8. Sala, Salão e Prisão (Parte II - Salão)

581 80 1
                                    


Contando com uma área de um quilômetro quadrado, dez metros de altura e dois andares, o Centro de Eventos Universitários arrancava suspiros admirados daqueles que paravam para contemplá-lo. Lá dentro, no salão principal, mesas redondas forradas com toalhas brancas bordadas foram dispostas numa simetria perfeita, proporcionando espaço suficiente para os convidados transitarem sem precisar empurrar quem estiver no caminho. As cadeiras estofadas contavam com uma decoração semelhante a das mesas. 

Cada família fora alocada em mesas particulares. Mais de trezentas pessoas ocupavam o salão. Foi então que Ronan percebeu haver mais de uma turma de calouros na universidade, pois tantas faces jovens e desconhecidas não poderiam ser dos irmãos e primos de seus colegas. Os pais compareceram em peso, a presença deles foi requisitada pela instituição, não que precisassem, pois qualquer um que tivesse um filho ou filha, aceito na Universidade de Leon não perderia a chance de conhecer as instalações, os colegas e o simpático reitor.

A família Briggs foi alocada numa das mesas mais ao centro, próximos o bastante para enxergarem e ouvirem com clareza quem subia no palco, mas em contrapartida, o movimento por ali era intenso apesar do espaço arejado que permitia a locomoção fácil dos transeuntes. Ronan detestava ver as figuras surgindo e sumindo em seu campo de visão. Espiou a mesa dos Zeppeli, ela contava com Dario, seu pai e sua mãe. Ao ver a Sra. Zeppeli, recordou do convite para o jantar, marcado para mais tarde. Ronan já havia planejado ir falar com eles assim que a celebração chegasse ao fim. 

Deixando os Zeppeli de lado, encontrou Nathalia e sua mãe, ambas aguardavam estoicamente o inicio do evento, sentadas numa mesa lá na frente. Ao notar a ausência do pai da garota, refletiu: Ele deve ser alguém muito ocupado, mas não vir num evento desses é sacanagem.

Laura Briggs permanecia admirada. Era a primeira vez que adentrava no mundo oculto às famílias comuns. Ao notar cada peça caríssima de decoração, tecia um comentário fútil para Hobb, que não poderia se importar menos. O pai de Ronan esperava o fim daquilo mais que qualquer coisa. Apesar de odiar esse mundo, Hobb Briggs era capaz de suportar aquele ambiente pelo seu filho, que demonstrava uma admiração tão grande com tudo aquilo quanto a sua esposa.

Demorou, mas Ronan finalmente encontrou Anna, a garota que trocou algumas palavras no dia anterior. Na mesa dela a plaquinha de reserva perdurava com o nome da família Ambrósio escrita nela, apenas a garota e o pai faziam presentes. Ela parecia incomodada, triste, enquanto o pai, um sujeito alto e de cara quadrada expressava impaciência por ter de comparecer aquele evento. Isso tudo fez Ronan imaginar o relacionamento entre os dois.

Para alegria dos ali presentes, a recepção teve início. O primeiro a subir no palco para discursar foi o próprio reitor, uma figura baixa de cabelo castanho curto permeado por fios grisalhos, vestindo um conjunto marrom de linho rente ao corpo. Por um tempo ele ficou em silêncio, esperando os presentes também ficarem. Quando conseguiu a almejada atenção, deu inicio ao monólogo:

— Sejam todos bem-vindos a nossa humilde celebração em homenagem aos novos alunos. Espero que gostem de tudo que preparamos para vocês... — Hesitou por alguns segundos. Então se lembrou do que havia esquecido. — Devo dizer que antes de servirmos o café da tarde, teremos alguns discursos para suportar. Pensando nisso, disponibilizamos café e chá à vontade para que ninguém durma durante cada monólogo, principalmente quando for à vez da querida professora Grivaldo palestrar sobre a História da Universidade. — Risadas espontâneas tomaram o salão de assalto com o pertinente comentário enquanto a dita professora se encolhia de vergonha na bancada próxima ao palco.

Preservando esse clima descontraído o evento foi aos poucos convergindo em seu desfecho. Hobb, por algum milagre, estava gostando do que escutava. A cada novo palestrante sua opinião quanto àquela instituição ia aos poucos se alterando, de "bando de canalhas" para "talvez nem todos sejam vilões dos contos de fadas".

Após o reitor subir no palco e anunciar o fim do evento e o inicio do café da tarde, Ronan saiu em disparada para encontrar o amigo. Passando por todas aquelas mesas e convidados que os separavam. Finalmente os alcançou pouco antes de levantarem para irem se servir.

— Boa tarde senhor e senhora Zeppeli. Meu nome é Ronan, sou amigo do Dario, muito prazer em conhecê-los — disse atropelando cada palavra enquanto se inclinava numa saudação formal demais para a situação.

— Olá querido, não precisa de tudo isso — respondeu à senhora Zeppeli, honrada pelo excesso de formalidade demonstrado.

— Prazer em conhecê-lo. Fico feliz em saber que nosso Dario tenha ao menos um amigo — disse sorridente o Sr. Zeppeli. — A propósito, pode me chamar de Will, e minha esposa de Susan.

— Pode deixar. O convite ainda está de pé?

— Mas é claro — confirmou a mãe de Dario — Ah. Seus pais estão aqui, não estão? Eu adoraria conhecê-los.

— Eles já foram embora, combinaram de passar o dia na casa de uns amigos. —Referia-se aos pais de Ian Smith, o amigo ferreiro.

— É uma pena mesmo. Nós estamos indo nos servir, se quiser pode nos acompanhar, seu nome é Ronan, certo? — foi o pai de Dario quem o convidou.

— Isso mesmo, mas infelizmente não poderei acompanhá-los, eu combinei de ir com meus pais. — Desfez o convite. — Que horas posso aparecer na casa de vocês? — emendou entusiasmado.

— Pode vir lá pelas seis, imagino que o jantar fique pronto depois das seis e meia, sete horas.

— Tá combinado então. Foi um prazer revê-los, e principalmente te conhecer, Sr. Zeppeli. Até mais tarde — Ronan despediu-se correndo para alcançar os seus pais.

RonanOnde histórias criam vida. Descubra agora