36. As Runas de Ronan (Parte II)

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Com exceção de Ronan, todos odiavam Ronaldo Rodrigues, o infame professor de Criação de Runas, mas eram naquelas aulas impiedosas que o garoto redimia seu fracasso das aulas de Manipulação Ofensiva. Era criando as melhores runas da turma que ele esquecia ser o único incapaz de envolver suas mãos no gratificante brilho azulado da energia pura. Foi por ser o único aluno não mal tratado pelo professor Ronaldo que ele almejou novos objetivos: tornar-se um Procurador do Império e caçar os malditos renegados que aleijaram o seu pai e mataram o irmão do seu melhor amigo.

Na última semana de setembro, a turma da sala A-102 teria a primeira prova de Criação de Runas. O professor havia adiantado como ela seria feita durante a aula da semana passada. Cada um recriaria em um cubo de madeira, a runa aprendida no primeiro dia. E a nota se ajustaria conforme ela absorvesse uma conjuração lançada pelo professor.

Dentro da Oficina de Criação ninguém transparecia confiança. Faltava meia hora para o inicio oficial da aula. Todos sentavam em suas devidas bancadas. Os nervos afloravam na pele de cada um. Karen tinha seus olhos e bochechas vermelhas, ela soluçava com a cabeça apoiada no peito da amiga, mas não era a única a se entregar ao desespero. Nenhum dos rapazes chorava, mas a respiração nervosa de cada um era ouvida pelas audições mais aguçadas. Pernas sacudiam e unhas eram roídas ou batidas em ritmo acelerado na madeira das bancadas. Valia de tudo para extravasar a angústia da espera.

A porta foi aberta. Todos observaram a figura com o bigode pontudo e longo cabelo grisalho adentrar na oficina. Ronaldo Rodrigues chegou e ninguém ousou se mexeu. Olhares acompanharam o caminhar do professor até a mesa da frente, onde ele sentou e retribuiu os olhares.

— O que estão esperando? A prova já começou. Vocês tem uma hora inteira para terminar.

Cadeiras rangeram ao serem arrastadas contra a madeira do piso. Organizados pelo medo da repressão, os alunos se dispuseram em duas filas. Dois de cada vez retiravam o bloco padrão a ser talhado de dentro do largo caixote.

— Caso gastem todas as faces do cubo e mesmo assim fiquem descontentes com os resultados, sintam-se a vontade para pegar um novo. — Expressões de alivio se desenharam no rosto dos seus alunos. — Podem conversar também, trocar ideias ou o que for. Se alguém aprender alguma coisa durante a prova, melhor para mim.

Foi como cutucar um vespeiro. Vozes romperam o silêncio, reverberando na sala da oficina. Com o cubo na mesa, mais formão e martelo em mãos, os alunos deram inicio ao maior desafio desde que entraram na universidade.

O impacto de martelos e o talhar dos formões logo sufocaram as conversas. Lascas de madeira caiam nas bancadas e no chão. Faces entalhadas porcamente foram abandonadas, viradas para que uma nova runa fosse desenhada na superfície virgem.

— Ronan— Dario o chamou e prosseguiu assim que obteve a devida atenção: — Ficou bom? — mostrou a runa para o amigo.

— O circulo ficou oval demais pro meu gosto e os quatro riscos não se alinham com o centro.

— Valeu — Dario o agradeceu ainda encarando-o. Ele virou o bloco em mãos, revelando o único espaço em branco ainda disponível. — Queria não precisar ir pra frente uma segunda vez, mas fazer o que.

— É que você está muito afobado, veja só.

Dario voltou sua atenção a ele, e o que viu lhe arrancou um longo suspiro. Um círculo perfeito jazia no cubo segurado pela mão direita de Ronan.

— Caralho! — surpreendeu-se numa exclamação alta demais.

— Fica quieto Zeppeli, senão vai sobrar pra gente — Nathalia o repreendeu, a voz dela veio da bancada de trás.

RonanOnde histórias criam vida. Descubra agora