Chapter 56

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  A chuva ainda caía, embora com uma intensidade menor. Minhas roupas estavam encharcadas, mas eu teimava em sair da chuva.

  Eu estava parado do outro lado de uma rua deserta, de frente para uma casa abandonada e aparentemente suja. Ela era a única das redondezas, o que a tornava perfeita para a ocasião.
Sua fachada se mostrava antiga e acabada, quase caindo aos pedaços, mas pela janela pude observar que seu interior estava bem preservado.

  Me aproximei da porta e corri os olhos pelo número que a estampava apenas para confirmar que eu estava no lugar certo. Não que eu tivesse alguma dúvida à essa altura.

  Tentei ao máximo não fazer nenhum barulho e a porta, surpreendentemente, não rangeu quando eu a empurrei. Observei cada detalhe do que parecia ter sido uma elegante sala de estar. A decoração parecia estar no mesmo lugar durante os anos que se passaram, mas ainda se encontravam em perfeito estado. As paredes já estavam desbotadas, mas ainda conferiam elegância ao ambiente.

  Não só o cômodo, mas a casa em geral, tinha basicamente três cores predominantes: preto, marrom e um ou outro detalhe em dourado, o que contribuía para que o lugar ficasse ainda mais escuro, apesar de o dia ter apenas começado a entardecer.

  Enquanto eu ainda observava os móveis rústicos da sala, ouvi um barulho vindo do andar superior. Comecei a procurar uma escada e assim que a encontrei pude distinguir que os "barulhos" eram, na verdade, gritos.

  Subi a escada o mais rápido que eu pude e segui os gritos por um corredor, que me pareceu infinito. Cheguei em frente a um quarto que estava com a porta fechada, mas pude ouvir a conversa que se seguia dentro dele.

- Vamos, seja um bom menino. Prometo que não vai doer quase nada. - Era a voz inconfundível de Mikey, que acabou soltando uma gargalhada de escárnio.

- Para! Você não vai conseguir..- a voz de Frank se misturava aos seus soluços provocados pelo choro e aquilo partiu meu coração.- Daqui a pouco o Gee vai chegar e..

-Gerard não virá.

-É claro que ele virá! Ele vai..

- Você acha mesmo que ele se importa com você? Você é mesmo um idiota! Gerard nunca ligou para você. Nem por um mísero segundo!

  As palavras de Michael atravessaram Frank como uma faca passa por uma maçã e seu choro se tornou ainda mais forte.

  Eu, cansado daquilo tudo, empurrei a porta agressivamente e ela se rachou de imediato, com um estrondo mais que audível. Todos me olharam surpresos enquanto eu tomava coragem para continuar.

- Já chega, Michael! Seu jogo acaba aqui.

- Olha só quem veio se juntar a nós, Frankie! -meu irmão puxou Frank para perto de si rapidamente e passou um dos braços por seu pescoço, enquanto o outro imobilizava seus braços.

- Larga ele, Michael..

- Gee, me ajuda. Eu..

- Cala a boca. Os dois. Não quero saber desse "casinho" de vocês. Agora, Gerard..se me lembro bem te avisei para não me atrapalhar, não foi?

  Frank chorava ainda mais, desesperado, e lutava, em vão, para se desprender de Michael.

- Michael, vamos conversar civilizadamente. Deixa ele..

- Eu não quero papo, Gerard. Só quero que você saiba que tudo isso é sua culpa.

-Minha culpa?

- Você me condenou a essa merda de vida. Você tem ideia de quantas pessoas que eu me importava morreram? E eu aqui, sem saber se a minha hora um dia vai chegar.. Eu não posso ser assim Gerard. Não posso.

- É tão difícil entender? Eu só fiz isso para te ajudar!Você ia morrer, Michael!

- Me ajudar?! Eu prefiria ter morrido a viver desse jeito!

-Não fala isso..

-E agora, como castigo por todo o mal que você me causou, você vai assistir enquanto esse aqui morre.

-Michael, esquece isso. Você sabe que eu também odeio essa vida,mas..

- Até parece..

- Eu odeio cada dia. Cada hora. Cada segundo. O tempo não passa para mim, para nós. Eu sou sozinho. Não tenho ninguém. Nunca tive. Esse já é o meu castigo. Se eu pudesse voltar no tempo..

- Você não pode voltar no tempo. Mas você pode voltar a ser como era. Nós podemos voltar a ser os inseparáveis irmãos Way. Podemos recuperar nossa humanidade.

  Por um momento eu esqueci de toda aquela situação. Me esqueci de tudo e de todos e só pensei em como eu era antes disso tudo.

  Eu essa feliz. Eu era livre. Eu era..humano.

-Se eu pudesse...- balbuciei.

- Você pode, Gerard. - seus olhos brilhavam de um jeito estranho.- Se junte a mim. Nós podemos começar de novo. Sem mágoa, sem ressentimento..

-Como?

-Nós só precisamos tomar um pouco do sangue dele. E teremos nossa vida de volta.

  Minha vida de volta...

  Vida. E não essa existência incoerente e superficial. Minha vida. De novo. Família, amigos, sorrisos.. Paz.

  É disso que eu precisava.

  Paz.

- E aí, Gerard.. O que me diz?

- Eu..

Vampires Will Never Hurt You /Frerard/Onde histórias criam vida. Descubra agora