Capítulo 49 - A Floresta

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- Mestiços! - a voz tão fria e distorcida voltara ecoando na mente de Isaac. Ele congelou. Maya percebeu, e tocou o braço do pai, mas ele não podia vê-la enquanto de olhos fechados tentava reprimir a disformica Alice de sua cabeça.

O grupo parou ao seu redor ao notar algo errado.

- Está passando bem? - a voz de Maya insistiu. Isaac com muito esforço assentiu e abriu os olhos para continuar, mesmo sentindo um frio cortante em seu estômago.

- Noa? - Abel sussurrou chamando a neta, que fitava Isaac. Noa virou-se para ele. - O que acha que...

- Está calmo demais! - Noa observou as árvores, nada se mexia. - Pensou que seria assim?

- Não - Abel engoliu em seco. O resto do grupo voltava a andar.

- Eu também não, vô. - ela suspirou e voltou a empunhar a varinha.

Todos se agruparam novamente. Passos muito mais firmes que os que deram na madrugada, agora cuidadosamente seguiam o caminho novamente. Havia se passado meia hora quando Amanda parou abruptamente de caminhar.

- Eu preciso parar! - disse ela ofegante. Suas mãos já iam aos seus joelho para que conseguisse ficar de pé. Alaric se aproximou para ajudá-la, mas não foi rápido o suficiente. Amanda caiu no chão.

- Amanda! - gritou Shang apavorado.

Amanda começou a se debater no chão da floresta, os olhos revirando em seus eixos. Alaric no chão, ao seu lado, a puxava para seu colo.

- Faz alguma coisa! - Alexis gritou para Isaac. O grupo estava todo no chão agora, cercando Amanda, desespero os consumindo sem saber como reagir, como ajudar. Alaric a mantia o mais ereta possível, apoiada em seu peito.

- Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o Vosso nome - Lisa começou a rezar. Lágrimas pesadas deixavam seus olhos. - Venha a nós o Vosso Reino. Seja feita a Vossa vontade, assim na Terra como no Céu... - pegou a mão gelada de Amanda.

- Não toca nela! - alertou Liam puxando a mão da mais nova.

A cor de Amanda ia a deixando, seu corpo colidindo violentamente ao corpo de Alaric, que apenas tentava contê-la. Seus olhos estavam completamente brancos e um gemido de agonia deixava seus lábios entreabertos, até que seu corpo parou.

Então a voz saiu da boca de Amanda com dificuldade, fria, pesada e escura:

- "Como ousam entrar na toca da bruxa Joane? O leito, a casa. Pisar no chão mágico de Kol, o espírito azul. Todos vão queimar, trazendo o sacrifício que nos foi tirado antes. O sangue ira ferver na terra, trazer a escuridão e alimentar nossas criaturas. Nós os esperamos na caverna da colina. Não podem mais fugir."

Os olhos de Amanda então se fecharam, e ela perdeu as forças no colo de Alaric. Os outros estavam calados e assustados. Trocavam olhares suspeitos.

- Quem é Kol? - murmurou Thomasin.

- Bruxa Joane? - se perguntou Alaric.

- Quem aqui sabe? - gritou Luc repentinamente se colocando de pé. - Quem aqui sabe qualquer coisa útil? Viemos até aqui sem sequer falar o que realmente precisamos fazer, que é: Matar! - Luc ofegava. Tinha o rosto vermelho e parecia fora de si. - Viemos matar! E não há nada aqui para nos ajudar. Não há ninguém aqui que saiba o que realmente está nos esperando, não é verdade? - ele olhou para Noa e queria esgana-la naquele momento.

- São as bruxas da noite. Só pode ser elas! - disse Noa timidamente quebrando o silêncio entre os demais. Ela se colocou de pé também.

- Você não sabe coisa alguma! - Luc se aproximou dela, causando um sobressalto nos membros da Liga, que se puseram entre os dois em segundos.

- Não se aproxime dela assim! - Thomasin o afastou pelo peito, o mantendo longe.

