8. Sala, Salão e Prisão (Parte III - Sala)

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Ronan ficou pouco tempo na residência dos Smiths, mas o suficiente para contar ao velho amigo ferreiro sobre sua primeira semana na universidade. Ian demonstrou surpresa por ele ter apreendido "feitiçaria" em tão pouco tempo. Ronan soube de antemão que ele não perguntaria como fazer algo do tipo, pois era esperto o suficiente para saber que poderia causar problemas para os dois. Envergonhado por já ter de sair, Ronan despediu-se dos presentes e foi embora para casa, onde se arrumaria para o jantar nos Zeppelis.

Às quatro horas em ponto Ronan chegou em casa. Esperava ansioso pelas cinco e meia, o horário que sairia. E, quando o horário chegou saiu apressado rumo à residência dos Zeppelis.

Esbaforido e com o coração nas mãos, Ronan recuperou o fôlego e a compostura em frente ao portão de ferro.

Uma voz debochada veio da janela.

— Veio correndo até aqui? Tá doidão é? — Dario zombou, estava apoiado na janela da cozinha.

— Nunca é tarde para se exercitar um pouco.

—... Não fique ai dando bobeira, entre logo.

Foi então que Ronan entrou na moradia dos Zeppelis pela primeira vez. Ao passar da porta, foi recebido pelo primeiro cômodo, a sala de estar. O recinto contava com uma mesa marrom escura, onde era servido o jantar em ocasiões especiais. Uma estante de livros ao lado de um sofá de dois lugares à esquerda daqueles que entravam, servia para mostrar aos visitantes que os moradores eram pessoas cultas. À direita Ronan pôde ver um sofá maior, com três lugares, ao lado da mesinha onde eram colocados tabuleiros, cartas e demais itens para entreter nos momentos de confraternização.

Eram quase seis horas e o jantar estava sendo preparado pela senhora Zeppeli, enquanto o marido a ajudava como podia. Vendo essa cena de cooperação mútua, Ronan ficou intrigado a ponto de resmungar para o amigo:

— Nossa! Vendo o senhor Will ajudar na preparação do jantar me fez lembrar do meu velho, e como ele só fica sentado resmungando sobre impostos enquanto minha mãe faz tudo.

Ao ouvir a voz do convidado, a Sra. Zeppeli veio saltitante para cumprimentá-lo, seguida do marido.

— Boa noite querido. Fique a vontade viu, espero que a bagunça não te incomode. A gente esteve muito ocupado, sabe? — ela disse roçando a mão no avental marrom que vestia.

— Que é isso. Não vejo bagunça nenhuma, a casa está impecável, ao contrário da minha — elogiou para a satisfação de Susan Zeppeli. — Vocês precisam de ajuda com alguma coisa?

— Não se preocupe, está tudo sob controle. Logo, logo o jantar será servido, enquanto isso fique a vontade. Dario, distraia nosso convidado enquanto terminamos.

— Tá bom mãe.

Os dois aguardaram o jantar ficar pronto com um jogo de teste de conhecimentos gerais, onde os dois se alternavam pegando uma carta para ler a pergunta escrita nela, Dario ganhou por dois pontos e, por um bom tempo, ficou sacaneando o amigo por errar o ano que Alexandre assumiu o comando do Império.

O jantar foi anunciando quando Susan surgiu carregando o frango assado para a mesa da cozinha.

— Tudo pronto rapazes, podem sentar agora.

E isso eles fizeram, arrastando uma cadeira cada um. Dario atacou pegando de tudo um pouco. Ronan por outro lado foi muito educado, enchendo o prato aos poucos, pegando arroz, macarrão, batata assada, um pedaço do frango assado e maionese. Quando degustou a comida de Susan, ficou maravilhado. Cada porção foi cozida a perfeição, os vegetais eram frescos, suculentos e temperados na medida certa. Não conseguia segurar tamanha satisfação.

— Nossa! A comida está perfeita senhora Zeppeli, nem quando minha mãe se empenha ela consegue fazer algo tão incrível.

— Fico feliz que tenha gostado tanto, mas você deveria agradecer o senhor Zeppeli também, ele é sempre prestativo quando cozinhamos para convidados.

— O que eu posso fazer? Gosto de ajudar quando posso — falou descompromissado o senhor Zeppeli.

Ronan já estava surpreso por ver um pai ajudar a mãe, mas saber que ele fazia isso com frequência era algo admirável.

— Quem dera meu pai ajudasse minha mãe — lamentou com tristeza.

— Pois é. Você ainda não disse o nome de seus pais — Will questionou, pois não estava presente quando a esposa o convidou para juntar.

— Minha mãe se chama Laura e meu pai Hobb.

— Seu pai é o Hobb Briggs? Da guarda?

— Ele mesmo, por quê?

— É que o Mario, nosso filho mais velho é um Procurador Imperial. Ele trabalhou junto do seu pai em algumas missões. Ficamos tão tristes quando soubemos do que aconteceu com o coitado, Mario estava lá no dia.

— O irmão mais velho do Dario é um Procurador? — inquiriu espantado, pois os Procuradores eram uma divisão de elite de Leon, criada para caçar os maiores opositores do império. Com o queixo na mesa, prosseguiu empolgado: — Incrível... Quantos anos ele tem?

— Mario já tem 27, mas deve ser procurador há uns quatro anos. O coitado passou anos se preparando e, quando finalmente foi chamado, quase teve um ataque de alegria — Susan disse orgulhosa.

— Nossa! Eu posso imaginar. E ele estava lá no dia que meu pai foi atingido por aquela conjuração, quanta coincidência.

— Esses renegados são uma escória. Se não bastasse o mal que já fazem e o terror que alastram em cada rumor que os envolve, eles ainda mancham o nome de suas famílias. — Will aquiesceu, perturbado.

Ronan pôde imaginar o motivo: saber que o filho enfrenta gente desse tipo em seu trabalho é de fato, perturbador.

O clima tenso envolveu a sala como a névoa, Ronan decidiu aliviar o clima falando algo mais descontraído:

— O Dario disse para vocês que tem uma Leonhart em nossa turma?

A menção daquele sobrenome fez os três ali presentes se olharem por um tempo.

— Sim, nós soubemos inclusive que o Dario se meteu numa confusão com a filha do Magnus, não é verdade? — Susan disse trespassando o filho com o olhar.

— Mas foi ela quem começou. Ela ficava se exibindo porque já sabia manipular o vento e o fogo na frente da turma.

— Eu nunca tinha visto alguém tão orgulhosa em exibir tanta arrogância — Ronan concordou com ele. — Ela nem parecia incomodada em desafiar o professor no meio da aula. Alguém tinha que fazer ela se tocar.

Contente pelo amigo tomar seu lado, Dario acrescentou:

— O que eu posso fazer? Sou um agente da humildade, responsável em punir os arrogantes de plantão.

— Falando desse jeito eu acho que é você que precisa ser visitado por um agente da humildade — Todos riram com a resposta de Will para Dario.

Cinco batidas na porta da frente ressoaram pelo cômodo onde os quatro almoçavam. Foi o Sr. Zeppeli quem se levantou para receber a visita. A maçaneta girou no sentido anti-horário e foi puxada para dentro. O que parecia ser um oficial do exército foi revelado pela luz das velas.

— Boa noite. Sinto muito incomodá-los em meio à janta... Mas é com grande pesar que venho lhes informar sobre a morte de Mario Zeppeli.

...


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