28. O Rei do Sul no Oriente (Parte III)

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Amanheceu.

Os raios do sol das onze horas trespassaram o vidro da janela e esquentaram o rosto do rapaz. Patrique tentou se levantar, mas uma súbita dor de cabeça o fez cambalear de volta à pilha de lençóis onde dormira. Havia passado a noite num quarto improvisado da taberna. Não recordava de muita coisa, mas isso não importava no momento. Tentou não se desesperar. Subiu a escadaria até alcançar o terraço do estabelecimento, correu até o parapeito e a vista lhe trouxe o alívio que precisava. O campo fora das muralhas não estava vazio, havia tentas ainda em pé.

Patrique não foi deixado para trás.

Mesmo assim ele se apressou. Desceu a escadaria. Cruzou os cômodos da estalagem e atirou uma moeda de prata sobre o balcão. Percorreu num passo apressado as ruas da cidade. Atravessou o portão. Pulou a mureta de pedra e percorreu o gramado até alcançar o acampamento real, onde poucas tendas restavam erguidas.

Patrique avistou o sargento Daniel e seus homens, eles transportavam o armamento de volta a uma carroça. Os dois se cumprimentaram e o recém-chegado os ajudou a terminar o serviço. A companhia estava quase pronta, as carroças foram encaminhadas de volta à estrada enquanto os soldados restantes se preparavam, eles vestiram suas armaduras, pegaram em armas, puseram-se ao lado dos transportes e aguardaram futuras instruções.

Patrique despediu-se do amigo, procurou sua montaria e a encontrou amarrada num curral improvisado. Selou sua égua com o que tinha disponível, montou nela e trotou para frente da formação, onde o pai deveria estar aguardando o sinal de ida com sua impaciência costumeira. Quando alcançou a frente do comboio, foi aquilo mesmo que encontrou, seu pai rilhava os dentes em nervosismo enquanto dirigia sua insatisfação a seus cavaleiros.

— Bom dia papai — cumprimentou sarcástico, ainda sentindo o efeito da ressaca.

— Por onde andou? Você parece um morto-vivo.

— Estive fazendo contatos. Algo que deverias fazer também, assim, de vez em quando, sabe?

— Fazendo contatos! — Henrique praguejou. — O único contato que você precisa é o de uma herdeira rica e o das lâminas afiadas de seus soldados.

Um selvagem disfarçado de rei, esse é o meu pai, refletiu para si mesmo. Um cavaleiro cavalgou num trote apressado até onde eles aguardavam. Era um dos portadores das novas armaduras, ele carregava um dos longos estandartes com as três espadas bordadas.

— Tudo pronto vossa majestade. Podemos retomar nossa jornada.

— Finalmente! — urrou Henrique em satisfação — Avise o resto do comboio, partimos agora mesmo.

O cavaleiro acatou a ordem, e no mesmo trote apressado em que veio ele espalhou a ordens do rei para a companhia:

— Estamos partindo, retomem a marcha — gritou com a mão na boca.

Uma a uma, as carroças se deslocaram pela estrada de terra, e nesse ritmo, o comboio se pôs em marcha em direção à Lincevall, onde Henrique se casaria com uma linda esposa, a futura imperadora de Antares.

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