Capítulo 10 - Milesville

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Luc adentrou a Masmorra puxou uma cadeira da mesa de jantar e colocou no centro da sala, chamando a atenção de todos para si. Todos se espalharam pelas cadeiras, pelo chão e pelos sofás. Entre livros, velas, vidros de sal e papéis.

- Eu vou! - ele anunciou os olhando nos olhos - Eu estou indo por vocês, porque querem ir, e não porque acho que é o certo. E ser líder eu acredito que tem disso: aceitar a maioria e tornar suas verdades a sua. Eu nem sempre vou ter soluções para vocês, nem sempre vou estar certo, mas o errado eu sei que é impedi-los de lutar. Eu não farei como o Isaac que trancou a família por medo, não deixarei que nós sejamos como o antigo conselho que se trancou em um mundo de conhecimento e estudo tão profundo que não pôde ver que o mal do mundo estava do lado de fora. Nós vamos lutar, e mesmo morrendo de medo de perder algum de vocês, eu estarei do lado de cada um para segurar suas mãos até o último momento.

Os jovens sorriram aliviados pela decisão que Luc tomara. Alguns minutos depois todos estavam pela cozinha fazendo o almoço daquele dia, exceto por Luc e Thomas que conversavam na varanda da casa.

- Eu estou tão orgulhoso de você Luc. - disse Thomas sorrindo para ele em uma espécie de agradecimento.

- Não tem motivos...

- Luc, - Thomas o interrompeu. - você fez algo que está além de quem você é. Tomou essa decisão por todos nós, por ter consciência sobre as necessidades do seu clã. Isso o torna um líder melhor, lhe torna um ser humano melhor. Sei que luta em várias batalhas internas para tomar um decisão como essa.

- Não era isso que você esperava de mim quando me colocou contra a parede para tomar uma decisão...

- Era exatamente o que eu esperava de você! - Thomas o cortou revirando os olhos. - Eu não espero coisas ruins de você Luc, jamais! Eu espero sempre o melhor, e você vem sempre superando minhas expectativas. Captou a minha mensagem, entendeu que ser um líder requer ter a consciência de que nem sempre você tem as respostas. Ser líder não quer dizer que não pode temer ou que deva ter sempre certeza. Ser líder é um processo de adaptação em cima de suas melhores intenções pelo seu clã. Você conseguiu derrubar rígidas paredes de incertezas, mágoas e medo, por amor.

- Não precisa falar dessa forma, como se o que fiz fosse algo que ninguém mais poderia fazer no mundo - Luc rolou os olhos e sorriu. Abraçou Thomas, pois sentiu vontade. - Eu não sou especial!

- Meu filho, você é uma das coisas mais importantes que já existiu para mim nessa longa jornada que foi a minha vida. Não tem ideia do sentido que colocou em meu caminho desde que li seus pensamentos na primeira vez em que chegou em minha casa. Pra mim, você é o rapaz mais especial desse mundo.

- Para com isso Thomas! - Luc lhe deu alguns tapinhas nas costas, sem jeito por ouvir aquilo. Nunca havia ouvido nada parecido de seus pais.

- Eu sempre vou lutar por você, para fazê-lo melhor ou apenas para estar ao seu lado. - Thomas se separou dele e segurou seu rosto entre as mãos. - Eu estou orgulhoso de você! - repetiu para que Luc gravasse aquilo, e acreditasse.

- Só não começa a chorar por favor. - os dois riram e Thomas o soltou emocionado.

***

Dezenove de dezembro e a neve não havia cessado nos últimos dois dias. Não era grossa e robusta, mas persistente. Formava finas camadas pela estrada e nos telhados. Não atrapalhava os moradores, apesar de ter causado um acidente de carro no dia anterior na rodovia de Milesville. Para a maioria da população, a neve era um presente de natal que havia chegado pontualmente naquele ano.

- Nós deveríamos dar uma festa. - disse Shang naquela tarde, enquanto o conselho limpava e arrumava a Masmorra para receber os enfeites de natal que Alexis e Anthony haviam trazido.

- Uma festa? - perguntou Callun se esticando para colocar alguns livros que antes estavam espalhados no chão, na grande estante que Luc havia construído com James aquela semana. - Pra quê dar uma festa?

