Marcia olhou para mim, sem entender o que realmente havia acontecido. Virei as costas para àquelas mulheres e saí. Não poderia trabalhar em um local onde as pessoas eram humilhadas, mas o pior ainda estava por vir.
Ao entrar no elevador, estava puta da vida, indignada por todas as coisas que aquela megera havia me dito, aquilo não tinha sido nem de longe uma entrevista de emprego. Ela estava despejando seu mal humor e frustrações nos candidatos à vaga.
Não havia percebido que o elevador estava subindo ao invés de descer, até parar e um homem lindo de morrer entrar nele.
Nunca tinha visto um homem tão belo assim, e se vestia muito bem, além de ser muito cheiroso. Seu perfume cítrico entrava em minhas narinas me inebriando. Ele tinha em média uns 34 a 35 anos, e tinha cara de quem era podre de rico.
- Hum, Hum - pigarreou ele.
- Sim?! - Olhava para ele embasbacada, até havia esquecido que estava uma fera e porque estava tão chateada.
- Estou perguntando se o elevador vai descer! - disse um pouco impaciente.
- Acho que desce. Pelo menos é o que eu espero.
- Você acha? Ou você tem certeza?
Me lembrei o motivo de estar indignada...tão rapido quanto a velocidade da luz.
- No momento a única certeza que eu eu tenho é que as pessoas dessa empresa são muito mal humoradas, mal educadas e grossas. Para uma empresa que trabalha com capital humano, vocês deveriam ser mais humanos e tratarem as pessoas como elas realmente são: humanas! Garanto que todos trabalhariam melhor e mais felizes.
De repente, sentimos um tranco no elevador, e mais outro, no susto, segurei firme em seu braço. Morria de medo de elevadores, principalmente quando ele estava prestes a despencar.
Então, todas as luzes se apagaram e ficamos no escuro. Odiava ficar em lugares fechados pois estes me lembravam quando meu pai após me espancar me trancava no quartinho no fundo da casa, era um cubículo apertado e pequeno onde deveriam ser guardadas as ferramentas, mas que ele usava para me amendrontar. E conseguia.
- Calma moça, deve ter sido uma queda de energia, o pessoal da manutenção está fazendo a troca dos geradores essa semana. Vou fazer a chamada de emergência. - disse, pegando o telefone do elevador, usado para casos como esse.
- Alô, alô... droga, está mudo também.
Apertei mais ainda seu braço, sentido seus músculos se contraírem. Estava petrificada de medo e comecei a suar frio.
- Mas o que? Você está suando! Diga alguma coisa, o elevador não vai cair, estou aqui, disse. Vamos tire esse blazer, acho que teremos que ficar aqui por alguns minutos.
Devagar fui tirando o blazer, tirei também os grampos que prendiam meu cabelo, à luz do celular do homem que me fazia companhia pude notar que ele me encarava. Nossa, ele era um gato!
Alto, forte, barba por fazer, cabelos castanhos claros, olhos escuros e sedutor.
Alguns minutos se passaram, nossos celulares também não estavam tendo sinal, estava cansada, com medo e me senti tonta, o efeito da claustrofobia estava começando a me pegar em cheio.
- Acho que vou me sentar um pouquinho, me sinto tonta!
Ao dizer isso, comecei a cair em desmaio. Então senti mãos fortes me segurando e de longe pude ouvir um palavrão.
Ao voltar em mim novamente pude observar que ainda estávamos presos, ele estava sem o terno e a gravata e sua blusa estava aberta até o terceiro botão, estava muito quente e ele olhava para mim com olhos curiosos e preocupados.
Estava com a cabeça apoiada em sua barriga e podia sentir seu cheiro inebriante perfeitamente, talvez ele não fosse tão mal educado assim.
Fui me levantar e ele colocou a mão em meu corpo para que eu permanecesse deitada.
- Pode ficar onde está mocinha, não temos previsão de quando sairemos daqui, os telefones estão sem sinal e acho que a queda de energia foi geral.
-Estamos presos aqui há quanto tempo? 15 minutos, meia hora?
- Estamos aqui há duas horas!
