47. Rioalto (Parte V)

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Parado em frente à escada, Ian aguardou o relutante Ronan descer ao pátio onde sessenta guerreiros se reuniram. Um estralo longínquo seguido de um zunido agudo fez com que todos ali perto olhassem para o topo da muralha interna. Entre as ameias um projetil surgiu cortando os céus numa velocidade preocupante. Para sorte dos ali presentes, a rocha disparada pelo trabuco sobrevoou o castelo, caindo longe o bastante para não se preocuparem.

— Deve ter sido disparada por uma das catapultas mais novas — Ian disse em voz alta para que todos ouvissem.

Bufando em frustração, Ronan se aproximou dos demais. Sob a pressão do cerco, os sessenta guerreiros devidamente trajados para a ocasião se reuniram formando um circulo no meio do pátio. Ian, em pé no centro da roda, repassou as instruções para os homens e mulheres ao seu redor.

Espremido pelos soldados que se amontoavam, e irritado com a voz do cavaleiro que aprendeu a detestar, Ronan virou-se para trás, para ver o castelo com a esperança de encontrar Anna o observando da janela. Infelizmente ninguém surgiu, mas para compensar, uma figura se aproximava pelo caminho próximo à muralha a sua esquerda. Era Dario, conduzido por dois pomposos cavaleiros mal encarados que pararam quando adentraram no pátio. Dario virou-se para trás, parecia não saber o que fazer, mas as instruções vieram em seguida: um irritado olhar e um empurrão. Bufando sua raiva pra fora, ele caminhou de cabeça baixa até a roda onde Ronan se exprimia.

Ao se encontrarem, se cumprimentaram. Dario explicou que também fora coagido quando Ian leu em sua ficha sobre a afinidade que possuía com a manipulação do ar. Reunidos mais uma vez, eles ouviram as instruções finais vociferadas por Ian.

— Repassando rapidamente para os lerdos que ainda não entenderam. Nós sairemos pelo portão oeste acompanhado de duas balistas e seus operadores. Nossa missão é nos aproximar o bastante para que estas armas possam destruir as catapultas daqueles cagalhões. Lembrando, essa é uma missão onde a discrição é chave. Vários grupos de suporte sairão um pouco antes para distrair os malditos. Por isso precisamos fazer cada minuto valer. Assim que sairmos do alcance da muralha, um segundo destacamento nos seguira para nos dar cobertura caso o inimigo descubra nossa posição, mas eles permanecerão atrás, escondidos, aguardando o devido sinal para avançarem e fornecerem ajuda.

— Não entendi porque uma unidade virá atrás quando eles poderiam nos acompanhar o trajeto todo — resmungou uma ruiva trajada em cota de malha com um elmo em suas mãos.

— Se descobrirem que uma horda se aproxima, eles lançaram uma horda ainda maior para contra-atacar, e então, nunca conseguiremos recuar com tanta gente se atropelando. Com um grupo menor eles revidarão com uma unidade um pouco maior que a nossa, mas darão de cara com uma horda assim que os reforços chegarem enquanto eles ainda marcham.

— Mas porque só duas balistas? — perguntou a mesma ruiva.

— Não queremos perder todas que temos, não é? Eles com certeza devem ter mais trabucos a caminho, vindos do leste. Além do mais, andam desmatando a floresta ao sul e eu duvido que eles pretendam erguer uma pira para dançarem ao redor. Mais alguma pergunta?

Apenas murmúrios esparsos, mas nenhuma dúvida foi direcionada ao capitão, que satisfeito, prosseguiu:

— Partiremos em meia hora, preparam-se e estejam prontos quando a hora chegar, até lá eu peço que não deixem a muralha interna, mas acredito que vocês não sejam idiotas o bastante para se aventurar lá fora. — Deu as costas e partiu rumo ao portão de entrada, acompanhado por três cavaleiros, mais os dois que conduziram Dario até o pátio.

RonanOnde histórias criam vida. Descubra agora