41. Volta ao Lar

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Dois dias se passaram desde o encontro com o Zeppeli. Recordar o momento que soube da morte do Leonel abalou-a mais do que previra. Ordenar que o nome do irmão de Dario fosse talhado na pedra não foi uma tarefa das mais complicadas, mesmo assim, sentia-se orgulhosa e acima de tudo, feliz consigo mesma.

Deitada em sua espaçosa cama branca, Nathalia repassava os momentos compartilhados com "ele" em sua mente. Em não tão raras ocasiões o seu rosto enrubescia. Onde eu estava com a cabeça? Perguntava-se com frequência. Lembrou-se de terem se abraçado e chorado como crianças. O rosto então enrubesceu mais uma vez, ela tampou-o com um travesseiro e abafou um gritinho envergonhado.

O ecoar do galope de incontáveis feras invadiram o quarto de Nathalia. Intrigada, levantou-se num salto para espiar da janela aberta o que acontecia fora do segundo andar da mansão.

A pouco mais de meio quilômetro da entrada da residência, uma comitiva se aproximava em uma marcha ritmada. Logo foi possível distinguir alguns comandos berrados por sargentos e comandantes. Um detalhe incomodava a garota, de quem pertencia este séquito? Na frente, rodeado por uma dúzia de cavaleiros, cavalgava uma figura envolta por um manto vermelho com acabamento dourado. Nathalia deduziu tratar-se do líder da expedição, mas não recordou nenhum nobre das redondezas que vestisse tais cores.

Agora faltava pouco para eles alcançarem a mansão por onde ela os espiava do segundo andar. Mas pouco antes de alcançarem o portão da frente, uma ordem foi vociferada, e eles pararam. Nathalia abaixou a cabeça e extravasou a tensão com um demorado suspiro. Devia tratar-se de alguma maluquice dos vizinhos da esquerda.

O familiar ranger do portão arrepiou os pequeninos pelos no braço da garota. Torceu para que fosse apenas um criado saindo, mas a figura envolta pelo manto vermelho e dourado adentrou junto do que parecia uma guarda pessoal.

— Mãe? — Nathalia deixou escapar ao vê-la sair pela porta da frente da residência.

A figura em vermelho jogou o capuz para trás.

— Pai?

Ela testemunhou os dois se abraçarem. Magnus acariciou o longo cabelo castanho claro da esposa. Júlia Leonhart deu um passo para trás e segurou as mãos do marido. Do quarto não dava para ouvir a conversa entre eles. Seria a primeira vez que veriam um ao outro após o fatídico evento que o tornou Arquimago, sem aviso prévio à família. Com as mãos na madeira da janela, Nathalia sentiu as pernas tremerem. Deitou-se na cama e deixou o tempo passar, cada minuto carregou o peso de uma hora.

Ao longe o sol estava se pondo até a porta do quarto abrir e a noção de tempo da garota, contrair. Não era uma figura misteriosa coberta por um manto vermelho, aquele era o seu pai.

— Precisamos conversar — ele anunciou fechando a porta.

Magnus caminhou até à mesinha do lado oposto à cama, ele puxou a cadeira e sentou-se de frente à filha, que não mais deitava na cama, mas sentava nela com as mãos juntas, numa oração inexistente.

— Por quê? — ela começou.

— Não tive escolha...

— Não teve mesmo?

— Quando me dei conta... Alexandre já tinha planejado a sucessão com o consentimento do Conselho dos Grão-Mestres. Não há recusa para um chamado desses. — Tentou aproximar-se de Nathalia.

Mas ela o esbofeteou no rosto.

— Você não gosta que seu pai seja o manipulador mais importante do mundo?

RonanOnde histórias criam vida. Descubra agora