14. Cristais de Sangue (Parte II)

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Sentados sobre o confortável gramado verde do Centro de Práticas Arcanas, os alunos aguardavam a chegada do professor Felix Fitz, ansiosos em aprenderem uma nova etapa da manipulação do vento. A turma decorou o passo a passo ensinado em sala, mas ver o professor executá-las lhes daria uma imagem precisa de como executar cada etapa.

O campo reservado para o exercício era o mesmo da semana passada, um dos menores disponíveis. Felix surgiu com suas vestes negras roçando o gramado. Se aproximando como um fantasma, ele parecia levitar, arrancando risos e caretas da ansiosa turma que o aguardava. Ignorando os deboches, ele aos poucos revisou o ensinado em sala.

— Não tem segredo pessoal, é só repetir o que eu já ensinei: manipulem o ar da forma que já sabem e uma vez que o vento rotacionar, vocês vão estender a palma e apontá-la para algum lugar vazio. — Olhou para a turma para garantir que prestassem atenção. — Nada de mirar nos seus colegas, ouviram? — risos abafados foram produzidos por aqueles que se recordaram da ventania da humildade.

Dario sorriu todo assanhando. O professor virou-se e olhou em sua direção, mas em reprovação, seguido pelo retorno à explicação:

— Uma vez que consigam apontar para um espaço seguro e a rotação não tenha se perdido, vocês direcionarão o fluxo para o local desejado, rompendo o ciclo esférico e focalizando a energia sincronizada em uma linha reta.

Felix deu as costas e caminhou até a parede da esquerda. Com o braço colado ao corpo ele estendeu o antebraço. Conjurou o vento e iniciou a rotação em sua palma, isso era tudo que eles tinham aprendido na semana passada. Então, Felix estendeu o braço numa linha reta, horizontal. Ergueu a palma da mão, mesmo após toda movimentação feita sua rotação continuava perfeita...

Até ser cortada.

A circulação foi interrompida num ponto e a corrente de ar foi redirecionada numa rajada veloz contra o muro, fazendo o gramado e os fios de cabelo dos mais próximos esvoaçar para trás.

Ronan maravilhou-se enquanto Dario e Nathalia pouca atenção davam.

Virando-se para os alunos, Felix Fitz disse:

— É isso ai pessoal. Podem praticar agora. Qualquer dúvida é só chamar.

Em poucos minutos a turma dividiu-se em grupos, espalharem-se pelo campo e praticaram com os colegas mais próximos. As duas amigas escolheram o canto direito. Nathalia sentou-se no gramado, olhando para o nada enquanto sua única amiga praticava ali perto.

Karen tinha se dado conta de um detalhe.

— Nossa! É sua primeira aula de manipulação, né amiga?

— É — respondeu exalando estoicidade.

— Não que fizesse alguma diferença pra você, né? — Sorriu, tentando animá-la.

— Pois é.

Cativado por uma das alunas nada fazer, Felix caminhou arrastando o robe negro no gramado. Sua sombra projetou-se no rosto da garota desinteressada.

— O que lhe incomoda Leonhart?

— Nada professor. Só não estou a fim de participar hoje.

— Vai estar amanhã? Ou semana que vem?

Nathalia olhou para o chão, envergonhada, fugindo do olhar reprobatório do professor tapando o sol.

RonanOnde histórias criam vida. Descubra agora