28. O Rei do Sul no Oriente (Parte I)

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Com um sorriso estampado no rosto e uma coroa sobre a cabeça, Henrique Belfort cavalgava seu alazão. Após uma semana e meia em marcha, a comitiva real alcançou à fronteira do reino com os Principados do Oriente. Em breve, toda essa região pertenceria ao futuro Império de Antares. Ao lado do rei cavalgava Patrique Belfort, seu primogênito, futuro representante do império na região sul, nas terras que outrora herdaria do pai. O acordo celebrado na conferencia o deixara um tanto amargurado. Afinal, não herdar um território soberano era o terror de qualquer megalomaníaco, mas aos poucos, Patrique vinha se convencendo de que assim, talvez, teria a chance de trazer prosperidade e paz às terras do reino moribundo de seu pai.

Para a ocasião o rei fizera questão de embelezar seus cavaleiros. Todos trajavam armaduras polidas, reluzentes, com um aspecto recém-forjado enquanto as armas foram adornadas com joias. As pontas de lanças tremulando nas mãos de seus portadores reluziam o brilho do sol. Os estandartes recém-costurados ostentavam as três espadas longas dos três Cavaleiros de Belfort, aqueles que juraram proteger a vila que futuramente tornou-se a capital do reino. O símbolo era composto por duas espadas cruzadas em diagonal, apontando para cima, simbolizando os dois filhos do terceiro, este eternizado pela espada cruzando as duas, de cima para baixo.

Mas toda essa pompa ostentada pelos orgulhosos membros da comitiva havia custado uma fortuna aos cofres reais, mas Henrique não se permitiria chegar ao palácio de sua prometida com seus cavaleiros decadentes como estavam. Antes de esbanjar seu tesouro, nem sua guarda pessoal trajava todas as peças da armadura, e os recrutas, tinham de vestir cotas de malhas com elos enferrujados e peças metálicas de segunda mão, largadas no arsenal pelos oficiais.

A trilha que a comitiva seguia vinha estreitando. A gradativa abundância de rochas e cascalho atrapalhou a passagem das carroças abarrotadas de suprimentos. As laterais do caminho limitaram a passagem devido às inúmeras árvores sufocando a entrada dos raios do sol da tarde abafada. A velocidade do progresso cairá drasticamente. Na ponta da formação, Henrique bradava comandos, ordenando seus vassalos a tomarem cuidado com seus pertences. Próximo dali um soldado desmontou do cavalo e optou por trespassar as rochas a pé, avançando até próximo do rei, para informá-lo da situação:

— Vossa majestade! — anuncio sem fôlego. — Uma das carroças lá detrás perdeu uma das rodas.

— Perdeu? Como um veículo perde uma roda assim do nada?

— Ela quebrou meu senhor, eu acho que é por causa da trilha ter "muita pedra".

O rei quase enlouqueceu ao ouvir aquilo.

Atento à conversa, Patrique Belfort aproximou-se dos dois e tomou as rédeas da situação para ele.

— Tudo bem, tudo bem. Faremos uma breve parada para checar à condição dos transportes e dos cavalos. Enquanto a você — disse ao mensageiro que enlouqueceu o rei. — Vá e ajude o pessoal a trocar a roda, devemos ter algumas sobrando, justamente para situações como essa.

— É claro vossa alteza, é pra já — disse o coitado disparando com cautela. Ajeitando a suntuosa capa, Henrique conduziu o cavalo até emparelhar com Patrique.

— Tu és muito bonzinho com eles, meu filho. Assim eles ficarão moles e deixarão de fazer aquilo que os comandar. Tu serás o futuro representante do sul do nosso futuro Império, devias ouvir as lições de seu pai de vez em quando.

— Você passou seu reinado inteiro gritando com seus súditos, e olha onde isso nos levou, ignoraste o poder que a manipulação arcana poderia trazer ao nosso reino, preferiste investir no teu exército em vez de desenvolver a economia do teu reinado. Tu és um exemplo do que não fazer, e sabes muito bem disso.

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