25. Reta Final (Parte II)

288 57 1
                                    


Anna continuou ocupando o quarto fornecido pela universidade. Apesar de tudo sentia-se bem consigo mesma. Sua bondade excessiva havia em fim cedido espaço a um ressentimento contra o pai abusivo, diluindo a culpa que sentia por tê-lo denunciado. 

No fim Lucio foi solto após o julgamento, mas a sentença imposta havia lhe tirado os direitos de pai sobre a filha, tornando Anna uma mulher independente. Desde então, Lucio entregou-se ao alcoolismo e agora passava os dias lamentando suas mágoas para os seus companheiros de manguaça.

Enquanto isso, em outro bairro da capital, Ronan tinha sua rotina determinada. Ele acordava, ia para a universidade, prestava atenção na aula, depois ia à biblioteca — onde encontrava Anna estudando sobre os assuntos que a interessava. Às vezes até arriscava conversar com ela, apesar de não terem muita intimidade, no fundo sentia-se compelido em demonstrar solidariedade, pois ela tinha passado por tanta coisa nas últimas semanas.

Em uma terça-feira à tarde, Anna foi à Biblioteca Universitária falar com Ronan enquanto ele fazia a leitura de um guia sobre manipulação para iniciantes. O rapaz ocupava uma mesa entre duas largas estantes.

Esgueirando-se pela beirada, Anna se aproximou em passos cautelosos. Sem produzir ruído algum, ela se pôs atrás dele e, numa pegadinha premeditada, soltou a pilha de livros que carregava, na mesa onde ele estudava com uma concentração de outro mundo. O estrondo reverberou pelo segundo andar da biblioteca, chamando a atenção dos mais próximos.

— Pelos deuses Anna! Você quase me matou — ele disse após se recuperar do susto, com um meio sorriso estampado no rosto.

Ela retribuiu o sorriso.

— Estamos virando camaradas de estudos, não acha?

— Verdade, viemos aqui quase todos os dias.

— Ronan! — ela o chamou com um tom misterioso. — Há alguns dias eu fiquei aqui até tarde. E quando estava saindo, eu te encontrei conversando com uns rapazes no pátio da frente. — Os olhos de Ronan se arregalaram. — Eu pude ver vocês todos rindo de alguma coisa. Na hora eu não dei bola e fui para casa, mas desde então eu te vi com eles mais algumas vezes. E eu queria muito te perguntar: o que você faz depois que sai da biblioteca, e quem são aquelas pessoas?

Ronan respirou fundo, abaixou a cabeça, olhou para a mesa e fechou os olhos.

— Promete que não vai contar para ninguém?

Os lábios de Anna se contraíram num sorriso malicioso.

— É claro que não vou, você pode confiar em mim.

Ao todo o relato levou quinze minutos. Nos dois primeiros, Anna ficou o encarando com desconfiança, mas conforme ele gesticulava e narrava suas aventuras pós-aula e pós-biblioteca, Anna flagrou-se entusiasmada, envolta por um manto de empatia. Surpresa por descobrir o lado oculto do rapaz, sentia-se privilegiada, alguém que detém o segredo para algo maravilhoso, mas que infelizmente, não poderia contar a mais ninguém, por enquanto, pois ele tinha um plano para revelar a carta que escondia na manga.

Ele olhou de um lado para o outro, espiou até mesmo as frestas das estantes que os cercavam e quando julgou seguro, perguntou:

— Promete que não vai contar?

— Eu, Anna Ambrosio, prometo não contar o segredo de Ronan Briggs a ninguém.

— Obrigado. — Sem saber o porquê, sentiu que poderia confiar nela.

RonanOnde histórias criam vida. Descubra agora