Capítulo 6 - Fortaleza

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" - Eu te trouxe algo. - disse Brendon O'connel quando Isaac abriu a porta da casa abarrotada, com seu rotineiro sorriso largo no rosto.

- Se sente para jantar conosco Brendon. - convidou Julia enquanto seus filhos e sobrinhos se espremiam para caber na mesa.

- Obrigado Julia, mas estou bem. - Brendon agradeceu honestamente. Não por não sentir fome, mas por achar que a comida que tinham não poderia ser gasta com mais uma pessoa.

- O que trouxe? - perguntou Isaac se aproximando dele.

- Depois do jantar vocês resolvem isso! - pediu Brianna, que se sentava com a ajuda de Aidan, devido ao peso de sua gestação. -Vem Brendon, se sente aqui ao meu lado e me conte algo de bom sobre a cidade. - ela esperou por ele. - Venha! É feio negar o pedido de uma mulher que pode dar a luz a qualquer minuto. - Brianna bateu no lugar vazio ao seu lado. Isaac o olhou em incentivo.

Brendon sentou-se mesmo que envergonhado e desconfortável. A família o fazia bem, mas ele olhava ao redor e via condições precárias. Era sempre assim quando ele adentrava as barreiras do compilamento.

Quando saía por aquela porta, Isaac era um amigo que ia ao seu bar, ele não sabia mais nada sobre suas crianças, seu irmão ou sua esposa. Não sabia ao certo se ele era agricultor ou capanga de algum fazendeiro, apenas sabia que eram amigos. Mas quando estava ali dentro, Brendon sabia sobre ele e o irmão. Sabia que haviam perdido a irmã algum tempo atrás e sabia também que precisava ajudar Isaac com seu segredo. Sabia que trabalhava todas as noites após todos seus clientes saírem do bar, em um projeto muito maior do que o que julgava ser capaz de executar, mas que por algum motivo ele tinha disposição, interesse e não precisava dormir.

Brendon estava compelido a muitas coisas, mas a amizade que tinha com aqueles ali, era verdadeira. Não havia nenhuma magia interferindo.

- Te contaria diversas histórias se soubesse de algo interessante Brianna. - ele sorriu.

- Não me diga isso! Todos sabem que donos de bares são os donos das histórias de toda uma cidade.

- Histórias que não são deles para contar Brianna. - disse Julia sentando-se à mesa com Cleo em seu colo.

- Ah não me culpe! É tão ruim assim querer saber algo do que existe a minha volta?

- Te garanto que nada que valha a curiosidade! - Brendon sorriu sendo solidário. - Estamos em uma aldeia cheia de senhores de idade e agricultores falidos. A única coisa que poderia te contar de interessante é que tem um rapaz dormindo no meu balcão desde ontem, em cima de tudo o que comeu.

- Oh meu Deus! - disse Brianna levando a mão a barriga.

- Me desculpe, eu não deveria ter dito isso a mesa... - Brendon se desculpou desconfortável.

- Não Brendon, é que... - Brianna naquele momento tinha os olhos para pular do rosto. - Ai! - ela gritou. - Aidan, eu acho que chegou a hora. - ela se levantou sendo ajudada por Julia. - Vai nascer..."

***

Na estrutura antiga do castelo, acima da fortaleza, Petrus e Aidan caminhavam pelos corredores aproveitando a luz do sol que trazia calor através do intervalo de pilares da construção.

- Precisa conhecer Londres pai! - disse Petrus observando o pai admirar a clareira. - É o lugar mais interessante que já existiu.

- Imagino que sim meu filho. - Aidan sorriu e passou as mãos pelos braços. Petrus notou que para seu pai estava frio. - Aqui é tão diferente...

- Quer entrar? Está com frio?

- Não é como se eu pudesse adoecer mais - Aidan riu e tocou o ombro do filho.

- Já havia pensado em se tornar imortal?

- Não. Não depois do que houve com a Alice, e não depois de ter conhecido sua mãe... - Aidan admitiu se apoiando na mureta do castelo e admirando novamente a vista. - Mas agora é diferente, não é?

- Diferente?

- Vocês são infinitos como eu, e eu sinceramente, entendo tudo que Isaac fez.

- Nada justifica o que ele fez! Nada!

- Não tenha raiva dele Petrus - Aidan pediu com honestidade ao notar a alteração na voz do filho. - Não estou aqui para odiá-lo, e nem se eu quisesse poderia. Eu o amo!

- O que ele fez foi errado...

- Completamente! - Aidan o interrompeu. - Completamente errado! Mas você pode culpá-lo? Ele não sabia o que aconteceria quando me deu a imortalidade, ele me disse isso. Eu não sabia que ele me seguiria e me veria morrer, mas o que ele poderia fazer? Vocês estavam em casa meu filho, vocês esperavam por nós. Se Isaac tivesse tentado impedi-los, teria morrido, e vocês ficariam sozinhos.

- Ele não deveria ter escondido isso de nós.

- Não deveria mesmo, mas tudo isso passou e aqui estou eu, não estou? - Aidan sorriu. - Não me sinto orgulhoso por apenas um de nós dois poder viver, mas é o que temos.

- É como será pai, ele não voltará mais. - Petrus disse com convicção. Se apoiou ao lado do pai na mureta. - O que será que vem acontecendo com a mente dele nesses dias? Agora que as trevas...

- Eu não sei! Não me lembro de nada do que se passou. A última coisa que me lembro é de sua mãe gritando... - Aidan parou por um instante. - Ainda se lembra dela?

- Claro que me lembro! Não passou um dia em que não me lembrasse.

Aidan sorriu e depois de alguns segundos sua feição mudou. Ficou sério e tocou os ombros do filho.

- Queria ter conhecido seu menino meu filho, nosso menino.

- Ah pai, Letto teria te amado muito... - Petrus suspirou sentindo uma tristeza saudosa ao pensar no filho, ao mesmo tempo que felicidade por poder falar sobre ele.

- Eu sinto muito por ele, sinto mesmo...

- Letto viveu uma vida completa pai, e eu sinto a falta dele quase que fisicamente, mas tenho paz por saber que ele viveu uma vida normal. Viu os filhos crescerem, viu alguns dos netos nascerem... Ele não temia como nós, era livre e corajoso, pronto para o mundo.

- Você e Maya então cumpriram seu papel como pais! A saudade é uma consequência, mas fizeram tudo por ele e isso é o que importa. As vezes o certo a se fazer não é o mais fácil, mas vocês lidaram com isso e o deixaram ir. - Aidan observou o interior do castelo. -Eu queria ter criado vocês para o mundo, não para ficarem presos por paredes durante a eternidade...

- Nós aprendemos a gostar do que podemos ter.

- Não se acomode Petrus! Não se pode deixar que o medo os impeçam de viver. Isaac sempre teve medo demais, porque a cabeça dele sempre funcionou diferente da nossa. O medo que ele sente não é normal, é uma marca em sua alma por todas as coisas ruins que nos aconteceram, e eu desejo que vocês não carreguem resquícios disso. Se esse castelo os deixam felizes, eu acho que é uma coisa maravilhosa, mas não fiquem nele por medo de sair. 

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