48. Contra-Ataque (Parte II)

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As duas alavancas desceram, as travas cederam e as cordas sibilaram juntas do estrondo mecânico, que unidos, anunciaram o disparo dos projéteis que alçaram voo. O coice da energia liberada foi tamanho que as balistas recuaram quase meio metro para trás. As duas flechas desapareceram na escuridão. Uma das distantes catapultas do acampamento inimigo fora recém-carregada, e o projetil esférico, ateado em chamas.

Um estouro longínquo ecoou pelo bosque sombrio.

Estilhaços de madeira voaram pelas imediações do acampamento, assustando os pequenos soldados que Ronan enxergava graças às fogueiras e tochas ao longe. A esfera flamejante desencaixou do trabuco e rolou descontrolada, ateando fogo às tendas em seu caminho.

Quanto à segunda flecha, seu destino permaneceu incerto.

Os operadores das máquinas de cerco não perderam tempo e voltaram a trabalhar na próxima saraivada. Um ajustava a mira, outro girava a manivela que puxava a corda para trás até repousar na haste de aço que a prenderia, enquanto o último segurava o projétil em mãos, pronto para encaixá-lo no sulco cavado na madeira.

Na vanguarda que protegia as balistas, a cinquenta metros delas, um leve e distante farfalhar de vegetação rasteira atraiu a atenção de um guerreiro oculto por trás do tronco de uma árvore. Era sua função avisar a companhia.

— Devem ser eles! — repassou a mensagem aos colegas no fronte.

A notícia se espalhou causando um nervoso burburinho entre a primeira linha defensiva, alastrando para os demais colegas os rumores da aproximação adversária. Do alto do morrinho onde estava junto das balistas, seus operadores, conjuradores e melhores guerreiros, Ian captou o rumor entre cochichos.

Se o que diziam era verdade, estava na hora de chamar ajuda, o capitão foi até uma das carroças, tirou de dentro dela um arco e aljava e caminhou pisando fundo no barro avermelhado da elevação. Com a pouca luminosidade ficou difícil divisar os seus homens, mas o silêncio evidenciou o nervosismo que se alastrava. Ian olhou para a mata, por onde nada se via ou se ouvia; terminou voltando o olhar para o arco em suas mãos.

Estava muito cedo para usá-lo.

Atento ao distante acampamento atrás da paliçada, o que Ronan viu foi um formigueiro recém-pisoteado. Pequenos agrupamentos de soldados corriam de um lado para outro enquanto os demais tentavam apagar as chamas ateadas pela rocha incandescente, sufocando-as com pedaços de panos e jogando a água trazida em baldes.

Por onde espiava Ronan pôde enxergar mais três catapultas: uma próxima à destruída e duas mais à esquerda. Vozes e gritos de comando foram ouvidos por todos os guerreiros de Ian, vindas de dentro do bosque, perto demais para serem ignorados. Os guerreiros ociosos se posicionaram, Ronan, Dario, Vitória e um pelotão de arqueiros formaram a segunda camada defensiva, complementada por cinco cavaleiros que juraram lhes proteger. Na linha de frente, quarenta guerreiros permaneciam ocultos atrás das árvores, aguardando na escuridão a chegada dos invasores.

Aquele estrondo mais uma vez, o som do disparo das balistas atraiu a atenção dos defensores. Infelizmente, o outro lado também ouviu. Atrás da formação onde estava Ronan, por detrás das balistas e seus operadores, Ian apontou o arco longo aos céus, a ponta da flecha fora revestida por um tecido, embebido em um líquido inflamável e ateado em chamas, numa parábola ela alçou os céus, para depois cair, a trinta metros de quem a disparou, mas para trás, em direção norte.

Gritos de guerra entoaram da vanguarda, mas não das forças defensoras. Silhuetas mal iluminadas pela escassa luz do luar surgiram sacudindo as folhagens dos arbustos e os galhos das árvores.

RonanOnde histórias criam vida. Descubra agora