32. Semana de Estudos (Parte II)

229 45 0
                                    


Apesar do movimento insurgente encabeçado por Dario e Nathalia, o restante da semana correu sobre relativa paz. Na quarta-feira o professor e ex-general Fernando Valadar levou os seus alunos até o Centro de Práticas, onde prometeu ensiná-los como exteriorizar a energia arcana em sua forma pura. Após uma aula teórica com o professor Felix na segunda-feira, a turma prestou atenção nas instruções dadas. Os mais perceptivos relembraram de como a manipulação a ser ensinada poderia ser útil, e além de tudo, poderosa quando conjuradas pelas mãos certas.

As instruções foram repassadas e Ronan concluiu que a manifestação da energia arcana não divergia muito da manipulação do vento. Em certo ponto eram iguais, mas para esta aula eles parariam na concentração. Não era necessário sincronizar a energia manifestada com algum elemento. Em contrapartida, a dificuldade residia na forma que ela se manifestaria, para isso, faz-se necessário uma concentração muito maior comparada à sincronização do vento, pois apenas assim a energia acumulada poderia manifestar-se de forma visível, geralmente num tom azulado e fantasmagórico.

Antes de deixar seus alunos praticarem, o professor pediu para cada um fazer uma conjuração simples para medir a proficiência de cada um. Ronan foi chamado por primeiro. Apesar de nervoso, conjurou uma barreira de vento, não era muita coisa, mas ao menos ele a manifestou num estágio satisfatório.

— Muito bom — concluiu o professor tomando notas na prancheta em mãos.

Fernando Valadar continuou o teste, os próximos conjuraram a mesma barreira, talvez por receio de demonstrarem inferioridade. Quando chegou sua vez Dário, ele não se conteve e conjurou uma barreira esférica girando ao seu redor.

Todos o observaram boquiaberto, apesar de já testemunharem algumas das suas demonstrações de poder, essa fora à primeira vez que contemplaram uma manipulação tão refinada vindo de um aluno. Quando chegou a vez de Nathalia, todos se reuniram mais uma vez. A expectativa era grande, podia-se notar pelos olhos arregalados, bocas abertas e respirações profundas. Nathalia Leonhart ajeitou o cabelo e jogou uma mecha para frente do ombro. Em seguida, ergueu uma mão e conjurou a mesma barreira côncava que todos fizeram antes dela, exceto Dario.

A decepção evaporou a expectativa nutrida por todos.

— Muito bom... muito bom. — Aplaudiu o professor. — Eu calculo então que levaremos uns três meses para que todos consigam exteriorizar a energia arcana de forma medíocre. Talvez leve o resto do semestre para conseguirem manipular alguma coisa com ela.

Tudo isso para talvez aprendermos algo útil? Impossível, pensou Ronan enquanto o resto da turma se entreolhava em espanto. Ele virou-se para Dario, e perguntou:

— Ouviu isso?

— É claro. Mas o que você esperava? Aprender a manipular o vento é apenas o começo. Daqui pra frente a dificuldade só irá aumentar.

Ronan não queria admitir a verdade. Depois de tudo que passou para manipular o vento, o que seria necessário para fazer o mesmo com chamas? Como Nathalia já conseguia? Estas perguntas latejavam em sua cabeça. Seu olhar foi à garota do cabelo dourado para admirar tamanha beleza, genialidade e poder.

Na temida aula de quinta-feira, dentro da Oficina de Criação, o professor Ronaldo fez a turma repetir a atividade da semana passada. Durante toda a manhã os alunos trabalharam com os cubos de madeira. Talhando neles o padrão da runa exposta no quadro, para em seguida, imbuí-los de energia enquanto torciam para tudo dar certo. Mas o detestável estouro se repetiu inúmeras vezes, anunciando o fracasso em alto e bom tom. Sobre o olhar inquisitivo e comentários sádicos do professor, os alunos repetiram o processo à exaustão.

— Quantos bosques precisam cair para que vocês aprendam essa maldita runa? Heim? — Ronaldo esbravejou de frente à Karen, que quase chorou devido à pressão. — Ao menos tentem aprender com os erros, e não o repitam! — Ele virou-se para Jonas. — Você chama isso de runa? Isso me parece um retrato da sua cara, senhor Brando. — Jonas terminava sua nova runa na última das seis faces não queimadas pelo fracasso.

O professor a arrancou de suas mãos. Caminhou a passos largos até o caixote, tirou um novo cubo lá de dentro e o arremessou contra o seu aluno, assustando aqueles próximos da trajetória do bloco voador. Por sorte, Jonas conseguiu pegá-lo com as duas mãos. Suspiros de alívio tomaram a sala da oficina até serem massacrados quando Karen soltou um grito ao ver o cubo manchado de sangue pelos ferimentos abertos nas mãos do rapaz, que entre caretas, aguentava a dor para si.

RonanOnde histórias criam vida. Descubra agora