- Ah droga, já se foi meu turno da manhã enviando currículos, visto que depois de hoje, aquela bruxa deve ter riscado meu nome da agenda geral da empresa - disse o resmungo mais para mim do que para ele.
- De quem você se refere? A Regina?!
- Sim, essa mesmo, espero que ela consiga resolver seus problemas matrimoniais e resolva tratar as pessoas ao seu redor com mais educação. Se eu fosse contar meus problemas pra alguém ou se eu fosse descontar meus problemas em alguém, teria um chicote na mão para me vingar de tudo que passei!
Ignorando meu comentário e com um sorriso torto, perguntou:
- Para qual vaga estava concorrendo?
- Para assistente de um tal de Phillipe, mas já me disseram que o homem não é flor que se cheire, e que não é fácil trabalhar com ele, será que é pior do que a Regina, então deve ser o capeta em pessoa! Você o conhece?
- Hum, não sei, é capaz de conhecê-lo, mas na empresa existem muitas pessoas, então, possa ser que eu saiba quem é. - percebi que ele sorria com os olhos, mas não entendi porque ele estava rindo.
- Desculpe por isso, tenho problemas com ambientes fechados, me fazem lembrar de coisas que quero enterrar bem fundo do meu subconsciente.
-Creio que você não queira conversar sobre isso agora, então... Me conte quais são seus planos para o futuro - perguntou com ar curioso. - Você não se parece com essas mulheres fúteis que vemos por aqui- e seu sotaque é diferente. De qual estado você pertence?
- Então, resumindo a história trágica da minha vida, saí fugida da Bahia, porque meu pai me tinha como seu saco de pancada predileto, se eu não saísse de lá, poderia até morrer- disse, sabendo que não voltaria nunca mais naquela empresa - Não sou de São Paulo, vim da Bahia, pretendo ser uma advogada ou até uma juíza, semana que vem farei o Enen e pretendo estudar e me formar na USP, estudo muito para isso, mas primeiro preciso muito de um emprego. Mas já vou avisando, paulista tem a mania de dizer que nós baianos somos preguiçosos, é a mais pura mentira! - Sorri quando ele também sorriu.
- O quê? Seu pai lhe espancava e onde está sua mãe? Ou a polícia? Ou o conselho tutelar. Isso é revoltante, imaginar que um pai possa espancar a filha até a morte. - disse, completando: Meus pais morreram quando eu era muito jovem, fui criado pelo meu tio, um homem bondoso,que me amou e me ensinou tudo que sei hoje. E em relação à Bahia jamais diria isso! Amo a Bahia, as pessoas de lá são muito receptivas, e possui mulheres lindas! - disse a última frase olhando para mim. À propósito, ainda não fomos apresentados...
- Ah eh verdade, disse enrubescendo, e estendendo a mão para ele - Sandra Martins ao seu dispor, mas só quando sair desta droga de elevador!
Ele gargalhou... Me fazendo sorrir também.
- Pode me chamar de Yohensen, todos me chamam assim.- segurou minha mão, levando a boca e beijando-a.
Nessa hora, as luzes do elevador se acenderam, mostrando um cara lindo, e sedutor, ele estava com olhos extremamente verdes escuros quase pretos, suas pupilas estavam dilatadas pela escuridão em que ficamos, mas em seu rosto havia algo mais que não pude identificar o que era.
A mesma mão que ele me segurava, quando levantou, me ajudou sem nenhum esforço. Pelo contrário, sua força ao me puxar me fez cair em seus braços que me seguraram com extrema delicadeza mas com bastante firmeza, me fazendo olhar em seus olhos, devagar ele tirou uma mecha que estava em meu rosto e me beijou.
Fiquei vermelha como uma pimenta malagueta.
A porta do elevador abriu e pude sair. Me despedi dele e saí correndo de lá para a rua, deixando-o sem olhar pra trás.
Meu Deeeeeuuuuusssss! O que foi aquilo?
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AMOR PARA RECOMEÇAR (COMPLETO)
RomanceSandra, viveu sua infância e parte da adolescência em um lar abusivo, onde lhe faltava amor e carinho, sendo abusada pelos pais física e emocionalmente. Seus pais a odiavam por motivos que ela desconhecia. Mas para sobreviver a negligência deles...