45. Primo (Parte I)

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A estrada pedregosa castigou as rodas que ousaram passar por cima. Sacudindo dentro da carruagem, os passageiros buscaram apoio nos assento, janelas e laterais. No banco da frente, virado para seus colegas, Dario ganhou estabilidade quando esticou cada braço para apoiar-se nos limites da estrutura. A ardência consumiu-lhe os músculos, mas não via outra solução.

Ronan e Anna não tiveram a mesma sorte, como sentavam de frente ao amigo, mas compartilhavam o mesmo banco, ficou impossível repetir a estratégia empregada pelo Zeppeli. Mas um lampejo de criatividade inspirou Anna, com o braço esquerdo a garota envolveu o ombro de Ronan e com a direita, imitou a tática usada por Dario, apoiando-se também na lateral interna da carruagem.

— Faça isso também, mas segure do seu lado — ela disse ao Ronan.

Ele acenou, envolveu seu braço direito no ombro dela, e com a mão esquerda, ganhou estabilidade assim que a pressionou na estrutura da carruagem. Nessa cooperação quase simbiótica a dupla perdurou por vinte minutos. O rosto de Dario foi se contorcendo, Anna e Ronan riam quando caretas absurdas se desenhavam na face do cada centímetro dos seus braços cansados. Entre caras e bocas ele viu os dois amigos juntinhos no banco em sua frente.

Pigarreou forte, alto, mas planejado. Eles se largaram com timidez.

— Tem algo que não sai da minha cabeça — disse Ronan.

— É mesmo? O que? — Dario perguntou tentando esconder a curiosidade.

— Por que você pôde usar conjuração contra aqueles fanfarrões e eu não?

— Você não se lembra das primeiras aulas com o professor Felix? — Anna interveio. — Ele usou porque foi um último recurso. Enquanto você, senhor Ronan, queria conjurar sabe-se lá o que pelas costas daqueles fazendeiros.

— Eu só sei uma conjuração, que nem é tão perigosa — disse com pesar, olhando para as botas escuras que calçava.

Com o indicador Anna levantou o queixo do garoto para olhá-lo nos olhos.

— Por enquanto Ronan. Logo você vai nos alcançar, eu garanto.

Dario observou a cena com os olhos arregalados e as sobrancelhas arqueadas. Ainda não tivera a oportunidade de perguntar ao amigo o que havia acontecido desde que se despediram na pontezinha do vilarejo de Aguarasa, pois quando ambos retornaram ao acampamento da companhia, já tiveram de partir. Nem sequer soube se eles passaram a noite na estalagem. De qualquer forma, sentiu que precisava se manifestar sobre a limitação dele em manipular:

— Eu prefiro que não consiga.

Tais palavras o atingiram com uma frieza não intencional.

Mas foi Anna quem o repreendeu com uma torrente de incredulidades.

— Como pode desejar uma coisa dessas ao seu amigo? Que comentário idiota é esse? É alguma brincadeira sem graça sua?

Dario até imaginou que essa poderia ser uma das reações.

— É claro que é apenas uma brincadeira idiota, mas o poder em sua runa me surpreendeu — sua justificativa cativou a atenção deles, como planejado.

— Você é um idiota mesmo, por um minuto fiquei preocupada.

— Deixa ele contar suas piadas bestas — disse Ronan. — Afinal, ele está a centenas de quilômetros da namorada — terminou com um sorriso despreocupado.

RonanOnde histórias criam vida. Descubra agora