17. Curando Feridas (Parte III)

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Era o primeiro dia de aula pós-acidente para Nathalia. Fazia uma semana desde a visita à casa dos Zeppeli. Conforme se recuperava a roxidão no braço aos poucos cedia para a palidez natural da pele, mas algumas faixas ainda a envolviam do pulso até a metade do antebraço. Orgulhosa, decidiu ostentar as bandagens como o símbolo dos seus erros e principalmente, do seu poder.

Para evitar ter de enfrentar os olhares inquisidores dos colegas, optou chegar mais cedo à universidade, mas alguém já a aguardava no pátio frontal vazio devido ao horário. Ela sentava num dos bancos envolta da fonte embelezada pelas esculturas dos dois leões. Ao perceber que Nathalia vinha em sua direção, levantou-se e foi de encontro a ela.

— Que bom que você voltou Nat, Não aguentava mais sentar sozinha naquela sala. — As duas trocaram um forte e demorado abraço. — Como você está amiga?

Ainda abraçadas, Nathalia respondeu:

— Bem melhor. Já consigo movimentar a mão normalmente, mas ainda dói quando faço muita força. Agora, mudando de assunto, perdi muita coisa?

As duas se afastaram, Karen ergueu a cabeça e encarou as nuvens.

— Nada demais não. Sem você e aquele arruaceiro as aulas perderam toda graça.

— Olha, vou levar isso como um elogio, mas vamos indo, não pretendo ficar aqui quando a manada chegar.

— Como quiser.

Já sentada de volta em sua bancada, Nathalia espiou Anna com o canto do olho e a mesma sensação de outrora a atormentou, uma tristeza por vê-la feliz com outras amigas. Lá na frente, Catarina Grivaldo caminhava de um lado para o outro enquanto tecia diversos comentários sobre a repercussão da Conferência de Antares sediada na Cidade Livre semanas atrás.

— Pois é meus queridos, nós estamos vivenciando um momento histórico em nosso pequeno continente, mas não posso garantir que isso seja uma boa notícia. Imaginar que todos os reinos tenham se unido é algo assustador para dizer a verdade.

Mas ninguém dava atenção para a temerosa professora, fora Ronan, que nos últimos dias vinha se empenhando e mostrando resultados promissores durante as aulas práticas. Sua manipulação passou de "ruim" para "meramente satisfatória", mas ele não pretendia parar por ai. De volta à aula, Catarina Grivaldo iniciou o ritual de apagar seus rabiscos no quadro, mas antes, anunciou:

— E aqui meus queridos alunos, a nossa aula termina.

Dezenas de conversas paralelas reverberaram pela sala junto do arrastar de bolsas, livros e demais materiais que completavam a cacofonia do fim de aula. Não foi para menos, até Ronan que se considerava um estudante resiliente pôde sentir o cansaço trazido por tamanha aula expositiva. Essa indisposição o fez decidir que hoje não iria praticar no clube que vinha frequentando em sigilo.

Ao guardar o material na bolsa, alguém sentou no banco onde Dário costumava ficar.

— Precisamos conversar! — disse ao se ajeitar de lado, para ficar de frente a ele.

Ronan foi dominado por uma sensação estranha que o fez perder a compostura quando viu quem era. De pé e amedrontado, ele apenas encarou a garota sentada ao seu lado. Em sua mente invejou a sagacidade do amigo internado. Desejou ser capaz de fazer algum comentário esperto para dissipar a tensão que rodeava a Leonhart.

Respirou e reuniu a coragem para respondê-la.

— Apenas se você não fizer aquilo de novo. — Ronan aprendeu a lição, não se deixaria iludir por aquela beleza uma segunda vez para depois ser apunhalado enquanto suspirava em admiração.

RonanOnde histórias criam vida. Descubra agora