17. Curando Feridas (Parte II)

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As gotículas da garoa batiam nas telhas avermelhadas produzindo um agradável som de se ouvir. Em frente à casa uma carruagem parou, era conduzida por um cocheiro guiando quatro belos alazões. Porém a chuva era, e sempre foi o seu arqui-inimigo. O ofício o comandava a abrir a porta para sua senhorita.

Mas uma voz vinda de dentro da porção coberta do veículo reverberou as seguintes palavras:

— Pode ficar. Eu me viro.

Um rangido familiar denunciou ao cocheiro que a porta da carruagem fora aberta, seguido pelo familiar respingar de uma poça pisada.

Quando uma batida ecoou pelo cômodo, Susan correu e abriu a porta da frente, revelando uma garota atingida pelas inofensivas gotas da garoa insistente. O olhar dela emanava um brilho azulado e fantasmagórico, acentuado pelos longos fios do cabelo loiro dourado que tremulava no ritmo das lufadas do ar abafado. Ela estava sozinha, apesar da luxuosa carruagem parada na frente da casa.

— Posso entrar? — Por um tempo ouviu-se apenas a garoa. — Gostaria de conversar com vocês — ela complementou encarando o capacho estendido no chão em frente à porta.

— Claro... por acaso, você é a... — Estarreceu quando percebeu quem poderia ser. Atônita, recuou alguns passos para a garota entrar.

— Sou uma colega do Dario — ela disse guardando sua jaqueta de couro no cabideiro.

Susan a convidou a se sentar no sofá da sala de estar. Obediente ela aceitou a sugestão. A senhora Zeppeli sabia de quem se tratava, mas isso não era justificativa para ser rude com a coitada. Para dizer a verdade, não tinha nada contra ela, afinal, tudo não passava de um acidente. Não acreditava que uma adolescente iria conjurar com sangue na frente da turma toda assim, deliberadamente.

— Gostaria de um café?

— Sim, muito obrigada.

Susan caminhou apressada até a cozinha, onde encheu duas xícaras com o café recém-preparado.

Enquanto isso Will Zeppeli permanecia no quarto do casal, trabalhando em sua pesquisa. Por enquanto decidiu não dar-se o trabalho de descer e cumprimentar a visita, pois imaginava tratar-se de algum vendedor de inutilidades, que por ventura sua esposa costumava dar ouvidos, mas logo percebeu ser uma convidada, possivelmente uma garota, mesmo assim não iria descer...

Por enquanto.

A Sra. Zeppeli carregou as duas xícaras de café com todo o cuidado do mundo. Ofereceu uma delas para a visita, que a pegou com classe e delicadeza, começando a bebericar entre assopros gentis que jogaram o vapor para fora do recipiente.

— Você está bem? Senhorita... Hmm... — Tentou com muito esforço lembrar o nome dela, queria evitar chamá-la pelo sobrenome.

— Nathalia...eu estou sim, muito obrigada por perguntar.

Um silêncio constrangedor tomou o cômodo. Por um tempo tudo as duas fizeram foi beber o café até não restar nem uma gota sequer.

Susan levantou-se, estendeu o braço, pegou a xícara vazia da visita e levou-a para a cozinha. Quando voltou ela continuava sentada no sofá com a mão direita em seu rosto, seu dedão espremendo o olho direito e os demais pressionando o esquerdo. Ela parecia estar chorava baixinho. Susan aproximou-se e pôde ver as lágrimas no rosto corado.

RonanOnde histórias criam vida. Descubra agora