Capítulo 44 - A Floresta

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Havia uma clareira completamente iluminada pela lua. A maior aparição da lua em suas vidas. A floresta escura preenchia todo o redor, e atrás dela, altas montanhas no horizonte, com picos de neve. O frio era o mesmo de antes.

- É aqui? - perguntou Luc olhando ao redor. Isaac assentiu. - Você tem certeza? Não estou sentindo nada. Absolutamente nada!

- A floresta está pronta para nos confundir. - disse Noa. - Podem ter certeza que tudo aqui é composto pelo mal. Não se deixem enganar! Podemos ir?

- Podemos - concordou Luc. Ele olhou para Alexis ao seu lado, que também assentia, e segurou sua mão.

- Vamos! Devemos seguir o norte. - continuou Noa, depois tirou a varinha do bolso e apontou ela para o céu. Uma partícula de bruma branca saiu voando disparada para o alto, se afastou suficiente indo em direção a montanha mais alta, até que se apagou. - É por ali!

Todos seguiram Noa, exceto Isaac que ainda permanecia estático. Thomas se aproximou dele, indo contra o movimento do grupo.

- Se eu consigo, você também consegue. Vamos juntos! - Thomas passou a mão pelas costas de Isaac, o incentivando a seguir o caminho.

- Para sair daqui, vocês precisam voltar para esse mesmo local. A conexão com o exterior está aberta! Use qualquer um dos meus filhos como âncora, mesmo que... - os olhos de Isaac demonstraram terror. - Mesmo que um deles esteja paralisado. - sua atenção estava em Thomas. - Avise ao Luc e a Alexis!

- Tudo bem. - Thomas assentiu sabendo a seriedade daquele aviso. Segurou nos ombros de Isaac, olhando em seus olhos. - Vamos lá! Seus filhos vão ficar bem Isaac, vão sim! Não se preocupe quanto a isso.

- Esse é nosso adeus, meu amigo. - eles se olham nos olhos, como fizeram anos e anos atrás. Era como se aquele momento já tivesse acontecido.

- Então que Deus esteja conosco por todo o caminho! Ele estará nos esperando.

- Se eu acreditasse em Deus, Thomas, já teria me entregado. Não haveria imortalidade, muito menos séculos dessa vida miserável... - Isaac sorriu fracamente para Thomas, sem esperança.

- Essa terá de ser a última vez então que te peço para ter um pouco de fé!

- Gostaria de ter feito por você o quanto fez por mim, por eles...

- Você não me deve nada!

- Me perdoe pelo que fiz à eles! Aos seus meninos...

- Eu gostaria de lhe perdoar por tudo Isaac, mas não cabe a mim aliviar suas dores e aflições. Só faça o que é certo agora. Por você, seus filhos e como favor, aos meus meninos também.

- Eu farei! - Isaac observou o grupo já distante. - Então esse é o grande momento. - disse ele avançando junto a Thomas. - Enfrentar o grande pesadelo! Na verdade, o que mais me preocupa é...

- Vê-lo? - Thomas o cortou, sabia que o maior medo de Isaac era encarar o irmão novamente.

- Ele já está aí, não está?

- Pela forma que ele deixou seus filhos... - Thomas olhou com cautela para Isaac, que pareceu estremecer. - Ele com certeza já voltou, Isaac.

- Sabe por quanto tempo esperei por isso, Thomas? O olhava deitado, todos os dias. Me perguntei por todos esses anos se um dia ainda o veria abrir os olhos. Fui absurdamente covarde! Eles o marcaram logo ali... - Isaac apontou para o pedaço da clareira que tinha pedras grandes. - O corpo de Briana já estava em decomposição quando ele chegou.

- Onde ele te achou? Quando o encontrou no caminho e o entregou a imortalidade...

- Em Oslo. O segui até aqui, por isso sei a localização.

- É Isaac, agora é a nossa vez - Thomas bateu em seu ombro quando alcançaram os outros. Luc os fitava com atenção.

- Preciso que formem grupos menores, se reúnam para que a eu e Noa executemos os feitiços que irá nos amarrar juntos. - pediu Luc. - Mesmo divididos, só vamos nos separar caso a situação fique o mais crítica possível.

Aos poucos um a um foi se movendo e formando os grupos menores, vez ou outra sendo reposicionados por Thomas. Maya ficou junto a Danna e Liam. Alaric junto a Lisa, Callun e Amanda. Petrus junto a Tim, Ben e Thomasin. Scarlett com Abell, Shang e a própria Noa. Isaac junto a Thomas, e Alexis junto a Luc.

