47. Rioalto (Parte III)

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No alto da muralha externa da cidade, um arqueiro sorriu quando sua flecha trespassou o peito do último alvo lá embaixo, estirado junto aos demais infelizes. O sul estava seguro, a missão fora um sucesso e o alarme não ressoou. Sem tempo a perder, os demais integrantes da unidade correram para as escadarias que desciam em paralelo à muralha.

Com o arco longo em mãos, Ivar caminhou até ficar no topo do portão sul, onde os demais Corvos da Tormenta aguardavam do lado de fora a passagem ser desobstruída para adentrarem, ou melhor, invadirem. O ressoar de trombetas rompeu o silêncio, mas tarde demais para abalar a confiança da horda que adentrava o portão aberto por dentro.

Da bifurcação da rua principal, a tumultuada força de resistência foi entrando em formação. Lanças foram baixadas, escudos erguidos e as bestas juntas dos arcos dispararam suas setas afiadas contra os invasores.

Cinquenta metros foram percorridos até os Corvos da Tormenta levantarem seus escudos redondos. Formando uma gigante proteção côncava, os melhores de Lince venceram a saraivada de flechas sem uma baixa, mas seus escudos foram ouriçados, espetados pelas setas que não trespassaram a madeira. O contra-ataque já fora antecipado, quando os escudos baixaram, dez arqueiros levantaram seus arcos longos e dispararam as setas assim que o líder rugiu o comando:

— Disparar!

Na trajetória em arco as flechas castigaram o ar em sua frente. Três lanceiros e dois besteiros foram ao chão. Mais quinze metros foram ganhos pelos invasores, mas trinta soldados em vestes brancas surgiram na bifurcação logo à frente, engrossando a fileira onde a resistência de Rioalto se amontoava, sem liderança aparente.

— Ivar, agora! — bradou o líder dos Corvos da Tormenta.

O braço-direito puxou a corda e a tencionou com uma flecha entre os dedos, cuja ponta estava envolta por um pano em chamas. Ivar apontou o arco contra as estrelas, e soltou. O projétil chamejante subiu desacompanhado aos céus, para descer ganhando uma velocidade assustadora, atingindo um escudo retangular segurado por um soldado em vestes brancas com o símbolo do grifo vermelho estampado.

Gritos de guerra retumbaram das duas centenas de soldados que desafiavam os cinquenta invasores. Até surgir da bifurcação esquerda um cavaleiro montado. Por sua postura, assemelhava-se a um oficial de alta patente, pronto para pôr ordem à desorganizada e acuada força defensiva.

— Não fiquem parados como os inúteis que são, ergam os escudos, desçam as lanças e disparem esses projéteis mais uma vez.

As ordens foram acatadas por faces esperançosas. Os arcos foram tencionados e bestas levantadas, já devidamente recarregadas. O oficial conduziu o cavalo para frente da formação. Ergueu a mão direita para que os atiradores se preparassem para efetuar o disparo numa saraivada.

Zunidos de uma centena de flechas ressoaram ao sul de Rioalto.

Olhares aterrorizados vislumbraram a morte vinda de cima como uma punição divina. Setas perfuraram escudos, braços, elmos e armaduras dos solados em formação. O sangue dos mortos e feridos pintou o chão da rua sombria em vermelho. Os sobreviventes fugiram, largando a formação sem remorsos da punição reservada aos desertores.

Do portão externo aberto, centenas de guerreiros empunhando arcos marcharam para assegurar a porção conquistada com a ajuda dos cinquenta melhores de Lince.

— Ivar. — A voz soou abafada pelo espesso elmo fechado. — Recupere as ferramentas de escalada, talvez nós precisemos delas mais tarde.

— Como quiser chefe.


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