- A corajosa Thomasin! - Luc a olhou com maldade e sarcasmo. - Tão corajosa que fugiu e se escondeu. Tão corajosa que não pôde ajudar a dar sequer um fim aos corpos queimados e mutilados dos amigos que tinha, não é?

- Você não sabe como... - Thomasin murmurou envergonhada.

- Luc! - os interrompeu Thomas, tocando seu ombro.

- Pare de defendê-los Thomas! - Luc grunhiu e se esquivou do toque. - O que eu não sei, Thomasin? Não sei que teve medo? Acha que alguém aqui está se divertindo?

- Por que não param com isso? - pediu Maya exaltada. - Todos vocês!

- Não, Maya! - Scarlett olhou para todos da Liga, que se agruparam ao redor de Noa. - Ele tem razão, afinal, quem nos garante que eles não vão fugir mais uma vez?

- Parem já com isso! - gritou Thomas - A floresta está mexendo com vocês, não percebem? Não conseguem perceber depois de tanto falar sobre isso? Vamos logo! - ele começou a andar, enquanto o grupo ainda permanecia tenso, parado. Alaric ergueu Amanda do chão em seu colo e seguiu ao lado de Thomas. - Como acha que ela está?

- A cor dela voltou e a respiração está estável. - Alaric a avaliou com uma observação atenta. - Acho que só... Só a possuíram por um momento.

- Nós temos que nos manter racionais meu rapaz, sei que isso é só o começo. - Alaric assentiu. Thomas olhou ligeiramente para o grupo atrás de si.

- Não se pode mesmo confiar em covardes... - Scarlett murmurava para Luc.

- O que você disse? - perguntou Noa, agora exaltada.

- Não estou falando com você! - Scarlett respondeu rispidamente.

- Eu escutei! - Noa insistiu.

- Deixa isso pra lá Noa! - pediu Abel ao seu lado.

- Nós viemos até aqui, não tem o direito de nos chamar de covardes! - disse Noa raivosa.

- Então agora é a hora que sai correndo? - perguntou Scarlett a encarando, tinha mais frieza eminente em seus olhos acinzentados. - Ou vai esperar alguém morrer para fugir?

- E por que você se acha melhor? - rebateu Noa se livrando da mão do avô em suas costas. - Trancados durante anos, como loucos! Vai aguentar ver seu pai novamente? Ou vai se lembrar que ele tentou te matar há dois dias atrás?

- Não fale dele! - Scarlett a alertou.

- Quem pode garantir que qualquer um de vocês tem estabilidade pra isso? - Noa continuou a falar, as duas se encaravam. - Só estão aqui porque são fortes, não porque são um modelo.

- Caso não tenha notado, toda informação que deu à eles o Isaac sabia, e ainda mais detalhadamente. - Scarlett se aproximou de Noa vagarosamente. - Ninguém precisa de qualquer um de vocês aqui, vocês não possuem poder ou coragem para atravessar essa floresta.

- Ah, mas você tem? Logo você que não consegue perceber a diferença entre o próprio pai e um espírito escuro vazio? Ou você é tão mimada assim que não conseguia aceitar que ele estava morto? Muito fácil falar de dentro da sua jaula, enquanto você estava sendo protegida por todo tipo de magia e imortalidade existente. É muito fácil ter essa coragem! - disse Noa mais irritada ainda, principalmente por ter os olhos de Scarlett em cima dela daquela forma feroz. - Nós estávamos aqui fora! Construindo uma vida, todo esse tempo...

- Scar... - Petrus passou a mão pela cintura de Scarlett, tentando parar seus movimentos, mas ela caminhava de encontro a Noa decididamente agora. Estavam a centímetros de distância.

- Noa, se afaste dela! - pediu Ben quando notou que Noa sustentava a provocação.

- Você acha que sabe de alguma coisa sobre a vida aqui fora, sua recém nascida de merda? - Scarlett empurrou o corpo magro e alto de Noa, que puxou a varinha do bolso com rapidez e a atacou com um impulso. Scarlett deu dois passos para trás, contendo o impulso de Noa com as mãos estendidas sobre o peito, o comprimiu entre as mãos e o liberou. - É melhor você correr! 

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