Isaac levantou-se ainda desnorteado. Sua visão estava turva. Sabia que estava na cripta e saiu com desespero dela, caindo no chão. Acertou algo, mas não se importou. Precisava acordar, precisava se mexer. Fitou a luz incandescente que vinha do teto. Tentou focalizar alguma coisa, mas nesse instante sentiu um golpe em suas costelas, que foi tão forte que ele sabia que elas estavam quebradas. As sentiu voltarem ao lugar em segundos, e depois, outro golpe em seu rosto. E mais outro, que com certeza quebrou seu nariz. E outro! Tentou se defender, mas ainda não estava com os reflexos bons, muito menos com uma visão perfeita. Sentia os picos de dor a cada vez que era atingido.
- Isso é por ter me matado, seu filho da puta! - ele ouviu aquela voz e sabia que a conhecia, mas não podia ser verdade. Ele não podia estar vivo! Sentiu-se ser agarrado pelas vestes e depois solto com brutalidade. Bateu com a cabeça no chão antes de tomar mais três chutes fortes no abdômen. - Isso é por falar que ia estuprá-la, seu escroto do caralho!
Isaac gemeu, mesmo que já estivesse recuperado de cada golpe. Sua visão foi melhorando até que viu o rosto do garoto loiro que o socava.
Estava certo: era Luc Foster.
- E se tocar nela, eu sei muito bem o que fazer com você! Não dá pra te matar, mas eu já conheço a brecha da sua cicatrização de merda. - e com mais um soco, Luc encerrou o que tanto desejou naquelas últimas semanas.
Isaac se levantou com dificuldade.
- Como você está vivo? - ele esfregava os olhos, sua visão voltava ao normal.
- Obviamente Deus não gosta de você! - Luc respondeu e Isaac riu com a mão nas costas. Observou a câmara e reconheceu as pessoas que ali estavam. Viu seus filhos o encararem com estranheza de longe, viu Alexis segurando a mão de Maya, mas não estavam sozinhos. Ele podia sentir a tensão pesar o ar, podia sentir os olhos intrigados e assustados dos que estavam na escadaria.
Isaac os olhou com atenção, conhecia a maioria deles.
- Thomas? - ele estreitou os olhos. Thomas estava muito mais velho do que era quando o ajudou a cruzar o oceano com seus irmãos, mas era ele. Isaa tinha certeza. Seu velho amigo Thomas, e ao seu lado Danna, a jovem ruiva que sempre havia sido tão boa com seus irmãos, agora mais velha, mas com o mesmo olhar.
- Pai? - a voz de Maya cortou suas lembranças.
- Maya! - ele virou-se sentindo o alívio em ouví-la, como se seus pecados tivessem sidos esquecidos, mas ao ver Petrus, Scarlett e Alaric, ele não pôde se mexer. Sentiu medo junto a uma tristeza sufocante. Podia ver que havia destruído tudo o que tinha: sua família. - O que está acontecendo?
Isaac olhou para as outras pessoas novamente, como se não tivesse certeza se aquele momento era real. Não parecia real, ele não queria que fosse. Só desejava poder conversar com seus filhos. Implorar por seu perdão e reerguer sua casa.
- Você conseguiu Isaac, matou meu pai! - Scarlett disse com rancor. - Acontece que agora ele responde aos "Escuros", ou como os conhece: clã Norueguês. Se nos quer vivos, isso é, se realmente nos amou um dia, é melhor cooperar. Ninguém aqui tem tempo para ouvir mais mentiras. É bom que você comece a falar a verdade! - Scarlett olhou para Thomas. - Como sabe que ele não vai ficar como meu pai?
- Não sabemos! Supomos que o tempo não tenha sido suficiente para mudá-lo. - Thomas respondeu com o olhos presos no adulto Isaac.
- E você caiu sobre seu filho, caso não tenha notado... - Scarlett disse com desprezo em sua voz. Isaac olhou para trás vendo Lucas paralisado no chão. O ar pareceu deixar seus pulmões.
- O que aconteceu com ele? - abaixou-se ao lado de Lucas e o examinou com as mãos com todo o cuidado. Seu menino, seu fiel, no chão.
- Está com as maldições do meu pai, as que foram presas em você. Fez isso para que você possa nos ajudar, e é melhor que saiba que só um de vocês pode ficar com as maldições, e eu juro Isaac, essa pessoa será você! - continuou Scarlett com agressividade.
