Capítulo 61 - A Floresta

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O grupo andou por uma hora sem descanso, calados e exaustos. Thomasin e Tim choraram por todo o caminho. Noa estava tão abatida e fraca que precisou ser ajudada por Abel e Shang para que conseguisse continuar.

- O que está acontecendo com ela? - perguntou Alexis à Danna em um murmúrio.

- Ela está perdendo... - Danna exitou, certificando de que os outros não as ouviam. - Está perdendo a liderança do clã.

- Ela vai ficar bem? - perguntou Alexis preocupada.

- Eu não sei...

- Olha! - falou Lisa em voz alta repentinamente, assustando todos do grupo. - É uma caverna! - apontou para a escuridão, como se estivesse muita certa sobre aquilo. Seus passos se apressaram e ela ia em direção ao escuro, passando por quase todos do grupo.

- Lisa! - Shang correu até ela e a segurou. - Perdeu a cabeça?

Isaac na frente do grupo, iluminou a escuridão a frente com mais intensidade.

- Ela não está errada. - disse ele ao ver a caverna logo ali.

A floresta começava a mudar, e eles sequer haviam notado. Havia uma inclinação no solo, estavam caminhando em direção a uma região montanhosa.

- Não faz mais isso! - Shang pediu a Lisa, a mantendo perto de si.

Isaac na frente do grupo aproximou-se mais da caverna.

- Isaac! - A voz de Alice o chamou, mas dessa vez não era em sua cabeça, estava vindo dali, da caverna.

- Vocês ouviram isso? - perguntou Isaac trêmulo.

- O que? - perguntou Luc olhando dele para a caverna.

- Isaac... - a voz soou outra vez. causando em Isaac um sobressalto. Ele tentou convencer-se de que não era sua irmã. Sua irmã estava morta há tantos anos, mas naquele momento soava tão real, parecia que ela estava ali.

- Não faz isso Alice... - murmurou Isaac fechando os olhos com força.

- Ela não está lá - murmurou Luc ao seu lado. - Não é real!

Isaac podia sentir uma presença se aproximando dele, o olhando. Depois de alguns segundos sabia que não estava mais presente aos outros, sabia que estava tomado por algo. Ele temeu abrir os olhos e não ter volta. Tentou tocar Luc ao seu lado, mas ele não estava mais lá.

- Por favor Alice... - ele suplicou.

- Nós somos tão fortes Isaac...

- Você não é real!

- Se tem tanta certeza, então por que não abre os olhos?

E por mais que ele não quisesse abri-los, ele estava rendido. Os abriu com tanto medo e ansiedade que sentia seu estômago se contorcer. E ali, na entrada da caverna estava Alice.

Isaac piscou algumas vezes com força, tentando voltar para si mesmo, sentindo um nó se apertar em sua garganta e o ar lhe fugir.

- Não, por favor! - ele pediu.

- Não está feliz em me ver? - Alice perguntou com um largo sorriso no rosto. - Vem Isaac, tem algo que eu quero lhe mostrar. - ela entrou na caverna, sumindo na escuridão e por mais que ele soubesse que a última coisa que deveria fazer era ouví-la, ver sua irmã tão claramente depois de tantos anos era a única coisa que ele queria de verdade naquele momento.

Isaac seguiu em direção à caverna, sendo engolido por aquela escuridão.

- Nós crescemos mais poderosos a cada dia Isaac... - murmurou a voz de Alice ecoando pela caverna. - Pense em quantas coisas podemos fazer juntos?

Uma luz surgiu no final da caverna. Isaac viu o rosto de Alice ali no fundo, iluminado pela bruma que saía da mão dela.

- Venha! - ela o chamou sorrindo.

Quando eles já estavam próximos o suficiente, Isaac a encarou nos olhos e só então percebeu que não era sua irmã, era outra menina. A luz das mãos dela brilhou com mais intensidade e seus olhos saíram de Isaac, tornando-se estáticos, luminosos e azuis.

