45. Primo (Parte IV)

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Atenta às vozes vindas do bosque, Vitória veio acompanhada de Ronan até o parapeito da varanda. A mão direita dela foi ao ouvido, parecia tentar discernir de quem pertencia aquelas vozes. E deve ter funcionado, pois...

— Deve ser o Victor e a amiguinha de vocês — ela disse com um sorriso contido em seus lábios.

Dois vultos surgiram e sumiram entre os troncos e as folhagens da vegetação. O som da conversa ganhou nitidez, revelando aos três qual era o assunto debatido: memórias de uma infância compartilhada. A primeira figura surgiu, era um homem de rosto quadrado, alto, talvez dois dedos maior que Ronan. Seu cabelo castanho penteado para o lado deixava sua farta testa à mostra. Nos olhos castanhos, o óculos retangular lhe agraciava ares de sabedoria. A túnica marrom com bordas pretas presa a um cinto roçava em suas canelas ao caminhar muito paciente pela trilha desfolhada.

— Então eles são os rapazes que você mencionou — Victor anunciou ao se aproximar da varanda onde estavam seus espectadores.

— Um deles tem a cabeça oca, mas você se acostuma com o tempo.

— Qual deles? — perguntou para a prima ao seu lado.

— Você logo saberá — disse Anna após uma breve risada.

Os três degraus que separavam a trilha da varanda rangeram com os pesados passos da bota escura de Victor, mas quando Anna subiu... nada foi ouvido. Reunidos e como se movidos por instinto, todos os cinco foram até o centro da varanda e formaram um círculo. E com apertos de mãos eles se cumprimentaram. Ronan e Dario permaneceram tímidos perante o homem em sua frente, que não perdeu tempo, e já começou a discursar.

— Como me tornei Sábio faz pouco tempo, essa é a minha primeira vez orientando alunos. E pensar que no começo do ano eu ajudava meu antigo Mestre. Mas devo dizer que fizeram a escolha certa ao participar dessas atividades. Eu, em particular, sempre me inscrevia nessas oportunidades em meus saudosos dias de universidade.

— Falando em "Mestre" — começou Anna. — Soube que é dessa forma que os moradores do vilarejo ao lado vêm te chamando.

— Pois é. — Victor levou a mão à nuca. — Eles não se importam tanto com títulos quanto nós manipuladores. Se eles preferem se referir a mim como "Mestre", quem sou eu para corrigi-los, não é verdade?

Ouvindo justamente aquilo que buscava, Anna fingiu duas tossidas e direcionou um questionamento para o seu alvo.

— Não é mesmo senhor Zeppeli?

Mas ele fingiu nem ouvir.

Victor avaliou os três estudantes. Aproveitando a deixa, Vitória tratou de um assunto pertinente.

— Antes do Victor explicar como serão as atividades, acho oportuno discutirmos a lotação dos quartos. No momento temos cinco pessoas para quatro camas.

— Eu já pensei nisso — disse o Sábio precavido. — Eu e Anna somos família, então ocuparemos o mesmo quarto. Enquanto você e um dos rapazes a seu critério ocupam o outro.

— Nada disso. — Vitória balançou indicador. — Ambos são nossos convidados. Como funcionária oficial desse empreendimento é meu dever ceder à cama para ocupar o sofá da sala.

— Mas o sofá é uma...

Antes que pudesse expor a precária situação do móvel, o Sábio foi interrompido.

RonanOnde histórias criam vida. Descubra agora