- Vocês não acham que tem mais de nós por aí? - perguntou Shang parando de vez o que fazia. - Sei lá, talvez nem todos soubessem como chegar até aqui, ou demoraram mais para se transformar.

- Isso é possível? - Alexis perguntou virando-se para Thomas,

- Sim, na verdade é bem possível. - ele respondeu. - Mas talvez não seja algo para lidarmos agora.

- Eu acho que precisamos disso. - disse Danna refletindo. Ela sentou-se no sofá. - Não dá para simplesmente irmos para Montreal e deixar o conselho abandonado. Temos nossas coisas aqui, nosso livros, nossos feitiços registrados, nossa energia... E além disso, eles podem estar precisando de ajuda, não podemos apenas ir e não deixar ninguém aqui.

Eles olharam para Luc.

- O quê? - Luc virou-se bufando ao ouvir o silêncio, tendo certeza que esperavam que dissesse algo. - Eu não vou discutir com vocês, nem me olhem dessa forma. Se querem dar uma festa, eu vou achar ótimo! - disse levantando as mãos, em uma delas uma pistola de pregos o ajudava a consertar os reforços das trancas nas janelas.

- Quem vai ficar aqui com eles? Não adianta nada sabermos quem são se não tiver ninguém aqui - disse Lisa. Luc se perguntou quando ela havia ficado tão cheia de confiança. Se lembrava de Lisa cabisbaixa e quieta.

- O James fica com eles. - Luc propôs. - Ele não pode ir conosco de qualquer forma, e ele mora aqui. Ele sabe tudo sobre nós, pode recepcioná-los por um tempo. Não pode James?

- Por mim tudo bem. - James concordou,

- Eu dou uma força aqui se precisar - se ofereceu Anthony.

- Perfeito! Agora liga pra sua namorada e manda ela vir logo pra cá para nos ajudar. - Luc pediu a Anthony, que sorriu ainda estranhando aquela palavra se referindo a Katherine.

- Onde vamos fazer essa tal festa? Aqui não dá... - Thomas falou olhando ao redor.

- Primeiro, - começou Luc. - não tem "nós" nessa frase, porque você e a Danna não vão ser convidados obviamente.

- Me poupe Luc! - resmungou Danna.

- Me poupe nada! Ninguém quer ir pra festa pra ver gente velha. - ele riu brincando e Danna rolou os olhos. - Meus pais vão passar o natal em Paris, minha casa está livre. Vamos fazer uma festa de comemoração pela formatura, assim as pessoas de Milesville também irão.

- As pessoas vão chegar e falar: "Oi, então eu vim pra essa festa porque estou desconfiando que sou um bruxo e que vocês podem me ajudar" ? - perguntou Liam. - Como vamos saber?

- Vamos procurar por mãos machucados nas mãos delas, ora. - disse Amanda como se fosse a coisa mais óbvia a se fazer, e de fato era.

- Ainda bem que temos alguém esperto por aqui! - brincou Luc. - Vou ligar para Katherine, ver o quão rápido ela consegue voltar, mas por via das dúvidas daremos a festa amanhã.

- AMANHÃ?

- É muito em cima!

- Já fizemos festas maiores em menos tempo. - disse Luc. - E hoje é sexta, então

temos tempo de ir na faculdade convidar as pessoas, imprimir alguns panfletos e distribuir por lá. Os alunos deixam os dormitórios amanhã a tarde.

- O que precisamos fazer? - perguntou Lisa.

- Procurem um feitiço de proteção para essa casa. Vamos primeiro proteger a Masmorra com algo melhor do que pó de tijolo.

- Pó de tijolo? - perguntou Alexis confusa.

- Sim, nós traçamos linhas nas portas e ninguém que queira nosso mal pode cruzá-las. - explicou Shang. - Funciona com sal também.

- Mas não é o suficiente! E vamos estar fora... - disse Luc. - Enquanto procuram e terminam de arrumar tudo por aqui, eu e Alexis vamos lá na Valley. Ok? - ele olhou para ela.

- Sim. - Alexis assentiu nervosa, ficariam só pela primeira vez desde o beijo. 

A Linhagem Winlook 3Onde histórias criam vida. Descubra agora