11. Corvos da Tormenta

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Há 15 anos o Reino de Lince compreendia todo o norte de Antares. E por 15 anos a conquista de Leon sobre Alvovale, ao noroeste e Rioalto, ao sudoeste, feriu o orgulho dos linces. Ambas as cidades eram cobiçados pontos estratégicos responsáveis por garantirem a soberania de extensas terras férteis para quem às dominasse.

Rioalto foi a primeira perda, um mau agouro do que estava por vir. A cidade ficava entre duas cadeias de montanhas, uma subindo ao norte e outra descendo ao sudeste, criando assim uma fronteira entre as monarquias em guerra. E quem a controlasse, ganharia fácil acesso aos campos desprotegidos do adversário.

E com a tomada de Rioalto, Alvovale tornou-se um alvo fácil, pois permaneceu sozinha entre os vales ao norte de Leon, sem esperança de reforços chegarem, pois a passagem entre as montanhas foi tomada.

Em menos de um ano após a tomada de Rioalto, Alvovale caiu nas garras do general Alexandre Griffhart, concedendo-lhe a alcunha de "implacável". Um golpe que deixou marcas no ego dos linces mais ufanistas, como Eric, o homem que aguardava a chegada das carroças e carruagens enquanto massageava a runa do machado preso ao cinto por uma tira de couro. Ele mordeu o lábio inferior e bufou uma rajada quente, fedorenta, tremulando os curtos fios negros que lhe alfinetavam a testa.

Aos 33 anos, os olhos negros de Eric Tormensson refletiam todas as escabrosidades testemunhadas desde que ingressou no exército, matou homens de Leon e foi condecorado como Chefe Guerreiro, liderando os 50 melhores de Lince, os Corvos da Tormenta.

Finalmente.

As bandeiras cinza e alvas com o lince estampado em azul surgiram no horizonte, enfeitando a dúzia de carroças tremelicando com a irregular estrada de tijolos. Na frente, como era de se esperar, vinha Edmundo, o capitão da guarda real trajando sua prateada armadura de placas e elmo arredondado, escondendo o curto cabelo grisalho.

Na maior das carruagens, um cavaleiro seguia ao lado da janela do veículo.

Gustav Tormensson.

Diferente do irmão, Gustav tinha o cabelo negro cumprido até o ombro. Eric odiava admitir, mas ele era um sucesso com as mulheres, o rosto simétrico, o olhar profundo e o queixo quadrado dele talvez ajudasse.

Mas porque ele não trouxe as duas espadas? A visão das lâminas embainhadas em cada flanco do irmão já foi um mau agouro em tempos de guerra, para o inimigo. Deixando as nostálgicas memórias para trás, Eric Tormensson desacoplou as costas da muralha para aproximar-se do irmão dois anos mais velho.

Os dois pares de olhos negros se encontraram, um sorriso inteiro e um pela metade se formaram. Uma ordem foi gritada e as rodas das carroças pararam de agredir os tijolos tortos da estrada de Lincevall.

— Onde está o tagarela que vive do teu lado? — Gustav perguntou ao desmontar do equino.

— Ivar está para lá da muralha. — Eric apontou para o portão aberto. — Mas você... Não vai levar as espadas?

Gustav levou as mãos aos flancos, apalpando a cintura.

— Pois é... é que... eu não vou com vocês...

— Por quê? Por acaso se garante apenas com manipulação? Você já foi mais humilde, Príncipe da Tempestade.

— Uma piada que virou apelido contra minha vontade. Mas você me interpretou errado, não quis dizer que não levarei minhas armas. Eu, Gustav, não irei com vocês à Cidade Livre.

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