48. Contra-Ataque (Parte I)

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Assim como o sol, a simplicidade da missão foi desaparecendo no horizonte. Por entre as árvores a companhia seguia a trilha. Rochas surgiam despercebidas, travando muitas vezes a passagem das duas maquinas de cerco, requisitando tempo, esforço e muita paciência para que os soldados desobstruíssem a trilha. Enquanto isso, ao sul, a pouco mais de um quilômetro de onde estavam, podia-se ouvir o ativar dos mecanismos dos trabucos que arremessavam projéteis chamejantes contra a cidade de Rioalto. A taxa de acerto beirava na proporção: um para três, mas isso não resumia a eficiência dos trabucos. Os projéteis que não atingiam o alvo castigavam os arredores, destruindo construções, esmagando soldados e até mesmo, habitantes inocentes.

Após meia hora da companhia se embrenhando na trilha, parecia que os invasores não haviam notado o contra-ataque se aproximando, comprovando a eficiência das unidades de contraespionagem ou o simples desinteresse dos oficiais de Lince em saber o que acontecia a oeste da cidade.

Próximos dos trabucos, acampamentos foram erguidos. Tendas listradas nas cores azul, cinza e branco eram protegidas por uma extensa paliçada por trás de uma trincheira cavada nos dias que sucederam ao início cerco. Por detrás das duas camadas, os trabucos de contrapeso ameaçavam a integridade da muralha interna da cidade. Altas e imponentes, aquelas monstruosidades da engenharia aterrorizavam os membros da companhia formada por Ian, que marchavam para dar um fim naquele reinado mecânico de terror.

Ronan, Dario e Vitória acompanhavam a marcha, mas agora na retaguarda da formação. Olhando por detrás do ombro mal se podia notar o avanço das forças aliadas, prontas para fornecer o reforço assim que o sinal fosse dado. Voltando para frente, a marcha cessou e os homens e mulheres permaneceram em pé, aguardando as devidas instruções chegarem. Ian surgiu caminhando em direção aos três manipuladores, mas parou no meio do caminho para chamar a atenção de todos.

— Prestem atenção pessoal — anunciou tomando cuidado para não elevar a voz mais do que o necessário. — Em uma breve conversa minha com os rapazes das balistas, eles me avisaram que logo entraremos no alcance necessário para operarem o maquinário. — Seu olhar correu por todos os subordinados. — Até agora tudo ocorreu melhor do que o esperado, mas isso não quer dizer que devemos relaxar daqui para frente, muito pelo contrário, é agora que a missão de verdade começa. Assim que eles instalarem as balistas, preparem-se para defendê-las com suas vidas.

As ordens do capitão foram recebidas por acenos e murmúrios nervosos. Olhando os amigos com o canto do olho, Dario sugeriu:

— Essa seria uma boa oportunidade para fugirmos.

A sugestão soou depressiva aos ouvidos de Ronan, mas foi Vitória quem o contradisse:

— Até seria, mas aposto que seríamos taxados de renegados. Além do mais, para onde iriamos caso conseguíssemos tamanha proeza?

— Relaxa, ele só disse o que todos nós pensamos. — Ronan conseguiu ler o semblante desesperançoso do amigo, pois se sentia da mesma forma.

Percorrendo os trinta metros restantes, o capitão deu a ordem para que todos se posicionassem. Os seis operadores das balistas tiveram a ajuda dos soldados para retirarem as duas armas de cerco das plataformas adaptadas para as carroças. Uma vez desacopladas, os rapazes as instalaram entre as aberturas na trilha, onde a ausência de troncos e galhos permitiria que elas disparassem suas enormes setas contra os trabucos.

Até o momento nenhuma movimentação de tropas ou exaltação foi percebida no acampamento inimigo. Soldados entravam e saiam das tendas. Vez ou outra um cavaleiro surgia para em seguida desaparecer na escuridão.

Entediado pela espera, Ronan voltou sua atenção para o portão sul da cidade de Rioalto. Para sua agradável surpresa, muitas tochas iluminavam o local, em sua maioria trazida pelos inimigos que entravam e saiam do setor já conquistado. Porém, próximo do portão aberto, um guerreiro coberto por uma armadura de placas completa e portando um assustador machado de guerra, exaltava comandos para os soldados que adentravam. Quando terminou, ele encostou o cabo da arma no chão, apoiando as duas mãos sobre o topo do machado. Ronan então notou que ele contemplava uma arma trazida por seus homens.

— Um aríete — Ronan chamou a atenção de Dario e Vitória, que ainda observavam o acampamento inimigo ao sul, ao sul do portão sul.

— O que você disse? — Foi à ruiva quem se aproximou primeiro.

— Lá. — Apontou para o portão da cidade. — Vejam, logo vai desaparecer quando passar do portão.

Dario levou a mão à testa como se para enxergar melhor, e quando viu, disparou para avisar o capitão. Em questão de segundos, Ian surgiu para ver o que tinha acontecido.

— Não vejo nada — constatou o capitão, também levando a mão à testa.

Ronan deixou a posição de vigília para entrar no circulo onde conversavam.

— Era um aríete, daqueles modernos, tinha rodas, uma folha de metal em cima para proteger, tudo. Estamos na merda. Eles vão romper um dos portões interno e invadir o castelo. — O terror foi dominando Ronan a cada palavra dita.

— Não podemos fazer nada. Nossa prioridade agora é derrubar os trabucos. O aríete agora é problema dos rapazes na defesa.

Ronan teve de engolir em seco a realidade que o cercava, mas não conseguia tirar Anna da cabeça. Cada segundo poderia ser a diferença entre a vida de sua querida, e a morte de sua amada. Torceu com todas suas forças para que as balistas não errassem um tiro sequer.

Os três manipuladores voltaram para frente, onde dois times operavam as manivelas das armas para ajustar a altura do arco horizontal, que foi erguendo aos poucos. Observando de perto, a máquina parecia ter o dobro do poder. Ao lado delas jaziam os projeteis separados em duas pilhas de seis fechas, cada uma medindo um metro e meio cada.

— Pronto — anunciou um dos três operadores da balista esquerda.

Dois minutos depois veio a confirmação da direita. Ian encarou cada um deles, e deu o comando:

— Disparar!

RonanOnde histórias criam vida. Descubra agora