47. Rioalto (Parte VI)

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Após correr o olhar por cada guerreiro ali no pátio, Ronan encontrou a familiar ruiva que fizera as perguntas ao capitão quando ele explicou a missão aos 60 guerreiros. Com uma leve cotovelada, Ronan chamou à atenção de Dario. Ao receber o olhar reprovador, apenas apontou para a mulher sentada próxima à muralha. Sem dizer nada eles se levantaram e foram de encontro a ela.

Sentada num banquinho a ruiva arrumava os encaixes da armadura, mantendo um olhar inócuo.

— Tudo bem? — perguntou Ronan.

Vitória direcionou seus olhos verdes para seus aprendizes.

— Quem diria, dois dos três cavaleiros de Belfort chegaram para nos salvar, mas onde está a terceira? Ela se perdeu por acaso? — comentou num lampejo de bom humor graças à visão dos rapazes trajados em metal, mas a tristeza logo abateu suas feições. — É claro que não está tudo bem. Testemunhei o meu melhor amigo ser queimado vivo em minha frente. E agora servimos ao império que sempre detestei desde pequena. Mas agradeço que nem tudo esteja perdido.

A última frase intrigou Ronan.

— O que não está perdido?

— O legado de Victor. Se tudo der certo, a Anna vai me ajudar a tocar a obra do primo — terminou num lamento. — Ele não pode ter partido em vão.

Vitória se levantou, estufou o peito, ajeitou a cota de malha e empunhou a arma largada no chão, uma maça metálica formada por uma haste com empunhadura e uma cabeça cujas saliências pontudas e uniformes contornavam o entorno nas proporções de um punho fechado. Uma arma perfeita para amassar crânios e armaduras.

— Uma maça. — A incerteza ressoou na voz de Dario.

— Algum problema?

— Pelo contrário, pensando bem, até combina com você.

Após uma risada, Ronan entrou na conversa:

— Mas Dario, quem tem a cabeça dura aqui é você.

— Ou eu sou cabeça dura ou de vento, esses dois não podem conviver.

Breves risadas trouxeram leveza ao ambiente tenso. Os três sabiam que tinham de aproveitar estes momentos de inocência, pois quando menos esperassem, o maldito cavaleiro surgirá com o seguinte comando:

— Chegou a hora pessoal, venham comigo. — Ian ordenou ao adentrar no pátio do castelo, seguido pelos mesmos cinco cavaleiros que o escoltaram quando saíra.

Aqueles prontos como Dario, Ronan e Vitória caminharam para perto do capitão. Impaciente, Ian e seus cavaleiros vociferaram para que os atrasados tivessem a decência de se apressar. Em menos de cinco minutos, todos aguardavam devidamente trajados. Sem mais perder tempo, os sessenta marcharam até o portão do castelo, onde duas balistas com seus respectivos operadores os aguardavam.

As balistas de Rioalto pareciam versões gigantes das balestras empunhadas por besteiros. A distância da frente para à traseira contabilizavam pouco mais de três metros, e a munição, entorno de um e meio. Tais dimensões avantajadas permitiam disparar suas mortais setas a centenas de metros. Fazendo delas uma simples, mas eficiente contramedida para destruir os irritantes trabucos de Lince.

Trinta soldados, o que contabiliza metade da companhia, marchariam em frente às carroças transportando as armas de cerco enquanto a outra metade forneceria apoio à retaguarda. Ronan, Dario e Vitória foram postos na frente, logo atrás do capitão Ian e seus cavaleiros.

— Cavalos poderiam ajudar a transportar estas porcarias mais rápidos — Vitória reclamou.

Ronan já tinha a resposta na ponta da língua.

— Não seria uma má ideia, mas se um cavalo fosse alvejado, assustado ou morto, demoraria o inferno para desfazer as amarras.

— Vocês por acaso são filhos de generais e só eu não sei disso?

— Meu pai foi um oficial por muitos anos, ele costumava me contar das aventuras em que se metia. Acho que ganhei o interesse dele com o tempo — explicou Ronan, mas omitiu a tragédia que limitou os movimentos da perna dele.

— Parabéns pra você, fascinante história.

Ronan ficou incerto quanto ao tom do comentário. Agora o grupo se aproximava do portão oeste, por onde ele sabia que as forças saiam para realizar sucessivos contra-ataques, impedindo os invasores de cercá-los por completo. Enquanto o cerco não se fechava, comida não seria problema. O muro externo crescia a cada passo dado. Ian, como capitão da companhia, aproximou-se do encarregado pela segurança do portão. Palavras foram trocadas e ele logo voltou para o seu pessoal, e com um aceno de mão, confirmou.

Eles foram autorizados a partir.


RonanOnde histórias criam vida. Descubra agora