- Nós crescemos mais poderosos a cada dia que se passa Joane, nos tornando um, nos tornando maiores... Mas, para tomar o próximo passo, preciso que esteja disposta a fazer um sacrifício. - Joane permaneceu em silêncio, ouvindo o espírito atentamente e por mais que a voz saísse de seu corpo, sua boca não se mexia. - Nós podemos ter mais poder, você sabe que podemos, mas precisamos de uma terra que seja nossa, e só podemos marcar um pedaço desse bosque se aprisionarmos uma oferta aqui.

- Uma oferta a quem?

- Aos maiores Joane, aos maiores que nós. - Joane permaneceu calada, o ouvindo. - O que irei lhe pedir, não é uma simples tarefa, está longe de ser fácil e mais longe ainda de te deixar confortável, mas ao realizar essa tarefa Joane, nós teremos um lar, um lar eterno, meu e seu, e elas irão o guardar para sempre, em sua penitência, pagando pelo que fizeram a sua família. - Joane sorriu, e o espírito disse em sua mente o que queria que ela fizesse.

Uma semana depois, Joane entrou na última aldeia que havia resistido ao frio, a sua aldeia, onde os moradores ignoram seus pedidos de ajuda e pouco se importaram se ela havia passado frio e fome junto a sua família meses antes. Aquela era a aldeia onde ninguém ouvia pedidos de socorro, ninguém acreditava na amizade e a indiferença era o único sentimento que um dia qualquer um ali havia demonstrado por ela. Naquele dia, enquanto Joane caminhava pela ponte, doze crianças a seguiram, e essas nunca mais foram vistas.

Todos deixaram suas casas para trás, muito pouco tempo depois, e a aldeia era dela agora, porque o espírito havia lhe permitido conquistá-la.

Isaac se sentiu ser empurrado daquela memória, mas ainda estava na caverna. Um vulto passou ao seu lado e ele viu Joane sentada contra a parede, abraçando os joelhos, rodeada por pequenos esqueletos escurecidos pelo fogo. Ela havia queimado as crianças.

- O que precisamos agora Joane, é que existam outros dispostos a nos servir. Nós precisamos de um clã, e eu já sei onde encontrar exatamente quem se encaixaria aqui. - A voz agora vinha de dentro de Joane, mais uma vez tornando seus olhos congelados naquele azul luminoso, tão frio que tornava óbvio que aquilo ainda a atormentava. Ter aquele espírito dentro de si ainda não os tornavam um só completamente.

- Estou ouvindo...

- Na itália, em uma pequena província, existem dois irmãos bruxos: Rico e Matteo. Já mataram tantas pessoas que acreditam que já exterminaram cidades. São verdadeiros assassinos...

- Pensei que deixariamos criaturas vulgares assim para trás, afinal, você me disse que sacrificamos por poder, e não por diversão como eles aparentemente fazem. - Joane o interrompeu com cansaço eminente em sua voz.

- Eles são fortes, e podem ser moldados, Joane. Precisamos de pessoas como eles para formarmos um clã, para que nossas mãos permaneçam limpas e para que o trabalho seja feito. Nós precisamos de um marco, um grande feito, e só clãs podem fazê-lo.

Isaac sentiu ser empurrado para outra memória. Dois rapazes altos passaram por ele e seguiram até Joane, que sorria os esperando.

Os forte irmãos Rico e Matteo juraram devoção a Joane no momento em que a avistaram. O poder que ela emanava era tão atraente e tão forte que se tornava admirado instantaneamente pelos que ela e o espírito escolhiam.

Na áfrica encontraram Aba, a bruxa de olhos brancos, e no extremo norte da Noruega, Eir. Ainda no porto buscaram três família que desembarcaram da América, e o clã se formou assim.

Joane foi sendo reprimida dentro de si, e o espírito ganhando seu corpo, sua mente e seu poder, até que ela nada mais fosse.

Isaac foi arremessado na escuridão, sentindo-se ser sugado até seu corpo novamente. Ele se viu colidir contra si mesmo, tudo se tornou escuro e ele sabia que estava em seu corpo novamente. 

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