Luc e Noa passaram de grupo em grupo, emitindo uma Luz, que como uma linha envolveu o pulso de cada um ali. As pontas das linhas se encontravam e se fechavam nas extremidades, enlaçando as mãos de todos que estavam em cada grupo. Noa entrou no seu grupo e Luc segurou a mão de Alexis. Os nós se ataram em seus pulsos e o círculo luminoso se fechou e sumiu.

- Só seguimos? - perguntou Scarlett a Noa.

- Sim Scarlett, é a única coisa que podemos fazer agora.

E junto a escuridão, eles caminharam para dentro da floresta densa. O escuro era tão absoluto, que mal se enxergavam. A luz da lua não conseguia penetrar a copa das árvores. No chão não havia folhagens ou qualquer outra coisa que emitisse barulho. A cada passo cauteloso que davam, o silêncio se tornava ainda mais denso, como uma presença.

Alexis sentia que poderia desmaiar de medo. A cada centímetro que se movia, seu corpo se contraia. Medo do silêncio e do escuro. Medo que lhe acontecesse o que acontecera no banheiro da Masmorra quando fora atacada e marcada no escuro. Nem mesmo a mão de Luc presa a sua lhe passava confiança mais. Não havia nada de bom ali.

O frio parecia piorar. A maioria já se enrolava melhor em seus cachecóis, ou apertava mais o casaco. Andavam juntos em sincronia. Qualquer um que se atrasasse em relação ao seu grupo, sentia um puxão invisível em seu pulso.

Thomas sentia Isaac tremer ao seu lado de forma frenética. Aquela não era a primeira vez.


" - Eles já foram? - sussurrou Alice com cuidado. No escuro buraco, ela e os irmãos se espremiam junto a Thomas, que tinha certeza que estavam na toca de algum bicho, e mesmo assim aquele ainda era o lugar mais seguro para eles. Nenhum bicho faria o que os homens de Carter fariam.

Se salvar era a prioridade naquele momento.

Podiam ouvir as folhas serem arrastadas ao longe, assim como as sombras do fogo que os homens carregavam chamando seus nomes. Estavam a dois dias com Carter Winlook em seus calcanhares. Escaparam por pouco na noite anterior. Ainda sequer haviam cruzado toda Massachusetts.

- Ainda não Alice... - Thomas respondeu rezando consigo mesmo. Sua mão esquerda agarrava a roupa dos gêmeos, mantendo-os junto, enquanto a direita segurava Isaac pelos ombros, sentindo o tremor constante do menino.

As sombras sumiram em minutos, junto aos gritos. O barulho cessou e mesmo assim eles permaneceram juntos ainda no buraco. Thomas se perguntando se deveria estar mesmo ali com as três crianças. Isaac chorava e reprimia soluços violentos.

- Acho que já estão longe, não consigo mais ouvi-los... - murmurou Aidan. Thomas assentiu.

- Vamos ficar aqui por mais um tempo, tudo bem? Você precisa se acalmar Isaac - ele olhou para o menino, sentindo extremo desconforto com seu sofrimento.

- Isaac, eles já foram. - murmurou Alice se arrastando até o irmão. O abraçou com força e beijou sua cabeça. - Nós vamos conseguir chegar na Louisiana Isaac, só se acalme um pouco e iremos continuar, não é Thomas? Só mais alguns dias e estaremos livres.

- Sim - Thomas os observava com pesar, era claro que não seriam livres. Naquele minuto sentiu uma angústia esmagadora. Apesar de avisados, os meninos Winlook não dimencionavam o perigo ao seu redor, não entendiam. Ao mesmo tempo Thomas sabia que Isaac ainda ouvia vozes, mas que precisava tanto seguir com os irmãos, que as reprimia. Ele sabia esconder o que o atormentava. Thomas mesmo tendo consciência disso, queria que Isaac continuasse a reprimir o medo. O tipo de medo que ele sentia não era algo que lhe traria instinto de sobrevivência. O medo de Isaac o paralisava, o tornava um corpo trêmulo e latejante. A única coisa que o fazia continuar, era o amor pelos irmãos. Só o seu amor pelos irmãos era maior do que o medo em sua mente. Só assim ele conseguiria sobreviver." 

A Linhagem Winlook 3Onde histórias criam vida. Descubra agora