45. Primo (Parte II)

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As carruagens estacionaram em paralelo umas com as outras. Anna foi a primeira do trio a sair. Assim como feito no vilarejo de Aguarasa, ela utilizou os degraus auxiliares para alcançar o gramado. Ronan também reproduziu a mesma saída, em vez dos degraus ele optou pelo salto, que por ventura executou-o como um felino. 

Com os pés no chão, tanto Anna quanto Ronan encararam o colega prestes a sair da carruagem, para constrangê-lo devido à expectativa do método que utilizaria. Dario mirou o gramado abaixo. Ponderou se iria mesmo saltar como o amigo, ou será que deveria usar as escadas como a Anna? Mas o terreno era diferente daquele da última vez, não havia grãos de areia para recebê-lo com um escorregão, mas um gramado fofo e convidativo.

Não tem erro, pensou.

E pulou.

Mas não imaginava que a camisa ficaria presa numa farpa de madeira desgarrada da porta. Seu corpo voou tranquilo por milésimos, até ser puxado para trás. As mãos de Anna e Ronan se aproximaram dele com lentidão. Mas tarde de mais, o baque produzido pelo impacto da cabeça contra madeira penetrou nos três pares de ouvidos. Duas faces expressaram a dor alheia que sentiram, mas apenas uma reproduziu a dor genuína. O reflexo permitiu Dario se apoiar na estrutura de madeira, evitando a queda humilhante. Porém, torto e com a mão livre massageando a nuca golpeada, ele resmungou:

— Nunca mais... — saiu quase um choro. — Nunca mais...

— Eu juro que tentei — suspirou Ronan, desapontado consigo mesmo.

— Eu sei.

Anna irrompeu em uma risada histérica. Tentou se conter tapando a boca com as duas mãos. Mesmo abafado, o riso saia alto o bastante para incomodar o colega.

— Anna, você me paga! — Dario endireitou o corpo e desembaraçou a camisa.

— Vocês sabem onde temos que ir agora? — Ronan perguntou.

Era Anna quem detinha essa informação, mas no momento ela se ocupava em controlar sua histeria.

— Só um instante. — Com um puxão Dario surrupiou a bolsa dela.

— Ei! Seu ladrãozinho — ela protestou e recuperou o objeto roubado. Sabendo o que tinha de ser feito, puxou o folheto guardado dentro da bolsa. — Deixe-me ver... — Voltou o olhar para fazer a leitura. — Aqui diz que devemos ir ao Colégio das Artes Arcanas... — Ela estranhou o nome. — Colégio das Artes Arcanas? Não deveria ser uma universidade?

— Não se preocupem. Nós os levaremos até lá. — intrometeu-se o mesmo cavaleiro, ele levou as duas mãos ao rosto e retirou o meio elmo, revelando a cabeça raspada e os olhos escuros. — Venham.

— Não deveríamos descansar primeiro? — Dario perguntou.

— Garoto. Vocês descansaram durante a viagem toda.

— Ele está certo — Ronan disse dando palmadas no ombro dele. Voltou-se para os colegas. — Vamos indo?

Dario assentiu na hora, mas Anna perdeu-se contemplando os arredores, maravilhada com os pinheiros, rios e borboletas que compunham o horizonte. A poucos metros o cavaleiro os aguardava sacudindo sua bota escura nervosamente. Não querendo incomodá-lo, Ronan puxou Anna pela mão, resgatando-a dos devaneios que estava imersa. Após muito protestar ela desvencilhou-se das garras do amigo e quando se deu conta, já passavam do portão da cidade, seguindo o cavaleiro comprometido a ajudá-los.

RonanOnde histórias criam vida. Descubra agora