25. Reta Final (Parte I)

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Na manhã do dia 10 de junho, uma quarta-feira, uma carta foi entregue ao mordomo da residência dos Leonharts, porém ele havia se esquecido de entregá-la a destinatária. 

Como era noite, talvez a senhorita já estivesse dormindo, mas Joff manteve-se esperançoso. Orou aos deuses esquecidos e em seguida disparou pela mansão sem produzir um ruído sequer, habilidade esta que treinou duro para adquirir. 

Em seu trajeto, portas, vasos, tapetes e quadros surgiam e desapareciam até enfim, chegar à entrada da residência, onde guardou a carta na primeira gaveta de uma enorme estante próxima ao banco onde uma pobre garota já ficou deitada ao desmaiar tempos atrás.

Num puxão a gaveta veio ao seu encontro. A carta permanecia por cima de uma pilha de papeis e bugigangas da senhorita. Joff envolveu a carta inviolada em seus dedos e perdeu-se em pensamentos ao olhar para ela, até um ranger vindo de sua direita chamou-lhe a atenção. 

Uma das chapas da porta foi aberta e um soldado por ela surgiu. O sujeito em armadura completa marchou para dentro, sua bota não havia sujado o chão.

Estranho.

Ele arqueou a coluna para cumprimentar o mordomo, que retribuiu o gesto na mesma proporção. Baques de passos se fizeram ouvir, anunciando a segunda figura que adentrava o recinto, sujando o piso com terra.

Joff curvou-se mais uma vez, inclinando-se mais do que antes.

— Seja bem-vinda de volta, senhora Griffhart... digo... Leonhart, minhas sinceras desculpas.

Júlia levou à mão direita ao rosto e soltou um risinho entre seus lábios finos.

— Por acaso está com saudades da antiga casa?

— Pelo contrário, a senhora deve recordar da relação que eu tinha com Alexandre. Ou que Alexandre tinha comigo, para ser mais exato.

— Aquilo está no passado e ele era muito jovem na época. Ele é outro homem hoje em dia.

— A senhora tem conversado ou trocado cartas com o irmão?

— Na verdade não, mas pelos rumores que o cercam, dá para se ter uma ideia.

— Mas é claro. — Joff curvou-se mais uma vez. — Com a sua licença.

— À vontade.

O mordomo deixou a entrada da residência para cumprir sua demanda: entregar de uma vez por todas aquela carta. O tempo perdido poderia afetá-lo, as chances da senhorita estar dormido ficaram maiores. A carta poderia ser entregue pela manhã ou deixada sobre a mesinha do quarto da garota, mas pelo remetente, Joff queria estar lá quando ela fizesse a leitura.

A porta do quarto dela surgiu em seu campo de visão. Ficou em frente ao retângulo de madeira. Pôs a mão direita na maçaneta, girou ela e a empurrou. A porta abriu devagarinho, rangendo na intensidade de fazer sangrar os ouvidos. Quando uma fresta o permitiu espiá-la, Joff espiou.

Ela havia acordado.

— Mãe?

Não tinha muito que ser feito, então abriu a porta por completo. Como o ambiente estava escuro, era melhor se identificar, não queria assustar a garota.

— Sou eu, Joff. A senhorita estava dormindo?

— Dormindo? Não, eu só estava deitada pensando em algumas coisas. — Um longo bocejo seguiu. — Mas porque você veio?

RonanOnde histórias criam vida. Descubra agora