Cheguei bem cedo ao Palazzo della Sposizione e estava com aquela sensação de estômago revirado, as mãos suadas e frias, segui as setas com a indicação da secretaria do evento, uma bela jovem veio atender-me eu identifiquei-me, quem atendeu-me foi de uma cordialidade impar, fez todo o registro entregou-me o crachá do evento com meu nome e logo abaixo a palavra "palestrante" eu sorri, disfarçadamente, ao ler lembrei-me dele, é eu estou aqui por conta dele, por conta de um esbarrão, não, eu não estou aqui só por conta dele estou por minha conta também, por eu ser a mulher que eu sou, pela minha capacidade, pelo meu esforço e pelo meu trabalho. Sim é isso mesmo eu sou Henriqueta Borges.
Entreguei a ela o pen drive com a minha apresentação, ela o colocou em um lap top e abriu pra ver se não teria nenhum problema, certa de que tudo estava bem ela informou-me que ao invés da minha apresentação ser no auditório ela aconteceria no cinema.
- Mas é uma mudança de última hora?
- Não, não tão de última hora, é que temos tido uma procura grande por informações sobre a sua apresentação que a organização resolveu transferir para um espaço maior.
- Uma responsabilidade maior.
- Não acredito que lhe seja algum problema.
Eu sorri para ela, um sorriso meio constrangido, quer dizer então que esperam uma platéia maior para a minha apresentação. Engoli a saliva que não tinha na boca respirei fundo e disse a mim mesma que não tinha volta e como o general e cônsul romano Júlio César disse "Veni, vidi, vici" numa mensagem ao senado de Roma eu agora a uso também.
Com tudo certo a jovem novamente me deu as boas vindas uma pasta do evento e eu agradeci a ela com um grande sorriso e saí para caminhar pelo local, já estava sentindo-me mais segura, afinal eu sabia sobre o que ia falar, seria como uma reunião de equipe do professor Hunter, só que uma reunião bem ampliada.
Fui até a cafeteria, sentei por uns minutos, pedi um café, serviram-me um "corto"
é o nome já diz tudo é curto mesmo, na verdade um fundinho de xícara, mas como diz o ditado, em Roma como os romanos. Tomei com calma o meu café enquanto passava os olhos em alguns pontos e esperava a hora da minha apresentação.
Sobre a mesa ao lado um senhor deixou um jornal, peguei para dar uma olhada, aí entendi o motivo de tanta gente vestindo uma camisa grená com detalhes em amarelo e com um número 10, também amarelo, às costas, ontem foi a despedida de um jogador do time da Roma, vi algumas fotos que, mesmo eu não entendendo de futebol me arrepiou, via ali a real sensação da perda estampada no rosto de muitos torcedores que estavam às lágrimas, o time venceu o jogo por 3 x 2 nesse domingo passado, e depois deram adeus ao seu capitão por isso a manchete - "Grazie Capitano" - Fiquei olhando e pensando em como temos sensações as mais diversas de perdas em nossas vidas. Guardei o jornal comigo quando me levantei para ir para a minha apresentação.
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Correntes de uma Libertação
Chick-LitUma jovem e promissora pós graduanda. Um Homem mais velho e misterioso. Um dia de calor, um encontro fortuito e de uma forma inusitada. O que poderia atrair seres tão diferentes? Ela uma feminista envolvida com movimentos em busca de um mund...