37. A Lista de Catarina Grivaldo

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— Como foi à prova do professor Fernando? — Anna perguntou após largar na mesa da biblioteca o livro que terminou.

— Difícil, ao menos para mim. E para piorar ele já agendou a segunda para semana que vem. — Ronan debruçou-se sobre a pilha de livros em sua frente. — Ao menos o treinamento com o ex-professor Ronaldo já terminou.

Anna olhou para um lado, depois para o outro, vislumbrou os funcionários da biblioteca trabalhando atrás do balcão no andar debaixo. Ninguém estava próximo o bastante para ouvir a conversa entre os dois.

— Escuta. — Ela esticou o pescoço para frente. — Ele te disse alguma coisa?

— Alguma coisa? Tipo o quê?

— Por que ele era tão idiota, por exemplo, ou por que ele só gostava de você. — Anna se apoiou no cotovelo e aproximou-se ainda mais, quase subindo na mesa. — Será que ele... gosta de garotos? Ele disse alguma coisa imprópria para você? Te convidou para conhecer a casa dele em segredo?

— Porra Anna! — Ronan exclamou empurrando os livros que debruçava. — Achei que era algo sério.

Ela levou à mão a boca e abafou um riso debochado.

— Desculpa — disse segurando a risada. — Mas falando sério, ele falou por que era tão idiota com o resto da turma?

Ronan buscou em sua memória os eventos da semana passada.

— Ele parece não gostar de manipuladores, estranho né?

Anna arqueou as sobrancelhas e arregalou os olhos.

— Estranho? Isso é hipocrisia pura. Você lembra que ele disparou aquele troço contra mim? Eu poderia ter me ferido gravemente, ou pior, morrido.

Ela exagerou, Ronan sabia, mas não criaria um caso por causa disso.

— Lembro sim. Foi assustador demais até para mim que sentava lá no fundão.

— Vamos deixar isso pra lá. Ele é passado agora. Além do mais, temos muito que pesquisar. — Anna tapou a boca num sobressalto. — Eu não estou te prejudicando né? Fazendo você perder tempo me ajudando, você deveria estar estudando Manipulação Ofensiva, não é mesmo?

Era verdade.

— Não tem problema, vocês me ajudaram muito, só estou retribuindo o favor. — Mas no fundo se perguntava por que ainda a ajudava em algo inútil. Num lampejo de genialidade, teve uma ideia. — Sabe, porque não procuramos a professora Grivaldo? Ela deve saber alguma coisa sobre manipulação curativa, ou pelo menos ela poderia nos indicar os livros certos.

A cadeira de Anna foi arrastada para trás, produzindo um chiado agudo que perfurou a audição dos mais próximos. Protestos e xingamentos foram vociferados para a garota que permanecia de pé, olhando o garoto em sua frente.

— Ronan, seu gênio incompreendido, eu poderia beijá-lo agora mesmo.

As bochechas do tímido rapaz coraram como um pimentão.

Três batidas ressoaram na porta da sala dos professores antes de ser aberta por dois alunos. Ronan contemplou o ambiente onde os mentores se ocupavam lendo, rabiscando papéis, ensaiando aulas e por incrível que pareça, dormindo. Debruçado sobre a mesa mais próxima da porta, um rosto conhecido surgiu quando ele abaixou o livro que lia; um romance conhecido por ambos os estudantes.

RonanOnde histórias criam vida. Descubra agora