Capítulo 40 - Oslo

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- Podemos conversar? - perguntou Isaac a porta de Maya e Petrus, ainda naquela madrugada.

- Está tudo bem? - perguntou Maya se encolhendo em seu robe. Seus olhos estavam inchados. Ela deu passagem ao pai.

- Está... - Isaac murmurou enquanto observava Petrus se sentar na cama e coçar o rosto. - Me desculpe acordá-los.

- O que está acontecendo? - perguntou Petrus se esforçando para abrir os olhos.

- Eu vim aqui pedir perdão. - disse Isaac em meio a um suspiro pesado. Petrus se colocou de pé e cruzou os braços. Maya ainda estava perto da porta. - Se nos próximos dias os verei pela última vez, meu único desejo é que me perdoem. Petrus, - se aproximou dele. - a minha intenção nunca foi envenenar meu irmão, nunca foi matá-lo! Nunca tiraria seu pai de você e de Scarlett. Aidan sempre foi tão importante para mim quanto minha própria vida. - olhou para Maya que ainda não mexera um músculo sequer. Seu coração doeu ao olhá-la e não havia como não chorar. Ele não precisava esconder lágrimas ou sofrimento de seus filhos. Sempre havia sido assim, pois ele mesmo os ensinou que a maior fraqueza dos homens era não transparecer o que sentem.

- Eu não o reconheço mais pai... - disse Petrus de onde estava. - Você se tornou outra pessoa, se cobriu de vaidade, nos escondeu segredos e mentiras. Nós acreditamos por tanto tempo em seu amor, o aceitamos para suprir tudo o que nos faltava. Acreditamos em você quando nos tirou nosso Letto, continuamos acreditando quando apenas Markos quis salvar... Deixamos que derramasse nosso sangue em nome de amor... Tudo que eu queria em troca disso, era que tivesse nos contado a verdade.

- Meu filho, eu sei que nem mesmo a sua bondade e a sua cordialidade podem compreender ou me perdoar...

- Não há como compreender...

- Eu queria protegê-los meu filho! Meu Petrus, meu menino, você que sempre foi cordial, que sempre me cobriu de amor. Você sabe que o meu amor por vocês pode ser cego, pode ser cruel, mas que é verdadeiro. É puramente verdadeiro meu filho! Como eu voltaria com meu irmão morto em meus braços por minha falha? Como diria a vocês que eu havia sido covarde? Como acreditariam que eu poderia protegê-los se eu dissesse a verdade?

Os olhos de Petrus marejaram, mas ele não queria sentir o que sentia. Não queria trair Aidan ao dar outra chance a Isaac. Não queria trair a si mesmo. Isaac era inocente como dizia? Isaac amava ao irmão de verdade? E se ele houvesse sido mal, e não covarde. E se ele houvesse deixado Aidan realmente morrer? Ele havia ouvido do próprio pai que não, mas até onde Aidan protegeria Isaac? Petrus se perguntava se podia deixar suas suposições para trás, se podia voltar a confiar nele, mas principalmente, podia lhe dar seu perdão?

- Eu não tenho tempo para falhar com vocês novamente, estou morto. Se estou de volta aqui é porque o destino me permitiu tentar salvá-los, meus filhos. Dar minha vida pelas suas. Não existe uma forma mais digna de um pai morrer. - Isaac voltou a chorar. - O meu fiel! Meu menino fiel está em nossa casa. Deitado sem vida assim como meu irmão esteve... Eu não falharei com Lucas! Não falharei com nenhum de vocês. Não mais!

"Eu venho aos dois aqui hoje, pois são meus filhos mais generosos. Eu olho para você Petrus e vejo seu pai em toda sua bondade, em todo seu amor. E você Maya, tão parecida com sua mãe, tão justa. Eu sei que nem mesmo sua justiça pode ser imparcial e acreditar no que digo. Não me sinto digno do perdão de vocês. Quantas vezes errei com você minha filha?"

- Eu me perguntei por tanto tempo se estava errada pai... - murmurou Maya se aproximando dele. Os olhos de Isaac a encaravam com timidez, com vergonha. - Me perguntei por tanto tempo se fui injusta quando eu, eu mesma, decidi o seu destino. Foi tão fácil condená-lo! Eu não quis ouví-lo, não quis saber o que aconteceu. Não podia ser justa mais... Nós acreditamos no seu medo por tanto tempo. Nós deixamos nossas vidas para servi-lo, deixamos nossos filhos por você meu pai. A única coisa que gostaríamos de ter em troca disso, era a verdade, a mais pura verdade, mas o que você fez ao Aidan... O que você fez a ele, fez todo o resto se tornar ações em vão. Fez todo o sangue ser derramado em assassinato. Fez todo o abandono se tornar cruel. O amor sumiu meu pai, até mesmo do meu coração. Ser justa se tornou muito mais conveniente a você do que a mim, pois você voltava aos meus braços, me chamava de "minha menina" e eu lhe dava o meu perdão, principalmente, eu achava que seu arrependimento e sua tentativa de consertar os erros do passado, eram suficiente. Achava que era justo! Até que notei pai, que não sou justa. Não queria ser justa. Você quis me tornar assim, e eu acreditei tão cegamente...

