Luc saiu da Masmorra com uma caixa de panfletos amarelos que Anthony havia acabado de imprimir. Alexis o esperava na varanda angustiada e nervosa. Precisava conversar com ele e a indiferença que ele demonstrava naqueles dias estava começando a machucá-la.
Entraram no carro e em silêncio permaneceram até que chegaram na universidade. Luc a fitava de instante em instante, a observando dirigir com os olhos de quem pensava em algo muito além da pista.
O estacionamento da universidade ainda estava cheio. Os estudantes estariam ali até a alguns dias antes do natal, era assim todos os anos. Até mesmo Alexis e seus amigos fizeram isso algumas vezes.
Luc entregou a caixa de panfletos para alguns dos formandos que conhecia, pediu que distribuíssem. Em poucos minutos estavam de volta à estrada.
- Pode encostar ali? - perguntou Luc quebrando o silêncio entre eles.
- Ali onde? - Alexis perguntou olhando ao redor da estrada escura. Pôde ver um letreiro luminoso há trinta metros de distância e alguns pinheiros baixos que camuflavam o pequeno bar. - Está de brincadeira, não está?
- Não. Eu preciso parar um pouco pra respirar...
- Você vai beber? - Alexis o cortou. Luc a olhou com confusão em sua feição.
- E se eu fosse Alexis? - ele rebateu. - É isso que eu faço, eu bebo, eu brigo, eu sou uma pessoa de difícil convivência.
- Eu não vou ficar entrando nesse assunto todas as vezes... - ela freou o carro abruptamente. - Se quer descer, beber, vá! Não vou ficar aqui assistindo.
- Qual é o problema? - ele perguntou vendo o estresse eminente na voz dela.
- Não tem problema nenhum, o problema é todo seu!
- Você quer saber? - Luc abriu a porta e desceu do carro com pressa. - Eu estou indo para o outro lado do mundo, levando comigo todo mundo que um dia eu me importei para lutar contra essa merda de clã satânico, e ainda por cima tenho que ir de mãos dadas com o maluco que me matou e ameaçou te estuprar, então eu vou beber mesmo Alexis, eu tenho motivos suficientes. Eu quero e eu vou! - ele a fitou encarar a pista e respirar fundo.
- É isso que você faz de qualquer jeito... - Alexis murmurou.
- O que você disse?
- É ISSO QUE VOCÊ FAZ! - ela gritou.
- PORRA, É MESMO, EU BEBO! - Luc bateu a porta do carro com força. - Não
espere por algo melhor de mim, é realmente só isso que eu sei fazer.
Alexis respirou fundo e o observou se afastar do carro. Abriu a janela e gritou.
- Como você vai pra casa?
- Vai embora Alexis! - Luc gritou de volta entrando no bar.
- Droga! - ela murmurou para si mesma enquanto socava o volante. - O que eu faço? - se perguntou enquanto olhava da estrada para o bar. - O que eu faço? - olhou mais uma vez para aquele bar abarrotado e respirou fundo antes de se soltar do cinto.
Brooke's Bar era o pior lugar da redondeza. Brooke era uma senhora de cabelos loiros que servia bebidas para todos os senhores da região que não saiam de seu balcão. As vezes, um ou outro caminhoneiro parava ali. As vezes alguns estudantes da Valley que queriam beber com pouco dinheiro. As vezes Luc.
Alexis entrou no ambiente que lhe era familiar. Lembrou-se que buscou Luc ali com Steve dois anos atrás. Lembrou-se de Brooke o expulsando com um taco de baseball na mão. O cheiro de madeira era predominante, as pessoas conversavam alto, a música competia com elas assim como o barulho das bolas da sinuca trombando entre si.
Alexis tinha os olhos buscando por Luc naquele mar de pessoas.
- O que está fazendo aqui? - a voz dele veio de trás.
- Esperando você. O que parece? - virou o encarando.
- Eu não preciso disso Alexis! Não preciso que me julgue, não preciso que fique aqui para tomar conta de mim como se eu fosse fazer alguma merda. Eu nem mesmo ia beber, eu só precisava de um tempo.
Alexis o olhou nos olhos vendo a verdade. Se sentiu idiota e egoísta por esperar o pior. Talvez fosse a mágoa que ela começava a sentir, pois a distância entre eles estava começando a magoá-la de verdade.
- Me desculpa! Eu não queria... Eu só...
- Vamos embora. - Luc a chamou, caminhando para fora do bar a puxou pela mão para avançarem entre as pessoas. O silêncio no carro só durou durante o primeiro quilômetro.
- O que foi? - Luc perguntou impaciente.
- Nada. - ela suspirou.
- Está tudo bem?
- Sim... - Luc a observou fitar a estrada mais uma vez de maneira desconfortável.
- Qual é Alexis? Eu te conheço... - ele insistiu carinhosamente.
- Não é nada.
- Me fala logo!
- Não! - disse ela irritada.
- Por que não? O que é que está acontecendo?
- Nada!
- Para com isso e me fala, caramba! Será que não pode confiar em mim? Eu odeio essa sua cabeça impulsiva guardando segredos.
- Eu não quero falar nada.
- Então tá! - Luc virou-se para a janela emburrado. Já chegavam na masmorra.
Ambos desceram e bateram as portas do carro. Cada um fez seu caminho, Alexis para a casa principal e Luc para seu loft.
- Merda! - Luc resmungou ao entrar em casa.
Colocou as mãos sobre a cabeça e atrapalhou os cabelos enquanto suspirava. Olhou pela janela da casa principal e suspirou outra vez. Subiu as escadas e entrou no banheiro. Ligou o aquecedor e tirou a roupa para entrar no banho. Pensou consigo mesmo se poderia culpá-la. Pensou sobre o que Katherine lhe disse semanas atrás, sobre o benefício da dúvida ser culpa dele. As pessoas ainda duvidavam com razão, mas ela? Logo ela ainda esperava o pior? Mesmo assim, ele tinha o direito de estar chateado? E ela? Ela estava chateada? Fazia dias que Alexis não falava com ele, estava sempre com uma feição estranha ou agindo diferente perto dele.
Pensou que não deveria ter a beijado. A ligação já era confusa suficiente sozinha, e ele ainda havia a beijado para piorar. Como será que ela se sentia sobre isso? Depois do que aconteceu no baile, eles foram atropelados por todos os acontecimentos e revelações do conselho. Por que ele não ligou e falou alguma coisa? Por que ele não falou pessoalmente? Por que eles ainda não haviam falado sobre a carta que ela deixou?
Saiu do banho e com a toalha secou os cabelos. Vestiu uma calça jeans e uma camisa de mangas compridas preta. Abriu a gaveta da sua cabeceira, e sentado na cama pegou a carta.
"Nós temos raiva do que não entendemos, e eu não o entendia." "...eu descobri que estava com raiva de você porque também te amava, mas não te entendia." "Somos a certeza que passou despercebida" "mas nada no mundo nunca me fez me sentir tão viva" "...saiba que nunca estive mais certa em minha vida de que te amo" "...por tudo que você é, tudo o que foi e tudo que um dia será" ele leu.
- Luc? - a voz dela timidamente o assustou naquele momento.
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A Linhagem Winlook 3
FantasíaApós revelar o segredo de Isaac, Alexis pode ter cometido um erro fatal para ela e todos os que conhece. Os segredos, anos, paredes e proteções que os separavam do Clã Norueguês estão rompidos, e a única opção que os restam é se unir e lutar. Mas...