28. O Rei do Sul no Oriente (Parte IV)

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Após outra longa e cansativa marcha, a comitiva acampou mais uma vez. No alto de uma pequena elevação as barracas dos oficiais eram iluminadas pelas inúmeras fogueiras acesas, onde soldados cozinhavam seus jantares racionados enquanto entoavam canções de sua terra natal. Da cidade até ali o caminho foi generoso, não toparam com nenhuma trilha estreita e rochosa, em vez disso, uma larga e regular estrada de chão batido fez as carroças se moverem como nuvens empurradas por um vento inofensivo.

Patrique agora passava o tempo com seus novos amigos. Ele havia criado uma amizade que o mantinha com o pé no chão. Agora, sempre que conversava sobre assuntos rebuscados com figuras elegantes por muito tempo, ele procurava o sargento Daniel em seguida para debater sobre as amenidades da vida, como os dias no campo, as longas secas e as belas damas que encontravam em suas viagens.

Ao redor da fogueira os rapazes conversavam superficialmente sobre a união dos reinos, fantasiando sobre a prosperidade que os tirariam da pobreza que viviam. Uma pergunta foi levantada, vinda de um soldado sem alguns dentes.

— Mas como é que tudo isso ai vai deixar nós rico?

Patrique sofreu um baque emocional em seu peito, sentiu-se obrigado a desiludir o coitado.

— Não é bem assim que funciona pessoal. Essa unificação não vai trazer riquezas assim do dia pra noite. E mesmo que trouxesse, levaria alguns anos para alcançar a vila e as cidades onde vocês moram. E não há garantia alguma de que as coisas vão melhorar de verdade.

A felicidade se dissipou da face dos rapazes, fazendo Patrique se arrepender de acabar com as ilusões. No fim das contas, os coitados viviam para servir gente com ele, para morrer em suas batalhas e defender as suas convicções pueris. O mínimo que poderia fazer era deixá-los fantasiar com um mundo melhor, por mais sádico que parecesse. Patrique partiu em silêncio, Daniel e seus homens o viram desaparecer em meio à escuridão. O clima não melhorou muito desde então. A infelicidade da realidade ainda abalava os pensamentos dos camponeses desiludidos.

Daniel também se levantou, decidiu ver o que tinha acontecido com Patrique, mas no fim das contas, nem precisou se dar ao trabalho. Ele já voltava carregando um barril em seus braços.

Os olhos dos rapazes se arregalaram em expectativa.

Patrique soltou o volume no chão, suspirou aliviado, e anunciou:

— Vocês podem não viver em castelos, mas podem encher a cara à vontade essa noite.

O ressoar de berros e palmas tomaram as proximidades. O espalhafatoso bando de Daniel acabou atraindo os olhares reprovadores, mas invejosos, dos colegas soldados mais próximos. Quando a euforia chegou ao fim o sargento adentrou em sua barraca, e retornou dela trazendo em seus braços uma pilha de canecos de madeira, que logo foram distribuídos entre seus subordinados.

Enquanto isso, Patrique deitou o barril na mesa. Dois soldados se aproximaram e colocaram suportes de madeira ao lado do barril para que ele não rolasse. Patrique abriu um furo circular numa das extremidades e foi servindo os rapazes um por um. Quando terminou a primeira rodada, ele tapou o buraco com a rolha que lhe foi entregue.

— Assim que terminarem o primeiro caneco, fiquem a vontade para repetirem o quanto quiserem — anunciou para a empolgação de todos.

Daniel e seus homens curvaram-se perante ele. Patrique sentiu-se lisonjeado pela brincadeira.

— Que é isso rapazes, é só um barril de cerveja, não é pra tanto — disse em meio a risadas, feliz por reavivar as chamas do bom humor.

RonanOnde histórias criam vida. Descubra agora