- Você percebe o quão cegos nos tornou? - perguntou Petrus com dor eminente em sua voz. - Nos moldou a partir de seus medos e vontades, e nós deixamos que isso acontecesse. Nós deixamos que fizesse tudo pai, tudo! Não queríamos vê-lo sofrer. Só te amamos todo esse tempo, tentando suprir a falta que meu pai e Alice sempre lhe fizeram. Tentamos amá-lo o suficiente para que não ouvisse vozes, para que não sentisse culpa. Eu honestamente sinto medo de você hoje...

- Não diga isso meu filho, não diga isso! - Isaac continuou a chorar. - A única coisa que senti por meu pai foi medo. Esse é o último sentimento que espero que tenham por mim. Principalmente agora que meu tempo irá se acabar... Vocês são a minha vida! Não houve um momento em que os amei menos do que a minha própria existência. Não houve um dia que tudo o que eu queria dar a vocês não fosse a salvação. Eu queria tornar a vida melhor, mais bonita, por vocês... Eu não queria que pensassem ser protegidos por um covarde...

- Nós só precisávamos de você como pai! - o interrompeu Petrus. - Você só precisava nos dizer a verdade, mas você preferiu mentir por todos os anos... Não nos contou sobre Alice ser compiladora, não nos contou sobre a busca da imortalidade, nem mesmo sobre Brendon pai! Ele estava em nossa casa todos os dias! E depois de tudo isso, deixou que meu pai morresse e não teve o respeito de nos dizer porque...

Isaac se aproximou mais de Petrus e caiu de joelhos aos seus pés. Com a cabeça nas pernas do filho, ele chorou entre soluços.

- Meu menino, por favor...

- Isaac, - Petrus lhe estendeu a mão o ajudando a se levantar. Olhou em seus olhos. - meu pai o amava tanto, que até mesmo nos lapsos de memória que teve quando esteve conosco nesses últimos dias, ele pedia que não tivéssemos mágoa de você. Ele iria querer que eu lhe perdoasse! É por ele que eu lhe estendo a mão. Talvez eu seja falho, mas meu pai era apenas bom, e eu quero ser como ele, então eu lhe perdoo. Eu quero que parta, - a voz de Petrus falhou. - em paz. Você tem o meu perdão!

- Obrigado meu filho... - Isaac se encolheu e Petrus o envolveu com seus grandes braços. - Obrigado meu menino!

- Pai? - Maya o chamou timidamente. Isaac se soltou de Petrus e a observou. - E se eu não conseguir perdoá-lo? Não com a verdade de meu coração... - Maya começou a chorar. - Eu queria muito me livrar desse peso, dessa culpa. Queria não ter lhe apontado como culpado, ter decidido seu destino...

- Não me importo com o que fez! Nada pode diminuir o meu amor por você. Não sou digno de seu perdão Maya, eu sei disso. Eu só peço que guarde pra sempre em sua memória que teve um pai que a amou mais do que a própria vida. Que esse pai sempre quis ser mais do que podia ser, só para poder lhe dar paz. Que antes mesmo de você nascer, esse pai, a esperou contando os dias, para lhe dar todo o amor que existe no mundo. E você sempre foi e sempre será mais que ele, e principalmente, mais do que ele podia sequer sonhar que seria - Isaac se aproximou de Maya, podia notar que ela estremecia. - Posso lhe dar um abraço? - ela assentiu.

- Me desculpe Pai! - Maya soluçou ao sentir o calor do pai ao seu redor. O amava tanto, ao mesmo tempo que o odiava por tudo que fez. Esse tipo de sentimento a rondou por toda a vida, e agora ela tinha ambos gritando em seu peito. Queria perdoá-lo, mas podia? - Eu não sou melhor que você. Eu guardei essa raiva por tanto tempo... Achei que a salvação e o amor poderiam apagá-la. Achei também que estava sendo justa ao acreditar que você, todos os dias, tentava consertar seus erros, mas foi só descobrir mais uma falha, que tudo desmoronou...

- Eu não a culpo, Maya. - Isaac afagava as costas da filha. - Fiz coisas realmente horríveis e irreparáveis à você e seus irmãos. Você guardou todas essas coisas com você, sendo generosa o suficiente para continuar ao meu lado. Não posso cobrar mais nada. Não tenho direito à isso. Não a mereço como filha e nem como a amiga que sempre foi.

- Eu quero perdoá-lo meu pai, eu quero. - Maya chorou em seu ombro. - Mas preciso que me perdoe antes por ter escolhido tirar sua liberdade, por ter te colocado naquela prisão...

- Maya, o que fez não é nada comparado a tudo que a fiz passar, e mesmo assim você é tão incrivelmente generosa e bondosa, que está aqui me pedindo perdão. Eu te perdoo mesmo assim, minha filha amada, se é isso que o seu coração precisa, mas não existe nenhuma mágoa de minha parte. Sempre senti tanto medo de te perder, de te afastar de mim... Tudo o que eu quero é partir sabendo que tenho o seu perdão.

- Você o tem meu pai. - Maya murmurou deixando vencer o amor em seu coração. Perderia seu pai nos próximos dias, e por mais que ela tentasse não pensar nisso, sabia que seria insuportável. Estar na fortaleza sem ele era fácil, mas aquela casa iria se ruim com o tempo. Sem as paredes que Isaac construiu, sentir sua falta seria inevitável. - Eu te perdoo! E eu espero, de verdade, que encontre a paz que sempre buscou.

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