33. A Ira da Loba Prateada

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Pela larga e bem conservada estrada de tijolos, a comitiva vinda do oriente se aproximava do portão leste da Cidade Livre. Não fazia muito tempo que o líder da expedição testemunhou aquela paisagem, mas Ivan detestava a disposição circular da muralha, pois desperdiçava um espaço precioso. Quantas residências, prédios comerciais ou repartições não foram sacrificados para que os limites da cidade formassem um círculo como o vale que a envolvia, quanta frescura, quanta pompa, tudo para nada, Ivan lamentou do alto do seu cavalo. Ao lado do governador cavalgava Oliver, o líder da companhia mercenária que o ajudou a desbancar o rei do Sul. Para a longa viagem, o sujeito havia guardado seu arco longo no maior dos alforjes de couro preso ao cavalo.

Atrás deles, os trajes brancos da companhia ostentavam o fundo branco e os detalhes vermelhos do Império de Leon, com o grifo estampado no peitoral. Ivan também trocara suas vestes para viagem, optando por uma camisa branca de botões por baixo de um sobretudo avermelhado como a boina que escondia parte do seu cabelo, ambos ornados por joias esbranquiçadas.

Desperto de seus devaneios, ele perguntou:

— Oliver, vocês perderam quantos homens durante o cerco ao rei Henrique? —

— Sua memória é uma merda. Eu já te falei, foram duzentos na primeira emboscada e quinhentos na segunda. Falando nisso, não sabemos se o filho do miserável ainda respira.

— É muito tarde para ficar se lamentando. Os desgraçados de Lince chegaram a tempo de cagar nosso ataque, mas por sorte, a morte do rei foi confirmada por um dos nossos agentes.

— Tá, mas, e agora?

— Agora nós iremos arranjar uma boa estalagem para passar a noite, ou queres invadir o quarto do embaixador e esperar enquanto ele dorme?

— Quer saber? Uma toupeira é uma companhia melhor que você — disse Oliver em meio a risos.

Acompanhando as risadas, Ivan respondeu a provocação:

— Aposto que uma companhia de toupeiras mercenárias não apanharia contra uma dúzia de camponeses. Mas devo dar o braço a torcer, mesmo levando uma surra das feias, vocês lutaram, e conseguiram cumprir a missão.

— Agradeça aos malditos, sem nenhum bruxo para incomodar, as coisas ficaram mais fáceis para a gente.

A comitiva chegou a seu destino, uma das grandes estalagens do setor leste. Cientes do que precisava ser feito, os cavaleiros amarram seus cavalos nos palanques da lateral do estabelecimento. Os soldados que marcharam à manhã e a tarde inteira permaneceram em pé, sob o sol do fim da tarde.

Acompanhados por três guardas, Ivan e Oliver adentraram no estabelecimento. Um sorriso se formou nos lábios do líder mercenário ao ver as dezenas de clientes, homens e mulheres, se divertindo ao som de uma canção popular tocada por um quarteto.

Tochas e velas foram acessas pelos funcionários, indicando o horário de pico que se aproximava. Ivan adiantou-se e pediu pelo dono da estalagem. Uma senhorita o atendeu e pediu com educação para que ele esperasse um momento, pois iria chamá-lo. Oliver se aproximou do amigo e sentou no banquinho em frente ao balcão.

— Uma bela espelunca que você arranjou para gente.

— Já vai começar a reclamar?

— De forma alguma. Eu estava elogiando.

— Sua maneira de elogiar... me intriga.

RonanOnde histórias criam vida. Descubra agora