42. Aventura de Verão (Parte II)

293 35 2
                                    


Há meia hora Nathalia partiu, e há meia hora Ronan fingiu estar tudo bem. Quando no fundo, tinha de lutar contras as lágrimas e os gritos querendo sair. A vontade de render-se a tristeza era grande. Precisava ser forte. Tinha de aguentar a dor para que o amigo não se sentisse culpado. Afinal, que culpa Dario tinha nisso tudo? Quando foi a insegurança que o fez hesitar por tanto tempo. Estas e outras reflexões atormentaram suas memórias e corroeram sua sanidade. 

Ronan desembainhou a espada o bastante para ver a runa talhada acima da guarda. Contemplou aquela estrela, aqueles raios ondulados e num vacilo distraído, uma gota caiu e se fragmentou, pontilhando a runa em pequenos pontos umedecidos. Permaneceu inabalado. Secou a runa com a manga do casaco, embainhou o florete e o prendeu em seu cinto.

Após conversar brevemente com Anna, Dario se aproximou.

— Você lembra o que a gente tinha que fazer agora?

Lutando consigo mesmo para deixar tudo de lado, Ronan respondeu:

— Acho que temos de esperar alguém vir nos chamar.

Anna olhava de um lado para o outro como se procurasse por algo, ou alguém. Em fim ela desistiu e voltou para o grupo.

— Não vi ninguém conhecido. Não era para todos os alunos com atividades fora da capital reunir-se aqui?

A voz de Anna atraiu a atenção de um guarda montando vigília a poucos metros. Ele levou a mão à boca e se intrometeu na conversa:

— É porque chegaram cedo demais. As companhias partem depois do meio dia.

Saber que teriam de esperar mais duas horas fez o trio protestar. Anna levou as mãos aos olhos e praguejou:

— Maldito seja você Rafael.

Ronan permaneceu calado, mas Dario tinha do que reclamar.

— Mas por que ele fez isso? Ele Poderia ter marcado uma hora antes, no máximo!

Dario e Anna aguardaram o amigo reagir.

— Tanto faz — foi o que ele disse.

Os dois se entreolharam e ergueram as sobrancelhas.

— Tá tudo bem contigo? — Dario perguntou apoiando a mão no ombro dele

Ronan se desvencilhou do contato com um instinto vingativo e inconsciente. Olhares se cruzaram. As pupilas do agressor se expandiram e fugiram do olhar confuso de Dario, que logo reclamou:

— Caralho! Tudo isso por ter que esperar duas horas? Relaxa Ronan, não é o fim do mundo ainda.

— Desculpe...

Vindos de dentro da cidade, um destacamento de centenas de soldados e cavaleiros armados marchou para fora do portão. Aquela visão intimidante fez Ronan se esquecer dos problemas durante os minutos que seguiram. Ninguém mais entrava ou saia da cidade, todo o fluxo pertencia exclusivamente ao exército. Dezenas de carroças cheias e vazias vieram após fileiras e mais fileiras de guerreiros vestidos em branco e vermelho com armas em punhos. A vanguarda descansou no campo aberto a menos de trezentos metros de onde o trio se encontrava. As carroças abarrotadas de suprimentos acompanharam a cavalaria, já as vazias foram enfileiradas próximas ao portão, ocupando metade da rua. Devido ao inesperado bloqueio, o fluxo se intensificou. Pessoas, cavalos e objetos se aglomeravam no pouco espaço restante, e o movimento de entra e saída foi logo retomado.

RonanOnde histórias criam vida. Descubra agora