a porta pesada da casa de Christopher, ouvindo os passos rápidos do pai vindo do corredor.

-Vocês demoraram. –Christopher comentou surgindo na sala enquanto Mark trancava a porta. –E trouxeram o Mark junto. –Ele pareceu levemente confuso.

-Mark é a única criatura que me dou bem realmente naquele Vilarejo, que gosta de Alfred e não liga pra mim ou para o que faço. –A menina informou, tirando a pesada capa que caiu com um leve barulho no chão. –O que é bom o suficiente. –Concluiu enquanto retirava a capa vermelha, que foi deixada no encosto do sofá.

-Achei que chegariam ontem. –Ele indicou o sofá próximo à lareira.

-Nós tivemos que prender a Charlotte no dia que ela recebeu a noticia. –Mark avisou. –Ela causou um pequeno estrago no Vilarejo. –O ruivo sorriu e se aconchegou no sofá. –Acho que Julian ainda está furioso com a árvore que caiu na casa dele. –O comentário fez Christopher arregalar os olhos. –E isso nos atrasou um pouquinho.

Filhos do Império - Chapeuzinho Vermelho (Livro Um)Onde histórias criam vida. Descubra agora