Thomas encarava a fogueira ao centro da sala recém construída, um ambiente físico logo abaixo de uma antiga e larga árvore. Não haviam tantas pessoas como deveria, as famílias ainda tinham medo de atender os chamados do Conselho de Alcônva, mesmo que já houvesse um ano de planejamento para aquele momento inevitável.
Essa era a terceira reunião na sede. A sede construída as pressas para tirá-los da floresta, pois apesar da natureza selvagem assustar a grande maioria das pessoas da vila, a caça as bruxas não iria esperar muito tempo para chegar até a Nova Inglaterra.
- Thomas! - a voz presunçosa de Joshua soou ao seu lado em comprimento. Um bom sinal, pois Danna estaria ali com ele e seus pais.
- Joshua. - Thomas acenou um comprimento com a cabeça. Joshua estava bem vestido como sempre, bem penteado e exalando perfume. Suas roupas mostravam claramente que a condição dos Smith era melhor do que a de qualquer outra família ali.
Os olhos de Thomas rapidamente desviaram-se de Joshua para o vão de entrada, buscando por Danna, que de braços dados a Sra. Smith já estava dentro da sede, sentando-se. Ela o olhou e sorriu em um aceno silencioso, mas claramente contente e satisfeita em vê-lo.
- Ela e mamãe estão se dando muito bem - disse Joshua sorridente, fazendo Thomas fechar o punho com força. Joshua o irritava e esse tipo de emoção era perigosa para bruxos que lutavam do mesmo lado.
- Imagino que sim...
- Sei que não está bem com isso, ela é sua família, eu entendo. Se quer saber ela me fala a todo o tempo sobre você e seu irmão. Diz sentir falta de Thomasin também.
- Éramos próximos... É só uma questão de tempo e iremos nos acostumar com a distância. - Thomas tentou ser breve, Joshua o observava com muita atenção e ele não gostava disso.
- Não tem de se acostumar! - Joshua entrou na sua frente, o impedindo de fugir de seus olhos. - Você é bem vindo em minha casa a qualquer momento.
- Seus pais não iriam gostar disso, iriam? - Thomas o encarou. - Um rapaz desconhecido, frequentando sua casa, sentando-se com sua família. As pessoas da cidade estranhariam, e isso seria ruim para todos nós...
- Pensamos diferente de vocês!
- Não tão diferente assim, ou então, não teriam a recebido em sua casa - Thomas lutava para não demonstrar agressividade. Podia sentir os olhos de Arthur e Danna sobre eles do canto do salão.
- Minha mãe perdeu tantos bebês que nós perdemos a conta. - Joshua voltou ao seu lado, observando o salão. - Sempre quis uma menina! Tivemos duas, mas não resistiram sequer um ano. Disseram que foi um milagre que eu tenha nascido.
- Não entendo o que isso...
- Bom, minha mãe tem uma menina para cuidar agora. - Joshua o cortou.
- Danna não é sua irmã! - Thomas o olhou com firmeza. - Sua mãe não a educa como filha, e sim como nora. Você tem dezenove anos, não é seguro continuar sem uma esposa... As coisas estão piorando no continente como um todo, existem tropas marchando para a cidade. Acha mesmo que a maneira que vivem pode trazer segurança para qualquer um de nós?
Joshua permaneceu em silêncio por um tempo, depois olhou para Thomas e disse:
- Não somos monstros, Thomas! Viemos do sul, temos outra cultura, outras crenças, somos claramente diferentes, mas não viemos sacrificar a inocência de garotas de treze anos. Eu não tocaria em um fio de cabelo dela.
- Sua família cedo ou tarde verá a necessidade de se enquadrar aos demais - Thomas continuou o olhando, agora desconfiado, o examinando com cuidado. Joshua parecia sincero, tinha o sorriso quebrado em uma feição honesta, diferente de seus sorrisos costumeiros de comprimentos pela cidade. Naquele momento Thomas entendeu que Joshua possuía uma máscara bem humorada, que era usada para tentar disfarçar suas origens, e isso parecia ter funcionado muito bem até ali, pois as pessoas da cidade realmente respeitavam e amavam os Smith com muita facilidade. Apenas ele considerava seus sorrisos distribuídos suspeitos.
- Nós estamos lidando com isso muito bem no momento! Vamos continuar tomando conta dela, - Joshua olhou para Danna, que sorriu para ele. Thomas não gostou daquilo, muito menos de vê-lo retribuir. - e as coisas vão continuar muito bem como estão. Você pode passar as tardes de sábado em minha casa, almoçar conosco... É realmente melhor do que ficar na igreja ouvindo todo o tipo de mentira que eles podem contar em duas horas.
- Cada um tem a sua maneira de se camuflar entre os outros, ir à missa aos sábados é a minha maneira.
- Pode usar seu tempo de melhor forma...
- Eu sei administrar meu tempo muito bem, obrigado! - Thomas foi ríspido. Joshua pareceu desconfortável pela primeira vez.
- Eu não tenho amigos aqui, e bom, - ele olhou para os lados, se perguntando se alguém prestava atenção em sua conversa. - pelo que a Danna diz, não há qualquer coisa em você que me afaste de tentar construir uma amizade. Eu quero ser seu amigo Thomas! - Joshua o olhou. - Por ela, pelo conselho, por nossas famílias e por nós mesmos. Acho que somos bem diferentes aos seus olhos, mas se tem uma coisa que você deveria ter aprendido a essa altura da vida, é que o diferente é a riqueza da natureza e a verdadeira graça da vida. - e o sorriso largo de Joshua voltou ao seu rosto.
- O que vocês dois estão conversando? - perguntou Danna se aproximando.
- O convidei para almoçar conosco no sábado. - disse Joshua sustentando o sorriso.
- E o que você disse? - ela perguntou a Thomas.
- Ele disse que sim! - Joshua respondeu e encarou Thomas, que de forma desconfortável sorriu para Danna sem qualquer intenção de desapontá-la.
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A Linhagem Winlook 3
FantasyApós revelar o segredo de Isaac, Alexis pode ter cometido um erro fatal para ela e todos os que conhece. Os segredos, anos, paredes e proteções que os separavam do Clã Norueguês estão rompidos, e a única opção que os restam é se unir e lutar. Mas...