A Linhagem Winlook 3

Capítulo 65 - Alcônva XVII

Joshua não comia, muito pouco dormia e sua saúde estava claramente balançada por isso. Thomas estava temporariamente morando com eles, ajudando Danna com a casa e tentando estar a todo momento ali pelos dois, o que estava se tornando difícil até mesmo para ele. A ausência do Sr. e da Sra. Smith lhe causava um vazio físico, completamente triste e frio.

"Lobos! Mortos por Lobos!" Thomas estremecia toda vez que se lembrava, e quase todas as madrugadas precisava brigar com sua mente para afastar as imagens de seus pensamentos. Não poderia pensar em uma morte tão cruel, tão pontual, para duas pessoas tão boas. Lobos conseguiram emboscar dois bruxos experientes que fugiram de tantos perigos ao longo de suas vidas? Não parecia certo, não parecia verdade.

Danna fez quinze anos, Thomas dezenove, e sem que eles percebessem se tornavam cada vez mais óbvias as mudanças da idade os alcançando. Danna já possuía formas de mulher e a responsabilidade de uma, mesmo ainda sendo uma garota em seu interior, cheia de medos e pesadelos. Seus cabelos ruivos estavam longos, seu rosto sem viço algum, mas não era diferente de Thomas, que possuía uma jornada tripla. Guardar Lianna e Mercy, estar presente no conselho e cuidar de seus dois melhores amigos.

Certa noite voltando de uma reunião, Thomas foi checar Danna e Joshua. Os encontrou dormindo juntos, espremidos na pequena cama dela, de mãos dadas. Um sentimento mesquinho e egoísta percorreu seu interior, e ele se odiou. Como poderia amar Joshua e não achá-lo digno para Danna? Ele sabia que o amor que sentia por ela era fraternal, mas as vezes se tornava confuso, pois sentia medo dos pedaços que perderia de ambos se eles se unissem. Ele não podia perdê-los, e sabendo disso, se achava sujo e infantil naquele momento em desejar que eles não dessem certo, mesmo que isso significasse a total infelicidade de um deles ou de ambos.

- O que vai fazer agora? - Thomas perguntou sentado em uma grande pedra na margem do rio que cruzava a Floresta Baixa. O pôr do sol trazia uma bela luz por entre as árvores. Joshua ao seu lado atirava pedras na água, esperando que elas quicassem.

- Eu não sei! - ele suspirou. - O dinheiro irá acabar e eu não tenho qualquer aptidão para qualquer trabalho.

- Muitos de nós vivemos com pouco Joshua, o conselho provê muito mais que proteção. Existem famílias que dependem dos suprimentos que temos. Vocês não irão morrer de frio ou fome, mas é importante que se esforce para se manter. Não consegue retomar os negócios do seu pai?

- Impossível! - Joshua sorriu momentaneamente de forma tristonha. - Eu não sei te dizer exatamente o que meu pai fazia Thomas, mas não era uma tarefa para qualquer um. Tantas viagens... Pessoas diferentes o acompanhando, e sempre ele trazia os presentes mais inusitados das terras mais distantes...

- Danna me disse que você conversou com o Governador.

- Sim, - ele voltou a jogar outra pedra no rio. - e tratamos sobre o dinheiro que meu pai carregava quando... Bom, ele sugeriu que eu guardasse de forma segura.

- Ele não pode te dar um emprego?

- Thomas! - Joshua virou-se para ele. - Não vou contribuir para um de nós estarmos enforcados naquele palco qualquer dia desses.

- Eu só quero que você entenda que precisa de uma vida digna para você e para a Danna!

- Eu sei disso, eu sei! Acha que não penso nisso?

- Por que não esperamos mais um pouco pelos pais dela? - Thomas o olhou com cautela ao dizer. Joshua suspirou com tristeza.

- Acho mais do que justo que a levem com eles, mas, você acha que vão voltar? O aniversário dela já ficou para trás há meses. Eu estou certo que eles não se importam.