23. Lágrimas Cristalinas (Parte II)

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Vê-lo em frente ao portão da universidade fez Anna se desesperar. Com os dedos tremelicando ela puxou o capuz para frente, para ocultar o rosto. Em seguida inclinou a cabeça, tudo que via era os paralelepípedos e a sujeira presa entre eles. Um par de pernas surgiu em seu campo de visão limitado. A ponta de um dedo indicador apareceu em seguida, puxando o seu queixo para cima, para um par de olhos azuis. Envergonhada por sua face marcada pelos abusos daquele homem, Anna desviou o olhar que fixara em Nathalia.


— Você tem que enfrentá-lo amiga.

É fácil falar sua linda besta do inferno, Anna pensou enquanto engolia a saliva acumulada na boca. Bufou e por fim, encarou-a.

— Não! — disse em alto e bom tom.

Mas ela arregalou os olhos.

— Você vai sim — Nathalia insistiu segurando-a pelo casaco de lã vermelha.

— Não vou não! — Anna resistiu lutando para se desvencilhar das garras dela

— Anna, você vai lá! — esbravejo pausando a cada palavra.

— Me...

Mas foi cortada quando uma voz inquisidora se fez ouvir.

— Anna!

Era seu pai.

A bravura ardendo em Nathalia sumiu assim que ouviu aquela voz, fazendo-a se esconder atrás da amiga, como uma boa covarde. Decepcionada com a leoa acuada, Anna se adiantou encarando o pai com uma bravura repentina.

— Eu não vou para casa, não depois do que você fez.

— Você é minha filha e vai fazer aquilo que eu mandar.

Nathalia notou como ele arfava ao proferir cada palavra. A bravura minutos atrás dissipada, retornou a si, arrastando-a para a realidade. Decidida, saiu de trás da amiga e se pôs ao lado dela.

— A Anna vai ficar lá em casa — intrometeu-se tentando soar corajosa.

O brutamonte olhou-a de cima para baixo. Analisando cada detalhe: o cabelo dourado bem cuidado, a pele pálida, as belas roupas que vestia e aqueles malditos olhos azuis.

— Não me diga que... — Ele arqueou as sobrancelhas em satisfação. — Você... Você é a tal... Nathalia, a filha do lorde Magnus... — terminou num sarcasmo que apavorou a garota.

— Lucio! Não mecha com minha amiga — Anna vociferou alterada.

Lucio?

— Não me chame pelo nome, sua pestinha.

— Como eu posso te chamar de pai quando você fez isso comigo?

Anna jogou o capuz do casaco vermelho para trás. Os estudantes reunidos próximos ao portão pararam o que faziam para dar atenção à briga familiar e se horrorizaram ao verem o rosto inchado da pobre garota. Lucio Ambrosio, o pai de Anna, avançou com um movimento preciso e agarrou o braço esquerdo da filha.

— Anna, vamos pra casa! Temos muito que conversar.

O termo "conversar" provocou uma sensação gélida em Nathalia. A amiga tentou lutar, mas a força desproporcional do brutamente sobrepujou qualquer esforço posto pela frágil e arrebentada garota.

RonanOnde histórias criam vida. Descubra agora