A Linhagem Winlook 3

Capítulo 9 - Milesville

- Posso entrar? - perguntou Amanda timidamente na porta do loft de Luc naquela manhã fria.

- Entra, Amanda. - ele a chamou com a voz arrastada, ainda deitado na cama e com uma preguiça típica daquela época de férias, que se acentuava ainda mais pelo seu desinteresse por tudo que acontecia, aliado a sua preocupação que o mantia acordado.

- Por que não foi ontem para a reunião?

- Por que precisam de mim? Não me escutam! Estão já fazendo as malas para Montreal e não há nada que eu possa fazer a respeito. - ele respondeu coçando os olhos com força.

- Você está sendo dramático!

- Não, não estou! Você não tem sequer ideia de como eu sou quando quero ser dramático. - havia humor na voz dele, mas não em sua expressão.

- Então vai ficar aqui deitado se lamentando? Você é o líder do nosso clã por algum bom motivo Luc, e não me solte um comentário engraçadinho e sarcástico sobre isso. Nós precisamos de você! Thomas diz que pode ficar, mas eu sei que ele quer que você vá, e mesmo que por motivos diferentes, você quer ir, e você deve!

- Por que eu devo Amanda? Thomas está os liderando para algo que eu não aprovo, e

vocês nem sequer querem me escutar.

- Nós já te ouvimos, mas a decisão está tomada porque a maioria reconhece o

perigo que corremos, por mais que você negue, você sabe que estamos certos. Não quer dar o braço a torcer porque eles tentaram te matar, tentaram prendê-la...

- Eles são perigosos Amanda, não quero nenhum de vocês perto deles.

- As coisas mudaram e eles não são mais assim tão perigosos, não é? Que eu tenha por conhecimento, nenhum deles tem a intenção de machucar a Alexis ou qualquer um de nós. Eles não têm Isaac os liderando e nós estamos preparados!

- Você não os conhece Amanda!

- E nem você! Passou o quê? Uma semana por lá? - Amanda deu um risada sarcástica. - Alexis ficou por meses, e está disposta a ajudar.

- Alexis só não vai morrer pela compaixão que tem, porque se tornou imortal.

- Se ela não tivesse essa compaixão que você tanto critica, talvez vocês nem pudessem ficar juntos. Ela teve compaixão suficiente para entendê-lo e mantê-lo por perto todos esses anos.

- Não começa com isso! - Luc esfregou o rosto durante um gemido.

- Então me diz um motivo melhor do que esses que você fica repetindo, diga algo que realmente seja válido para não cruzar o mundo. Algo que nos faça ficar! Algo maior do que o medo de nos perder. - Amanda cruzou os braços.

- Não adianta Amanda! Ela vai de qualquer forma, e vocês também...

- Diga! - Amanda exigiu. Não era algo típico de seu comportamento, mas a postura de Luc a irritava e ela iria levá-lo ao limite até que ele aceitasse ir, até que encarasse o medo com coragem e deixasse a sede de uma vingança contra Isaac para trás.

Os Legítimos não eram mais os inimigos, e Luc precisava aceitar isso.

- Não vou dizer nada!

- Está com medo!

- Eu não estou! - Luc se levantou da cama e bagunçou os próprios cabelos. - Porra! Que droga Amanda! Se quer saber, eu sei ok? Eu sei que é perigoso para nós, e que precisamos da maldita ajuda dessa Liga e da maldita ajuda deles, mas se quer saber, eu não gosto mesmo disso. E sim, eu tenho medo e raiva!

- Eu sei que tem...

- Não, você não sabe! - ele a interrompeu. - O último ano foi um inferno pra mim e pra ela, nós não tivemos um dia de descanso sequer, e eu não sei porque o Thomas fica insistindo que o maldito do Isaac é doente, quando ele não é. É simplesmente mal! Tão ruim que até os filhos retardados dele puderam ver. E sabe do que mais? Eu vi! Em um segundo eu estava imobilizado vendo ele matar a Alexis enquanto me matava, e não havia nada que eu pudesse fazer. Nada! E agora vamos lutar contra algo maior, muito maior, e com ele ao nosso lado...

- Você escuta as chamas? - Amanda o cortou.

- Que chamas?

- Da noite do massacre. As vezes eu as escuto na madrugada quando sonho, acordo sem ar e assustada. Vez ou outra me levanto e vou até a janela pra ver se algo está por perto. - Luc cruzou os braços e a olhou nos olhos. - Você também as escuta!

- Isso não vem ao caso...

- Isaac as escuta Luc, todos nós escutamos! Quanto mais você fala sobre ele, mais barulho faz, e você acaba esquecendo eventualmente que elas estão lá, à espreita e que só vão parar quando nós as fizermos parar. - ela suspirou - Esqueça o Isaac! Ele está tão prometido ao fogo quanto nós estamos.

- Eu me importo com vocês, não com ele...

- Então seja um bom líder! - Amanda o interrompeu e se aproximou. - E mesmo que tenha medo, nos ajude a resolver isso da melhor forma.

- Eu não terei força para nos reerguer se algo acontecer com qualquer um de vocês.

- Você terá, porque é isso que você faz! - Amanda tocou seus braços cruzados. - Você transforma casos sem esperança em coisas gloriosas, Luc. Fez isso com o Thomas e com a Danna. Tirou o medo deles depois de séculos, e fez isso por nós também. Nos deu um rumo e uma casa para toda a vida. Também fez isso por ela! Vai continuar fazendo porque você é corajoso, e é o que pessoas corajosas fazem! Elas abraçam até mesmo as causas perdidas. Elas se jogam de cabeça até mesmo na escuridão se for preciso. - Amanda fez uma pausa. - Você não tem medo deles, você tem medo por nós, porque juntos somos como um. Somos uma família, e perder qualquer um parece assustador, mas é por sermos uma família que temos que lutar até o fim. Eu não estou indo só pela minha vida, eu estou indo pela de todos vocês. As chamas só nos pegarão se você ficar...

- Eu não vou deixar que vocês façam isso sozinhos, eu estive aqui por todo esse tempo, eu estarei sempre. Droga! - Luc xingou alto. - Eu vou, mesmo contrariado Amanda! Eu não posso morrer, e se quer saber de verdade, nem me importo se algo me acontecer, contanto que nada aconteça a vocês. Se querem lutar, vamos lutar! Se para manter vocês eu precise dar as mãos ao Isaac, eu dou. Eu dou Amanda, eu não ligo! Eu não preciso de paz, eu preciso de vocês e se é isso que vocês querem fazer, eu faço, tá bem?

Amanda sorriu vitoriosa por quebrar as barreiras de Luc. Podia ver seus medos e os compreendia, ao mesmo tempo que olhava para todo o conselho e sabia que precisava lutar com uma convicção nunca sentida antes em sua vida. Algo a movia por eles, e ela tinha certeza de que todos se sentiam assim também. Era muito mais que mágica a ligação de um clã, e agora ela podia de fato entender.

- Vamos logo falar com o Thomas e os outros. - chamou Luc a puxando pelo braço. - Estão todos em casa?

- Alexis tinha ligado avisando que estava chegando, há essa altura já deve estar lá dentro. Então sim, estão todos.

- Ótimo!