- Oh não Lucas... - Isaac tocou o rosto do filho.
- Não finja que não está gostando disso! - Scarlett gritou. Lágrimas quentes desciam por seu rosto agora, mas ela as secava violentamente.
- Scar! - Petrus a repreendeu, tentando a puxar para perto de si.
- Vamos Petrus, conte a ele o que Aidan fez conosco! Conte a ele que achou Maya e Lucas jogados na cripta que ele mesmo construiu, - Scarlett apontou para Isaac. - como dois mortos indigentes, amontoados! Conte como ele nos dilacerou! Conte como ele enfiou trevas no Alaric até que não coubessem mais!
- O quê? - Isaac abraçou o filho no chão, mas queria fazer isso com todos os seus meninos. Queria ampará-los e protegê-los. Os queria de volta e só isso lhe importava.
- É isso mesmo que você ouviu!
- O que quer que eu faça minha filha? - Isaac a olhou. Lágrimas deixavam seus olhos e se amontoavam, escorregando por seu rosto. - Eu faço o que quiserem...
- NÃO! - Scarlett berrou. - NÃO ME CHAME DE FILHA!
- O que querem saber? - sua expressão era de dor, apesar do susto que era ver Scarlett daquela forma. Colocou a cabeça de Lucas cuidadosamente no chão e levantou-se. - Meus meninos, eu sinto muito que isso tenha acontecido à vocês! Eu não sabia... Eu...
- Não sente! - Scarlett continuou a gritar.
- Precisamos de você para ir até eles, os Escuros. - Alaric cortou a conversa timidamente, seus olhos relutavam em olhar para os de Isaac. Olhá-lo poderia ser mais do que ele poderia suportar naquele momento. - Acho que conhece a maioria dos que estão aqui, os que não conhece pertencem ao novo conselho. - suspirou pesadamente. - Chegou a hora Isaac, estamos expostos. Precisamos ir até eles e acabar de uma vez por todas com isso, antes que eles nos caçem um a um. Vamos todos juntos como deve ser.
Os olhos de Isaac estavam transparecendo dor, não medo ou pavor, como aquelas paredes grossas da fortaleza faziam pensar que ele sentiria. Era tristeza e puramente tristeza. Ele não temia mais o exterior do seu mundo construído detalhadamente, principalmente porque a única coisa que ele mais havia prezado era a vida de seus filhos, e agora elas estavam por uma linha de se romper. Ele sabia disso, pois não sentia fé em enfrentá-los e viver para contar a história. Ele já havia visto mais de uma vez que por onde os Escuros passavam, não resta nada mais a não ser dor, medo e morte.
- Faço o que for preciso por vocês! Eu nunca fiz nada que não fosse para protegê-los. Agora não será diferente. Daria a minha vida se fosse preciso. Não hesitaria... - sua voz falhou. - Não hesitaria nem por um segundo meus filhos!
Maya chorou alto, mas reprimiu como podia levando as mãos ao rosto. Não sabia como se sentir, só temia tudo o que viria. Temia o pai ao seu lado, temia os sentimentos por ele, incluindo a culpa. Se não houvesse pedido que acordassem Aidan, nada daquilo estaria acontecendo. Todos estariam seguros.
- Maya, não chore - pediu Isaac se aproximando.
- Não chegue perto dela! - alertou Scarlett.
Isaac se sentiu quebrado. Respirou fundo e encarou os outros ali, observando os cacos de sua família. Um gemido abafado chamou sua atenção. À sua esquerda na parede fria da câmara, ele viu Ben paralisado.
Se aproximou enxugando o rosto.
- Ele tirou as maldições do Alaric, da Maya e do Lucas. - disse Noa ao lado de Ben. - Precisa ir para a natureza e liberar as trevas.
- Me lembro dele! - Isaac sorriu de forma nostálgica, enxugando as lágrimas do rosto. - Eram todos jovens quando nos ajudaram. - encarou Noa e passou por ela se aproximando dos outros, os examinando de cima a baixo. Shang recuou assustado, mas os olhos de Isaac estavam realmente interessados em Thomas e Danna.
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A Linhagem Winlook 3
FantasyApós revelar o segredo de Isaac, Alexis pode ter cometido um erro fatal para ela e todos os que conhece. Os segredos, anos, paredes e proteções que os separavam do Clã Norueguês estão rompidos, e a única opção que os restam é se unir e lutar. Mas...